Capítulo 15

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27 de janeiro – Sexta-feira

Estava no mundo das sereias – em frente ao Portal da Árvore. Era como se o dia fosse o mesmo em que me tiraram de lá, e não somente isso... eu não tinha quinze anos, tinha cinco, exatamente da outra vez em que estive lá. Vestia a esma camisa azul, de seda. Engoli em seco e olhei ao meu redor. Não havia ninguém.

Era início da Guerra – pelo menos, na Ilha do Castelo Branco –, e as criaturas que viviam ali deveriam estar tentando se esconder ao máximo, eu acho. Não via tudo com nitidez, pois era como se eu – a verdadeira Selena, a de quinze anos – não estivesse inteiramente ali. Havia, em todo aquele silêncio, uma sensação desagradável no ar.

Lembrei-me da minha mãe. Ela estava no mar no dia em que parti, como sempre, portanto, deveria estar lá agora, já que era o mesmo dia em que eu tinha ido embora, só que estava acontecendo uma maneira diferente. Pensava e caminhava na direção do mar à procura da mulher, ou sereia, que tinha me dado à luz.

Sentia a forte presença de Marine. Andei, andei e andei pela floresta, todavia – depois de todo esse tempo –, não havia encontrado nenhum resquício de mar, nem mesmo da areia da praia. Então, decidi subir em uma árvore. Devagar, apoiando-me nos galhos grossos, fui subindo cada vez mais. Meus braços queimavam e minha respiração estava ofegante.

Quando cheguei a certo ponto, sentei-me em um dos galhos e observei aquele mundo maravilhoso, que me foi tirado naquele mesmo dia – só que na realidade. Aquilo não passava de um sonho. Um sonho que se tornou pesadelo!

Olhei para as árvores e para a floresta. Consegui ver o Castelo Branco lá no alto da colina, e o mar também, quase no extremo oposto. Eu estava entre esses dois pontos. Se continuasse andando, ou correndo, só demoraria um pouco para chegar à praia. Sorri, pois veria minha mãe de novo.

Descansei por um instante, respirando fundo e notando uma mudança repentina no tempo. Era como se uma tempestade estivesse a caminho. Não demoraria a chover. Mesmo um pouco preocupada com a chegada da chuva, não conseguia parar de sorrir ao saber que teria a possibilidade de ver Marine.

Desci com cautela e andei, sempre em frente. Ouvia – vez por outra – ruído de animais andando entre as árvores, galhos e folhas. Vi um esquilo e, depois, algumas ninfas e sátiros correndo, aparentemente, aflitos, os olhos arregalados.

Não ousei chamar a atenção deles. Afinal, não adiantaria nem tentar falar com eles, pois estavam distantes de mim, e eles poderiam tentar me levar para o Portal mais uma vez, sem minha mãe. Comecei, então, a correr. Sentia-me tão livre e alegre, o vento batendo contra o meu rosto.

Vou vê-la de novo! – isso era tudo que eu conseguia pensar.

Com os pés descalços, pude sentir a diferença de onde estava pisando. Antes, era grama e terra; agora, areia. Parei com a respiração ofegante, todavia, o sorriso não saía do meu rosto. A felicidade e a animação eram tão grandes que a dor nas pernas – de tanto correr – e o cansaço não me incomodaram nem um pouco.

Ergui o rosto na direção da água, esperançosa. Nesse instante, ouvi gritos quase que exatamente na minha frente. Minha mãe estava na água, tentando se livrar de dois Telquines, os monstros que – provavelmente – traziam aquela tempestade.

Eles a agarraram com as mãos – ou garras –, imunes aos poderes de Marine. Possuíam nadadeiras e cabeça de cão. Ela poderia lutar e se espernear, até mesmo usar seus poderes, todavia, dos braços – quer dizer, garras – deles, ela não sairia. Observei que, mesmo se ela se soltasse, outros cinco Telquines esperavam para prendê-la. Lágrimas escorreram por minha face enquanto observava aquela cena.

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