Passado

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Dener 

A olho sair silenciosamente, me debruço sobre a mesa, minha mente não parava de pensar nas palavras ditas por meu pai momentos atrás. As palavras pesaram como uma  avalanche de emoções, ódio, raiva, tristeza, angustia e até mesmo o medo me tomou.
Estou sozinho em minha sala, uma caixa grande e vazia, tudo o que eu queria é que em vez da sala vazia, fosse minha mente. 

Ergo a cabeça e sem pensar expresso minha raiva com um soco sobre os papéis a minha frente, dou um grito forte de dor. Pego meu celular e ligo para Dr. Augusto, medico que me operou quando ainda era criança. 

- Dr.Augusto, pode falar? - digo ao telefone.

- Dener, claro sempre. Aconteceu algo filho? - pergunta. 

- Sim, as dores voltaram, só que mais intensas. - digo levantando e olhando para a grande janela. - Preciso te ver!

- Consegue chegar  agora no meu consultório? - pergunta. Ouso uns barulhos no fundo da ligação. 

- Esta no hospital? 

- Sim! venha o mais rápido por favor.- diz . 

- Estou indo. - digo pegando minha carteira e finalizo. 

Tu.tu.tu...

Saio depressa, nenhum sinal da Alice, vejo a hora e pelo horário ela devia estar almoçando. Pego o elevador e caminho até a saída, o motorista entrega meu carro e logo vou ao hospital. O celular toca, não atendo, minha cabeça dói muito e não consigo nem  abrir os olhos direito por causa da dor que a luz do sol me causa. 

Chego ao Hospital, estaciono o mais rápido possível e sigo até a recepção,  sou recebido pela recepcionista que me leva ao consultório. 

- Com licença Doutor, o senhor Parker está aqui. - diz.

- Por favor que entre!- diz ele. 

- Boa tarde! - digo estendendo a mão para cumprimenta-lo. 

- Boa tarde filho, sente-se na maca por favor. - diz se levantando e me apoiando na cama. - Me conte, está sentindo dor agora ? - pergunta. 

- Sim, muita. - ele olha, acende a lanterninha nos meus olhos, o que me causa ainda mais dor. Franzo o cenho. - Augusto para por favor.- digo e ele logo desliga. - Por que elas voltaram? - pergunto de olhos fechados.

- Preciso fazer alguns exames Dener. - diz voltando para sua mesa. - Desde quando voltou? 

- Há algumas semanas.

- E porque não me procurou no primeiro resquício de dor? - diz e me olha- Dener, seu caso é serio, e vi no seu histórico que faz um tempo que não passa em consulta. - me repreende, volto a olhar para ele. 

- Augusto, tanta coisa aconteceu que... - paro um momento. - ... não importa, porra você disse que elas não iram voltar mais! - digo impaciente e fecho novamente os olhos.

- Não jogue a responsabilidade em mim Dener, meu papel é cuidar da sua saúde e dar as instruções para isso, além disso você não é mais criança, já é homem feito até onde eu sei. - diz. 

Permaneço em silencio, ouso a impressora fazer uns barulhos e Augusto pegar os papeis que saem dela. 

- Receitei uns analgésicos para aliviar sua dor. Tome todos os comprimidos nos horários certo Dener! - diz vindo em minha direção. - Abra os olhos! esta tendo os pesadelos? - pergunta. 

- Sim! - afirmo.

- Imaginei, vou te indicar um psiquiatra. 

- Não vou ficar contando minha vida pra qualquer pessoa Augusto, sem chance! - me levanto do leito. 

- Você quem sabe, não sou eu que sinto suas dores. - diz voltando sua atenção ao computador. 

- Quem é ele? - pergunto impaciente. 

- É ela, uma profissional muito capacitada para esse tipo de transtorno. 

- Tô louco então? - pergunto ironicamente. 

- Não, mais se não comparecer as consultas, ficará! - diz

- Obrigado! 

