• Kiara narrando
Fui pra varanda da minha casa com o JJ. E começamos a conversar, enquanto a gente fumava.
- Tudo parece igual - digo - A galera, a ilha, os cokkie's, os pogues... Tudo.
- Isso é ruim? - JJ perguntou confuso.
- Não. Isso é ótimo. Ainda é minha casa. Sabe? Me sinto completamente em casa quando estou aqui, eu não sinto vontade nenhuma de voltar pra Seafood Island. Poderia passar o resto da vida aqui em Outer Banks, eu iria adorar.
- Então fica.
- Não posso, a Anna nunca aceitaria.
- A Anna não tem que aceitar nada. Kie, ano que vem você fará dezoito anos e você sabe muito bem o que quer fazer da sua vida. Não viva pelos outros. Viva por você, faça o que tiver vontade, não perca tempo.
- É complicado...
- Eu sei. Eu sinceramente só queria virar Cokkie. Aquela galera leva a vida numa boa porque os pais já são ricos o suficiente pra família toda. Moleque de dezessete anos Cokkie não tá nem pensando em como será a vida daqui à um ano, cinco anos.
- Você pensa?
- Não parece, mas eu penso. Pouco, mas eu penso.
- Não vamos falar do futuro daqui à cinco anos... Vamos falar do presente, passado próximo.
- Isso. Sabe que eu não menti quando eu disse que te amo e que quero te beijar. Não sabe?
- JJ, você para. Eu tenho namorado.
- Namorado esse que está à uma ilha de distância.
- Mesmo assim. Não posso trair a confiança dele.
- Não pode?
- Não quero. E aquele papo da amizade?
- Puts...Foi pro ralo no momento em que eu passei por essa porta, minutos atrás.
- Não foi, nada. Amizade aqui e só.
- Amizade...
- Isso.
- Colorida - diz ele sorrindo, mas eu o reprovei com os olhos e ele parou de sorrir.
Ainda bem que depois disso não houve um clima tenso entre nós. Na nossa "amizade" não existe isso.
- Bom, eu fiquei sabendo que amanhã vai ter uma festa na praia, com Cokkie's e Pogues. Tá afim de ir? - ele perguntou.
- Claro - digo - A galera também vai ?
- John B e Pope disseram que vão sim, só não sei as meninas. Mas se por acaso elas não forem, por favor vai por mim.
- Vou por você, pelo Pope, pelo John B.
- Já é um começo.
- A gente falou sobre a minha vida amorosa, mas não é falou da sua. Agora eu quero saber.
- Não tem o que falar.
- Como não ? Um ano atrás existia uma garota obcecada por você. A Liz, e por falar nela...Ela te procurou depois que fui embora? Assim, perguntando numa boa.
- Procurou, mas eu não dei moral à ela.
- Ah. Qual é? Vai me dizer que não pegou ninguém em um ano?
- Fiquei com umas meninas, mas não aprofundamos a relação. Não cheguei a namorar nenhuma delas.
- E por que?
- Porque...Porque não era pra ser, não existia...
Como posso explicar? Sabe quando você fica com alguém, mas não sente borboletas no estômago, não sente vontade de passar o tempo todo com a pessoa, não pensa nela ao ir dormir, não pensa nela ao acordar, porque seu coração e sua mente está em outro alguém? Então, era exatamente assim.
- Eu sei o que é isso...
- Já se sentiu assim? Quando estava com o seu namorado.
- Já. Muitas vezes.
- Olha, eu vou falar um negócio pro John B, que eu tinha que ter falado ontem e ...
- Tá mudando o assunto pra eu não me sentir desconfortável outra vez?
- Bom, é que não quero criar um clima estranho na nossa amizade falando sobre relacionamentos e tal.
- Entendi, e eu gostei disso da sua parte - digo, com um sorriso de canto - Mas já que o assunto do John B era uma mentira pra eu não me sentir desconfortável... Fica aqui pra gente continuar conversando.
- Claro.
- Acho que deveríamos sair mais juntos, eu e você. Igual antes... Bom, não exatamente igual porque agora você é meu ex e... Você entendeu.
- Entendi. Sair juntos, como amigos. Só você e eu.
- Exatamente.
- Adorei a ideia. E quando?
