Capítulo II _ O Começo

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Carsis é uma flor medicinal muito útil, e uma grande fonte de magia. O vilarejo de Carsis, é conhecido assim, pela vasta concentração dessas plantas ao redor do pequeno vilarejo.

Carsis é um lugar bem pacato. Por incrível que pareça, as pessoas daqui não ligam muito para as coisas, não se envolvem em discussões política, não se interessam em caçar demônios, e principalmente não dialogam, abrigam ou ajudam estranhos. Resumindo evitam quaisquer complicações, ou desentendimentos desnecessários.

Porém, eu nunca gostei muito dessas normas. Quando ele caiu, ele deu sorte de estar a uns dez passos de mim, e as ruas estarem desertas. Caso contrário, eu o teria deixado lá mesmo, para ser interrogado pelos guardas. Eu o coloquei em cima do meu montugo, um animal de porte médio, seis patas, duas caldas, focinho longo, olhos verdes, e com volumosos pelos castanho escuro. E o levei para casa. Minha casa!

Já que moro sozinho, não tenho de dar satisfação a ninguém. Entretanto, se alguém descobre que eu estou "abrigando" um forasteiro, vão arrumar um inquérito, e dizer mil motivos para não confiar no pobre rapaz.

O rosto dele é liso, não tem barba ou bigode, sua boca está ressecada, provavelmente pela má hidratação, que também deve ter sido o motivo de sua súbita queda, pelo menos foi o que pensei de início, seus cabelos são de um castanho escuro batendo pouco abaixo do ombro, e com algumas ondas. E eu não pude deixar de notar que, em meio a tanto pano havia um medalhão, de madeira com detalhes em prata e com uma jóia losangular de um tom de azul escuro bem ao centro, ele estava preso a uma corrente de ferro envolto ao pescoço do rapaz.

Aquele medalhão, me pareceu ser mágico, não sei dizer de que tipo. Bem, poderia ser enfeitiçado, encantado ou amaldiçoado. Sendo que, qualquer tipo de magia em objetos foi proibida, pelo grande conselho de magia, por esse tipo de magia ser muito perigosa para os usuários, tanto quanto, para quem estiver próximo a eles. O último mago que usou um objeto mágico, bom, ele explodiu com seu bracelete encantado, e levou alguns aprendizes com ele, pelo menos e o que dizem.

Então, se esse cara já está fazendo algo ilegal, e bem provável que ele seja mesmo um criminoso. Agora, esses costumes idiotas de Carsis estão me parecendo bem menos idiotas, se eu os tivesse seguido, não estaria nessa roubada. Bom, acho que me ferrei, afinal foi escolha minha trazer um maluco para minha casa. O que eu tinha na cabeça. E a única coisa que podia fazer, era esperar-lo acordar e se explicar.

Quando um novo sol surgiu no céu, avistei uma tropa de soldados, fardados de roxo escuro e vermelho. Não sei bem de onde são, mas tive a impressão que aquilo tinha a ver com o cara que dormia no chão da sala. Afinal, eu não dormiria no mesmo quarto que um provável criminoso. A solução lógica, era deixá-lo dormindo no chão e de portas trançadas.

Bem, eu não queria ser acusado de ajudar ou esconder um procurando. Só que, eu não sei o que aconteceu com a minha pessoa, porque eu o escondi.

E eu tinha razão sobre a pequena tropa, eles realmente, estavam atrás daquele cara. Eles bateram de porta em porta, perguntando sobre um jovem de cabelos castanho escuro na altura do ombro, pouco moreno e bronzeado, de estatura mediana, e bem agasalhado.

Bom, por ter mentido para os soldados, não tive muito o que explicar, só afirmei que não tinha visto ninguém novo pelas redondezas.

Para resumir, eu escolhi arriscar minha vida, reputação e honra ao ter de dar explicação de um mal entendido. Devo estar louco. Com um vasto conhecimento em magia curativa, defensiva e herbomagia, arriscando o meu futuro promissor desse jeito. Eu poderia ser um curandeiro peregrino, um vendedor de ervas medicinais do castelo, ou sei lá. E ganhando uma boa grana com isso.

Por falar em, magia medicinal, eu poderia ter feito algo para que ele acordasse mais rápido. Porém achei mais prudente, não o fazê-lo. Não era muito seguro, e ele ainda pode me matar quando acordar.

E agora, já raiou o terceiro Sol, dês que esse cara chegou, e ainda nada dele acordar. Bom, ele ainda está vivo, e eu já lhe dei de beber um elixir agridoce, que serve para a hidratação.

O estranho é, ele não está queimando em febre, não soa, não treme, não geme, e nem sequer se move, parece que entrou em estado vegetativo. Na maior parte dos casos, de desmaios que duram mais de um dia, tem pelo menos um desses sintomas, e para entrar em estado de vegetação, é geralmente sucessivo a um traumatismo craniano, coisa, que não vi acontecer, ainda assim, pode ter ocorrido antes de chegar aqui em Carsis, porém, não pude ver nenhuma fratura em seu crânio.

E agora, não tenho outra escolha, a não ser usar um feitiço para despertar. O que é loucura, mas acho que não tem outro jeito.

O pior de tudo, é que, magia curativa gasta muita energia, sinal de que, quando terminar, estarei completamente vulnerável.

Crónica Dos Magos: Relíquia Dos MortosOnde histórias criam vida. Descubra agora