Capítulo 11

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07 de janeiro – Sábado

Estava no meu quarto estilo vitoriano, só que não era o de Trinidad. Sentava-me na beira da cama, olhando para o espelho na parede à minha frente. Vestia uma camisola de seda, azul. E – o mais importante – era uma criança de cinco anos.

Sabia que estava tarde, todavia, ansiava ver meus pais. Decidi, então, vestir um roupão e procurá-los. Quando saí para o longo corredor, olhei para os lados para ter certeza de que estava sozinha e de que ninguém perceberia que eu havia fugido ao encontro dos meus pais. Voltaria – é claro – assim que passasse mais tempo com eles. Apesar do frio na barriga, continuei andando sobre o tapete vermelho do Castelo.

Chegando à escadaria que dava para o Salão Principal, ouvi vozes um pouco mais altas. Engoli em seco, hesitando em continuar. Como passaria por todas aquelas pessoas – já que eram várias vozes – sem que elas percebessem? Isso seria praticamente impossível.

Comecei a descer os degraus o mais cautelosamente possível, tentando não fazer nenhum ruído. Meu coração disparou. Levei as mãos à boca aberta. Meus olhos se encheram de lágrimas, arregalados.

Não! Não pode ser verdade! – gritava em pensamentos.

Havia centauros – metade homens, metade cavalos –, harpias – aves com rosto de mulher e seios –, ninfas, sátiros – metade homens, metade bodes – e vários outros seres da Mitologia. Eles estavam ao redor de uma enorme mesa oval, discutindo.

Perto deles, havia um caixão. Aberto. Era por causa disso que eu estava chorando silenciosamente. Meus ombros tremiam. Lá dentro se encontrava uma das pessoas mais importantes da minha vida – meu pai. Não conseguia acreditar no que estava vendo. Ele não pode estar morto! Não pode!

Com as mãos trêmulas – pousadas no corrimão da escada – e as pernas bambas, agachei-me, soluçando e chorando baixinho. Ninguém poderia saber que eu estava ali...

Preciso ver meu irmão. Onde está Jaysen?

Queria conseguir me levantar e seguir para o meu quarto, todavia, não me sentia capaz de fazer nada além de ficar ali, observando meu pai. Morto.

– Que devemos fazer, afinal? – questionou um dos centauros, olhando para uma das harpias. Ele parecia velho. E sábio. – Se quisermos ter alguma chance de salvar o nosso mundo, no futuro, Sirena e Jaysen não podem mais continuar aqui. Precisam partir imediatamente, por perdido de Marine.

Marine... Um nó se formou na minha garganta. Minha mãe.

– Isso é um absurdo! Como as crianças irão voltar? – retrucou a harpia azul que acabara de irromper no cômodo, voando. Todos se voltaram na sua direção. – Posso ser a Guardiã deles, mas isso não me permite viver em outro mundo. O poder da névoa não é assim tão simples, e não dura muito tempo. Acho que talvez dure uns cinco meses, talvez menos. Eles necessitam ficar longe daqui por anos!

– Ah, querida! – manifestou-se uma das ninfas com um breve sorriso. – Pelo visto, você se esqueceu da Grande Profecia! Saiba, então, que uma profecia não pode ser quebrada e sempre, sempre, é cumprida, nem que demore anos e anos. Sirena e Jaysen retornarão de um jeito ou de outro. Não podemos permitir que continuem aqui. Precisam ir embora, porque a Guerra está chegando aqui... Concordo com Marine. Eles precisam ir.

– Que Grande Profecia? – indagou um dos sáticos, como se tivesse começado a prestar atenção naquela discussão somente naquele momento. Franziu o cenho. – Já foi escolhida e anunciada a nova Profecia?

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