Capítulo 23

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03 de março – Sexta-feira

As Seis Ilhas são divididas ao redor da Ilha Central, que são governadas por reis e rainhas, ou também por guardiões. Cada uma delas possui uma especialidade e um símbolo. A Central é a Base Militar e Tecnológica, tendo como símbolo os dois enormes e circulares prédios espelhados, que seus espelhos são, na verdade, placas fotovoltaicas, que transmitem energia para todas as Ilhas.

A tecnologia ali presente é incrível e quase impossível de ser descrita. Talvez até impossível de fazer com que acreditem em sua existência. É na Central que ocorre o treinamento de poderes e...

Estava lendo esse trecho do livro pela terceira – ou quarta – vez, no Vaticano, enquanto lanchava sozinha em um dia de sexta-feira.

Era assim que ficava na maior parte do tempo – sozinha e estudando – tanto para a escola quanto para a nossa Missão – quase – Impossível. Respirei fundo, prestando atenção a cada detalhe daquele mundo que eu conhecia muito pouco, todavia – mesmo assim –, parecia que tinha vivido lá desde a minha infância até a minha adolescência naquele lugar...

Imaginava todo aquele mundo enquanto lia sobre ele. E lia também para relembrar tanto do lugar quanto dos meus pais. Era incrível a sensação de ter certeza de que existia um lugar que eu pertencia. Não me sentia bem em Trinidad. Queria voltar para a minha casa, para o meu lar...

Peguei o copo com café e o aproximei da boca para dar um gole, só que o café havia acabado e eu precisava pegar mais. Suspirei, olhando para os lados, e fechei o livro. Guardei-o na bolsa e me levantei com o copo na mão. Quando rodeei a mesa, deparei-me com uma cena que não estava acostumada – mesmo vendo-a quase todos os dias.

Meu coração acelerou.

Era Jesse com sua nova namorada. Eles sorriam, como se fossem o casal mais feliz do mundo – o que, admito, me fez sentir uma pontada no peito –, e ela apertava seu braço de um jeito tão... tão irritante! Fiz uma careta. Em silêncio, observei-os se aproximarem da mesa dos meus amigos – se é que ainda podia chamá-los assim – e revirei os olhos.

Assistir àquela cena fez meu coração doer mais e mais. Apertei o copo com força, amassando-o, e joguei-o no lixo. Segui para a fila de um dos food trucks. Tudo havia mudado drasticamente, e isso era inacreditável. Preciso de mais café – era tudo que eu pensava no momento. Café, café, café.

Quando chegou a minha vez, pedi o que tanto precisava. Esperei um pouco para que a moça trouxesse meu copo médio com café quente, sorrindo, porque já era a terceira ou quarta vez que eu pedia café naquele mesmo dia, naquele mesmo food truck.

Voltei para a mesa, sentando-me sozinha e voltando a abrir o livro. Aquela era a mais nova rotina de Selena Houston, e era uma droga!

A Ilha Um é aquela que se encarrega da agricultura. Os seres que nela habitam cultivam e colhem. Seu símbolo é o jardim mais belo que qualquer criatura poderá ver, e é rodeado por um enorme castelo, onde muitos dos seus habitantes vivem...

Se eu conseguisse me concentrar por muito mais tempo sem ter de tomar um gole de café, já teria imaginado todo aquele mundo de qual eu mal recordava. Lembrava-me apenas da Ilha Dois – de onde me mandaram para Trinidad. Senti uma leve dor de cabeça, o que me fez suspirar e olhar para o céu.

Nesse momento, uma constelação chamou minha atenção. Somente eu podia vê-la e, talvez, minhas amigas. Não a reconheci de minhas anotações. Não a conhecia, todavia, ela parecia querer me guiar em alguma direção. Franzi o cenho, tanto confusa quanto curiosa. Que ela significa?

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