- Entregue esse papel para as enfermeiras, vão aplicar esse medicamento em sua veia, ele ira aliviar sua dor por hora, então não deixe de comprar o remédio. - diz 

Assenti com a cabeça, agradeço o Doutor, fecho a porta atrás de mim, e vou á procura da enfermeira. Passei alguns minutos esperando para tomar medicação e sinto meu celular tocar. Pego e vejo que é Matt. 

-Dener, como esta irmão?

- Estou bem! esta em casa? 

- Não, estou em uma loja com a Cecilia escolhendo um vestido pra ela. Dener eu sei que não esta bem, mas cara porque provoca o Steven desse jeito?

- Caralho Matt! - grito, as enfermeiras me olham com repreensão pelo barulho inesperado. - eu não fiz absolutamente nada. - sussurro.- ele veio falando da mãe, você viu o que ele disse, a vontade dele era de ter matado ela, e não foi só eu que ouvi isso. Então por favor não vem falando como se o pai fosse inocente. 

- Desculpa cara, serio, eu amo a mãe e o pai e meu desejo é que estivéssemos todos juntos hoje. - ele suspira. - mais vida que segue Dener, somos adultos agora, e o amor que eu precisava, encontrei em Cecilia. 

- Fico feliz por você Matt mas, você tem uma boca enorme porra! Ele veio falar que você disse que eu estava interessando numa mulher. - falo e percebo uma risada no fundo. - Tem mais alguém ouvindo nossa conversa? 

- Cecilia! - afirma. - olha Dener, me desculpa, eu estava conversando com Cecilia sobre sua cara de bobo olhando pra Alice, ai o Steven escutou, perguntou quem era Alice e saiu. 

- hum. - murmuro. 

- Por falar em Alice, Cecilia á convidou, converse com ela, chega junto e afasta o Max dela, esquece o papai e a opinião dele. - diz.

- Não quero nada com ela Matt, depois de hoje ela nem vai me querer por perto. - digo, ouso chamarem meu nome para medicação. - Tenho que desligar. 

- Espere... 

tu.tu.tu..

Desligo o celular de pressa interrompendo Matt. Assim que tomo a medicação caminho até o carro indo direto para casa me preparar, no caminho percebo que a dor havia aliviado e me sinto melhor. Assim que chego, noto uma movimentação que não vejo dia a dia, os empregados agitados levando e trazendo bandejas e enfeites, um desespero e uma correria agoniante. Enquanto vou em direção a escada, ouso Miranda me chamar.

- Dener, o Sr. Steven pediu que você compareça há biblioteca. - diz.

- sim! Obrigado Miranda.- digo e ela assente com a cabeça continuando seu trabalho.

Sigo pelo corredor até a grande porta da biblioteca. Entro em silêncio caminhando até a poltrona no centro da sala, onde meu pai está sentado com um livro na mão. Fico parado com os braços cruzados em sua frente. Com os olhos fitos no livro ele diz.

- Quando você nasceu, você olhou com esses olhos azuis para mim e chorou, chorou muito. Eu tentei te acalmar a todo custo mais você resistiu ao meu colo. - diz fechando o livro. Nos olhamos por um tempo até ele interromper o silêncio. -  Naquele momento eu  sabia que você seria como eu, resistente e teimoso. Quando você foi crescendo sua mãe sempre dizia " você é genioso igual seu pai", " tinha que ser filho do Steven" e outras coisas. - Expressou um sorriso de canto ao lembrar do passado.- Eu sabia que grande parte de mim tinha ficado em você. Eu me vejo em você Dener, tem coragem, tem resiliência, você só não tem sorte.

- Sorte ? - pergunto.

- Sim. - ele levanta e diz - Não tem sorte de enfrentar alguém que é igual a você! - dá um tapinha no meu ombro e se retira da biblioteca.

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Por favor leitores, comentem o que estão achando da historia. 

Isso me ajuda e trazer sempre emoção na escrita. 

Não esqueçam da estrelinha. 








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