- Amanhã. Tá livre?
- Estou. Amanhã 13:00.
- Beleza.
- Kie, acho que já vou pra casa. Tá tarde. São 02:00 da manhã.
- Ai, por que? Fica aqui, as meninas vão dormir aqui, já aproveito e falo para os meninos ficarem também.
- Tem certeza? Não vou incomodar você?
- Você nunca me incomoda, JJ. Vamos entrar.
- Vamos.
- Galera, eu... - tento dizer algo ao abrir a porta da frente.
- Shiii - John B me interrompeu - A Sarinha está dormindo.
- Desculpa - sussurrei - Querem dormir aqui meninos?
- Não vamos incomodar? - perguntou John B.
- Claro que não né - falei - Podem ficar.
- Não posso, tenho que ajudar meu pai com umas entregas amanhã - diz Pope.
- Ah, queria que tu ficasse com a gente - digo.
- Na próxima - diz ele - Tchau gente. Cléo...
- Até amanhã - ela falou depois de beijá-lo - Amo você.
- Te amo também - ele falou, em seguida nos despedimos dele.
- Gente, tô morrendo de sono - digo - Vou dormir. Boa noite.
- Pode ir, a gente se ajeita por aqui mesmo - diz John B - Boa noite.
- JJ, vem aqui. Quero que veja uma coisa.
- Tá bom.
Subimos para o meu quarto e peguei uma caixa com algumas coisas minhas da viagem.
- Eu nem ia te mostrar isso, mas... Tá aqui - digo e entreguei a ele uma caixinha com várias cartas - Escrevi tudo ao decorrer do ano, mas nunca às enviei para o remetente, você.
- Porque nunca me enviou?
- Eu não sei... Mas achei melhor te entregar. Leia amanhã, na sua casa.
- Obrigado - ele agradeceu e sorriu - Posso ler uma agora?
- Não mesmo. Amanhã você lê. Eu sei que isso é brega, mas eu precisava escrevê-las, era como se eu estivesse contando as coisas pra você.
- Brega? Eu nem li ainda e já adorei o fato que você pensava em mim em Seafood Island, que escrevia cartas pra mim. Eu nunca nem recebi uma carta na minha vida. São de amor?
Concordei com a cabeça.
- Tchau, Kie. Amanhã eu volto.
- Onde você vai?
- Pra casa, ler essas cartas a noite toda... Brincadeira, não vou embora agora. Mas saiba que eu adorei saber que você pensava em mim quando não estava aqui. Eu não te esqueci um único dia sequer.
Sorrimos um para o outro.
- Tá bom, pode ler uma das cartas. Quero ver sua expressão enquanto lê uma delas.
- Vou ler a mais recente.
- Pqp. Tá brincando? Logo essa? - digo sem grosseria.
- Por que? O que tem aqui? Agora que eu fiquei curioso.
- Foi a que eu escrevi no meu último dia em Seafood Island.
- Bom, vou ler agora
Seafood Island, 30 de novembro, 2021
Querido, JJ
Meu último dia em Seafood Island antes de passar umas férias em Outer Banks.
Estou mais animada pra te ver do que pra qualquer outra coisa que eu possa fazer e ver em Outer Banks. Juro, a saudade aperta aqui à um ano, quando me despedi de você no mangue.
Por que eu estou com um certo receio de ir te ver? Será que é porque eu tenho medo do que vou sentir? Com certeza eu vou sentir vontade de te beijar de novo. A saudade do teu beijo é visita frequente.
Eu não deveria me sentir assim, eu tenho namorado e, infelizmente não é você.
Nunca te esqueci completamente, eu ainda te amo com todo o meu coração.
O dia aqui foi bem tranquilo, passei com os meus amigos e com a minha prima. Não consegui não pensar em você e nos pogues.
Com amor, Kiara- Você disse que sente saudade do meu beijo?
- Isso faz tempo, tá bom.
- Não faz, não tem nem um mês que você escreveu essa carta. 30 de novembro.
Revirei os olhos com um sorriso de canto.
- Nunca me esqueceu completamente, ainda me ama com todo o seu coração. Kiara, por que não me falou isso antes? - ele perguntou.
- Porque eu não queria que você soubesse que eu ainda sou...
