Capítulo 6

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19 de dezembro – Segunda-feira

O dia de irmos à caverna Melissani havia chegado. Tinha passado o dia com meus amigos e a tarde com Massie. Tentei agir o mais naturalmente possível. Jantei com minha família, sabendo que, em pouquíssimas horas, eu não estaria mais em casa. Nem estaria por perto, afinal, estava indo com minhas amigas para a Grécia.

Aproveitei ao máximo o momento do jantar em família. Ri das piadas do meu pai e fiquei feliz por ele quando soube que (mesmo não subindo para um cargo mais elevado do que o dele) recebeu um aumento. Massie já conhecia todas as piadinhas do papai, e Emily nos havia preparado espaguete e (como se soubesse que eu viajaria às escondidas) uma torta de maçã.

Nós nunca (ou quase nunca) comíamos sobremesa. Não porque não queríamos, é claro, no entanto, por Emily nunca preparar e porque precisávamos de dinheiro para arcar com energia, roupas e outras coisas além de ingredientes para sobremesas.

Aquela tinha sido mais uma típica noite na casa dos Salvatore. Depois do jantar, nos juntamos na sala e assistimos a um filme (De repente uma família) (muito bom, por sinal) (ri e chorei) que minha irmãzinha tinha pego emprestado com uma amiga. Assim que os créditos finais começaram a passar, falei que tomaria banho e me deitaria. Menti, fingindo estar cansada.

Subi até o meu quarto, peguei um pijama e tomei banho. Já sentada na cama, comecei a pensar na aventura que acontecia naquele dia e a me perguntar se, algum dia, poderíamos compartilhá-la com alguém, ao invés de ficarmos guardando segredo sobre aquilo tudo. Talvez, quando tudo tivesse acabado (ou talvez pudéssemos contar como se fosse uma história de ficção).

Me cobri com o edredom, sentindo calafrios. Sabia que não era por causa do frio, no entanto, por estar com medo. Parecia um sonho. Um sonho que começava a se tornar real. Infelizmente, se pudesse, preferiria deixá-lo na minha cabeça (ou apenas por escrito em algum lugar). Não queria ter que presenciar a "guerra", não queria ter que ver mortes ou lutar para salvar uma população. Não queria que ninguém dependesse de mim e das minhas habilidades.

Meu maior desejo era que nada daquilo estivesse acontecendo, que não tivesse sido uma das Escolhidas. Eu era igual à Selena nesse aspecto. Não gostávamos disso, dessa ideia de ter cauda ao invés de pernas. Continuaria com essa missão apenas para não decepcionar minhas amigas. Amy (por outro lado) deveria estar adorando tudo isso, assim como Kath...

Meus pensamentos foram interrompidos por uma batida à porta. Fitei-a, sabendo exatamente quem estava prestes a entrar no meu quarto. Emily fazia isso quando eu era mais nova: dormia somente depois de ter certeza de que sua filha estava bem. Não sabia por qual motivo ela tinha feito isso naquela noite, no entanto, não tive muito tempo para ficar pensando nisso.

Ela sorriu, se sentando na beira da cama e me tocando no braço. Sentia falta dela fazendo isso e, assim que senti seu toque, tive vontade de chorar. Não podia fazer isso, porque ela me perguntaria o motivo, e eu não poderia responder. Pelo menos, não a verdade. Teria que mentir para minha mãe.

Respirei fundo, mordendo o lábio e conseguindo conter as lágrimas.

– Aconteceu alguma coisa, querida? – perguntou com os olhos fixos nos meus. Tinha me esquecido de que ela era uma boa observadora, e que, portanto, poderia perceber minha mudança naquela noite (ou talvez por eu ter subido antes de ter feito qualquer comentário sobre o filme). – Está preocupada ou ansiosa com algo?

– Não, n-não, mãe – tentei parecer o mais indiferente possível, no entanto, gaguejei e a deixei mais desconfiada. Emily franziu as sobrancelhas; o olhar preocupado. – É a-apenas que... S-Sabe que Amy ainda não r-recebeu a carta de aceitação da e-escola, e ela está m-muitíssimo preocupada. Não quer que os pais tenham que pagar as m-mensalidades dela e do irmão.

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