Confissão

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Samantha

A água cai sobre meus cabelos, sinto minha alma ser lavada e o peso ser arrancado de mim. A noite conturbada e triste de hoje me deixou abalada, e tudo por culpa minha.
Minha mente não descansa em saber como Alice está, e meu coração aperta com o medo. Saio do banho, enrolada na toalha me olho no espelho e meu reflexo triste e pálido me dão náuseas, a falta de maquiagem faz isso comigo, ser um monstro. No guarda-roupas, escolho algo confortável para vestir. Assim que termino desço para ver meu pai que ainda prepara bolinhos de carne, e resolvo ajuda-lo. Arregaço as mangas e mão na massa.

Adoro ficar com meu pai, tenho muito orgulho dele, lembro de quando eu era criança, e ele me ensinava a cozinhar. Vivíamos momentos incríveis na cozinha, eu coberta de farinha e ele de ovos, sinto uma saudade boa da infância. Tudo era divertido e legal em casa, passávamos a maior parte do tempo juntos, mais com o tempo isso mudou, e essa mudança causou não só em mim, mais em meu pai também uma dor enorme, tenho certeza.

- Você está melhor meu amor? – pergunta ele me olhando com olhar de ternura.

- Não sei ao certo pai, mais não se preocupe, vai passar. – Digo confiante. – Como foi sua viagem de volta?

- Foi tranquila, no caminho passei no hospital para resolver alguns problemas. -diz.

- Algo sério? – pergunto, tento desprender as massas entre meus dedos.

- Espere, deixe eu te ajudar. – Estica uma colher e raspa na palma da minha mão. – Então filha, nada muito sério. Infelizmente o quadro de um paciente piorou, e precisei ir vê-lo, mas nada que uma cirurgia não resolva. – diz enrolando um bolinho. Ao falar desse paciente, me lembro do pai de Alice, e do segredo que ele e tia Anne mantiveram. Minha curiosidade aumenta e logo quebro o silencio.

- Pai! E a tia Anne? – pergunto.

- O que tem ela? – me olha desconfiado com a pergunta.

- Por que ela disse que matou o pai da Alice, e do que Alice não a perdoaria? – reparo nos olhos do meu pai, e eles vem em minha direção. Ele coloca as duas mãos sobre o balcão e respira por alguns momentos. Abaixo minha cabeça com receio de sua resposta.

- Filha esse assunto é muto delicado. – Ele da a volta no balcão e me conduz até a sala de estar. Me sento no sofá e ele se senta na mesinha de centro. Ele segura minhas mãos, sinto uma tensão no ar.

- Diga papai, por que esse suspense todo. – digo impaciente.

- Samantha, o que vou te contar é algo que não me orgulho de ter feito, porém me orgulho de ter tido você. – diz segurando mais forte minhas mãos. – Sam há muito tempo atrás, sua mãe e eu passamos por um momento difícil aqui em casa. Nós dois estávamos estressados e tristes um com o outro...

- Tá. Mais o que isso tem haver com a tia Anne? – interrompo.

- Samantha, eu trai a sua mãe! – ele olha nos meus olhos. – Com a Anne! – completa.

- O quê? – pergunto desacreditando no que meus ouvidos acabaram de ouvir.

Sinto meu corpo tremer, e a adrenalina percorre-lo com muita intensidade. Meu pai conta os detalhes e cada palavra que sai de seus lábios me vem com um peso enorme. Eu choro, não suportando o fardo da culpa de ter feito Alice sofrer, depois de tudo o que descobri nesta conversa. Imagens da infância que tive com ela, passa pela minha mente me fazendo lembrar de cada momento de alegria e de tristeza, tudo se liga aos fatos, éramos ligadas desde pequenas e agora sei o motivo.

- Eu não quero mas ouvir, por favor pare! – grito para meu pai que não se mostra surpreso com minha atitude. Me levando e corro para meu quarto como uma adolescente revoltada.

Me jogo na cama e cubro minha cabeça com o travesseiro tentando afastar os pensamentos que tanto me perturbam. Sinto meu corpo pesar, e as lagrimas molharem os travesseiros. Por toda minha vida vivi uma mentira, do meu próprio pai, alguém que eu amava. Tudo o que eu queria era que aquela noite não estivesse acontecendo e tudo fosse um pesadelo, e que quando eu acordasse nada disso seria verdade. Me belisco na tentativa de aliviar a dor que sinto da alma, mas é inútil. A vida é inútil, minha vida é inútil. Eu poderia ter vivido ao lado de uma família feliz, mas foi tirado isso de mim. Tudo foi tirado de mim, viveram minha vida, e não me deram escolha.

Duas horas depois...

O quarto está escuro e a única luz que reflete a parede é a luz da rua que entra sobre a brecha da janela. Meus olhos pesam e já não existe mais lágrimas para ser derramadas, meu corpo esta jogado na cama e o sono começa a me arrebatar. Meu corpo pesa e por alguns minutos já não vejo mais nada.  

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O que será que Augusto confessou para Samantha?

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