- O que?
- Que eu ainda sou apaixonada por você.
- Kiara, eu sou apaixonado por você desde os meus 12 anos de idade. Esse seu sentimento é recíproco. Sabe quando tempo demora pra amar alguém e ser correspondido?
- Muito tempo.
- Eu te amo, muito mesmo.
- Eu te amo. E se me ama como diz, porque não está me beijando agora mesmo? - perguntei sorrindo e ele me beijou, e foi muito bom.
- Kiara, eu... - diz Sarah, que abriu a porta do meu quarto com cara de quem acabou de acordar, viu o meu beijo com o JJ e sorriu - Eu sabia, eu sabia que isso iria acontecer.
- Sarah! Shiu.
- Ai, foi mal. Vou deixar vocês sozinhos - diz ela e fechou a porta em seguida, do outro lado da porta começou a cantar - É o amor!
- Cala a boca, Sarah - falei e voltei para o JJ - Não liga pra ela.
- Ah, qual é? Eu conheço a Sarah.
- Ela vai contar pra galera, certeza.
- E isso é ruim?
- Bom, acho que isso pode prejudicar a gente.
- Prejudicar a gente?
- É. Você sabe, eu ainda namoro outra pessoa, a galera não vai entender que não estamos juntos.
- Kiara, e tudo o que a gente acabou de falar um para o outro? É inválido? Porque eu não menti em momento algum.
- Não é inválido, JJ.
- Eu só quero entender o "prejudicar a gente".
- Olha eu não quis dizer isso tá. Isso tudo está muito confuso pra mim ainda, não tem nem um mês que eu voltei pra Outer Banks.
- Confuso? Não entendo. Eu já deixei claro o que eu sinto por você. Não entendo essa "confusão".
- JJ, não transforme isso em uma discussão.
- Não estou transformando nada em discussão, eu só quero te entender.
- Eu ainda estou tentando ME entender, organizar os MEUS pensamentos. Isso tudo veio em um turbilhão de sentimentos e pensamentos que ainda estou tentando lidar.
- Bom, eu acho que se você deixasse acontecer e não negasse nada nem pra mim, nem pra ninguém ficaria mais fácil.
- Eu preciso de uns dias pra me organizar, colocar os pensamentos em ordem. Você precisa entender isso.
- Espera, entendo que isso tudo é novo pra você, você acabou de voltar. Não quero te pressionar em nada.
- Não tem como eu te dizer o que eu vou ou não fazer. Em um momento eu penso assim, outra hora penso de uma forma diferente. Só te digo uma coisa, eu preciso de um tempo pra decidir o que vou fazer.
- Claro, me desculpa por isso.
- Tá tudo bem.
Deitei na minha cama, eu precisava descansar. Mas eu não queria que o JJ fosse embora, ou que ficasse na sala com a galera, queria ele comigo.
- Quer que eu desça? Ou vá embora?
- Não. Quero que você fique aqui, comigo.
Ele deitou ao meu lado da minha cama.
- Por que a vida faz isso com a gente? - ele perguntou - Por que não podemos ficar juntos? Porque sempre tem algo ou alguém pra separar a gente?
- A vida é cheia de injustiças e isso faz com que a gente se sinta perdido, confuso, entre outros.
- Sabe que, com aqueles meu problemas do passado eu ficava mal, mas saber que no fim do dia eu iria te encontrar, e você com essa sua alegria contagiante, no momento em que eu te visse sorrir o meu dia melhoraria 100%.
- Gosto de saber que sou " a cura para todos os seus dias ruins " - digo brincando.
- Por que disse isso em tom de brincadeira? Você é a cura pra todos os meus dias ruins.
Eu sorri e ele sorriu de volta.
- Agora é sério, eu preciso mesmo ir. Por mais que eu queira ficar - ele falou.
- Por que tem que ir embora?
- São 01:30 da manhã.
- Dorme aqui ué.
- Certeza?
- Absoluta.
Depois disso ficamos conversando bastante, acho que só fomos dormir umas 03:00 da manhã.
Por mais que eu estivesse cansada eu senti vontade de conversar com o JJ a noite inteira, o tempo voou.
Pegamos no sono no meu quarto mesmo.