capítulo XV_A biblioteca

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Fomos, então, em busca dos materiais, e como disse anteriormente, essa cidade tem uma grande variedade de produtos. De forma, que conseguimos a maioria, apenas em uma única rua, exceto claro, o demônio. Até porque, não existem vendas de demônios no mercado legalizado, e mesmo nós mercados sombrios é difícil achar um que esteja inteiro, sem contar com o preço exorbitante. Esse espécime terá de ser coletado pessoalmente. Mas Day já estava pensando nessa parte, ela levou seu pequeno arsenal para amolar e reparos, o que inclui um machado, uma espada enorme, duas médias, uma besta, uma pistola e a adaga que ganhou de um certo caçador de recompensas. É incrível pensar que ela anda por aí com tudo isso, mas parece estar sempre tão leve, ainda me surpreendo com tamanha força passiva.


E, claro, não podia faltar, o material de pesquisa, sei que nem todos apreciam um bom livro, mas é imprescindível para o serviço. Um pequeno empecilho, é que, os mesmos foram banidos quase junto aos objetos sobre os quais falam, resumindo, não se acha em bibliotecas públicas ou acadêmicas, apenas em poucas coleções particulares e museus de exposição. Confesso que eu mesmo tenho minha própria coleção de livros proibidos, alguns roubados, outros copiados, diretamente de antigos serviços, mesmo assim não tenho o que precisamos.

Por sorte, conheço um feitiço para localizar livros, sei que parece estranho e específico, mas todo mago com uma biblioteca sabe sobre esse feitiço, ele mostra todos os exemplares do livro e onde se encontram. Foi criado inicialmente para achar livros em uma biblioteca, mas com alguns ajustes, não importa se está selado por magia, em um cofre do outro lado do reino, ele o encontrará. "Como isso é possível?" Você deve se perguntar, e a resposta é quase simples, todas as palavras escritas em um livro tem um traço de magia, se não do escritor do mago responsável pelas suas cópias, palavras iguais magia semelhante, palavras diferentes magia distinta, simples assim.

A única coisa que preciso para a execução é o nome do livro, ou palavras-chave, porém com o nome é mais preciso. O que não é difícil de se encontrar, já que existe um livro em todas as bibliotecas com a listagem de livros e utensílios mágicos banidos, todos ligados ao livro original na sala de leis que os mantém atualizados, seu nome é "livro dos banidos". 

Só que é um processo um tanto demorado, correlativo com o quanto não querem que saibam ou façam. 

Logo que saímos da Rua kalêpa, entramos na Biblioteca Aberta de Garin. Ela ocupa um pequeno quarteirão, seu tamanho é proporcional como um grande cubo de pedra amarela com colunas brancas, uma enorme porta e janelas feitas de madeira branca, e no meio quase ao topo um grande letreiro enunciando-a.  Não é a mais grandiosas de Tamir, mas tem o que me é necessário.

- Posso ir atrás do demônio agora? Tenho a impressão, que vai demorar… - Dayla questiona ao dar os primeiros passos adentrando a biblioteca.

- Tá falando sério? Você quer ir sozinha? Você não tem medo daquelas coisas? - o garoto se surpreendeu muito fácil com a simplicidade de Dayla.

- Claro que não, derrubo algumas dezenas deles sempre que viajo. - ela bagunça o cabelo de Deufir no fim de frase, como se fosse de uma criança, o que não está muito longe da realidade, ele deve ter por volta dos quinze anos.

- Você é incrível!!! - os olhos do garoto chegavam a brilhar de tanta empolgação

- Só preciso de algumas correntes e...

- E o que faremos com ele? Levar pra passear como um cão? Eu preciso dos livros primeiro Day! Se não, a besta será inútil.

Temo ter sido um tanto, rude de mais, Day parece ter ficado chateada com minha resposta, ela bufou e virou o rosto ao lado oposto ao meu, e caminhando mais próxima de Deufir. Mas não tenho tempo para tolices, e farei o que vim fazer, encontrar os nomes dos livros.

Passaram-se uns trinta minutos, desde que comecei a folhear o livro, e Dayla, já parece impaciente, andava de um lado para o outro, tirava e devolvia os livros das prateleiras e nem sequer os abria. Entendo que trazê-la a uma biblioteca, é uma tortura para ela, como levar um vegano ao matadouro, e pedir que espere você pegar sua peça de carne, pode ser descrito em uma única palavra "cruel". Se ao menos um desses intelectuais quisesse uma queda de braço seria o bastante para que se entreter, mas não é o caso e olha que ela perguntou para todos que passaram. Porém, não posso fazer muito além de me apresar ao máximo.

Já o terceiro integrante de nosso trio, se distrai com romance de ficção, ele parece ter menos aversão a lugares silenciosos do que Day. Apesar de se prender a histórias de ficção, o que adiciona muita fantasia a sua mente jovem. Mas talvez isto o ajude a se distrair dos problemas reais, senti que estava mais silencioso desde entender sua situação, afinal de contas, ele foi enganado pelo próprio mestre, e está sendo consumindo por uma maldição, duvido muito que queira focar no mundo real por hora. É melhor que fique no mundo de ficção, onde tudo é preto e branco, e sempre acaba bem.

Enfim, concluo a minha pequena lista de livros sobre objetos amaldiçoados, após três horas. Por sorte, somente quatro dos livros são sobre amuletos.

Dayla estava cochilando no banco, de pernas sobrepostas, e braço posto sobre os olhos. Deufir estava se descabelando com seu livro, quando anunciei o fim de minha busca, o fazendo por, reflexo, bater o livro na mesa, assim despertando Dayla, com um breve susto.

O feitiço de localizar livro, pode ser feito em qualquer lugar, ele é silencioso, discreto e próprio a uma biblioteca. Só precisa de um mapa da região que deseja, no nosso caso da região leste do reino de Arterium, o nome do livro em um pedaço de papel bem no meio do mapa, e um desenho envolta do mapa feito com cinzas de papel. Após preparar tudo, sussurre uma única palavra "ertnocne", a palavra espelhada de "encontre". As alterações que fiz para o feitiço atender os meus objetivos foram: o mapa e o desenho, sendo o desenho parte de um feitiço diferente de localizar pessoas, servindo como auxiliar de feitiço, ampliando o alcance e podendo redirecionar para uma representação de ambiente, como um mapa, uma planta ou uma maquete.

O feitiço de encontrar livros, o original, só precisa do nome num papel e cinzas, coloca-se ambos em uma das mãos, o papel sai voando ao encontro do livro. Com as alterações ele funciona um pouco diferente, o papel para em cima da localização do livro no mapa, evitando ter de sair por aí atrás de um papel voador.

Tive que repetir o feitiço quatro vezes, mas encontrei todos, dois estão no mesmo museu, já os outros em coleções distintas, todas particulares, por sorte não ficam muito longe uma da outra.

Crónica Dos Magos: Relíquia Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora