Capítulo 6

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IAGO HÉRNANDEZ

Estava imerso em meus pensamentos enquanto revisava os relatórios mais recentes sobre as operações da semana. Meu escritório, na ala oeste da empresa Hérnandez, era o único lugar onde eu podia encontrar um pouco de paz e sossego, longe das intermináveis demandas de ser o chefe da organização criminosa da Espanha. O sol do fim de tarde invadia o espaço por entre as cortinas pesadas, lançando um brilho dourado sobre os móveis de mogno.

De repente, a porta do escritório se abriu abruptamente, sem sequer um aviso. Ergui o olhar, franzindo a testa, quando vi Martim, suspirei. Ele parou no meio do caminho, claramente notando a minha expressão, e, num gesto dramático, fechou a porta novamente, batendo de leve antes de abri-la outra vez, agora com uma cara de quem pedia permissão.

— Entre, Martim — murmurei, tentando não sorrir.

— Ah, que honra receber permissão do grande Iago em seu covil! — ele respondeu, com um sorriso de canto, antes de entrar e fechar a porta atrás de si — Como vai o noivado? A foto de capa da notícia ficou de matar, literalmente.

— O que você quer? — perguntei, inclinando-me de volta na cadeira — Tenho certeza que não veio para falar de Giordana.

— Realmente! Apenas trazer-lhe uma pequena notícia... — ele começou, sentando-se em frente à minha mesa, sem perder o tom de zombaria. — Damião Velacruz, o nosso querido primeiro-ministro, está insistindo em marcar uma reunião com você.

Soltei um suspiro, colocando os papéis de lado.

— Damião? De novo? Mande ele falar com Adrian. Ele adora essas formalidades políticas. E, além disso, Damião sempre gostou mais dele do que de mim — respondi, girando a caneta entre os dedos.

Martim riu, balançando a cabeça.

— Você sabe como é Damião, ele sempre foi teimoso. E dessa vez ele insiste que tem que ser você, não o Adrian. Deve ser algo muito importante... ou ele simplesmente quer ver a cara de tédio do "grande Iago" enquanto fala de política.

Revirei os olhos. Martim sempre tinha essa habilidade de transformar tudo em uma piada.

— Ele pode continuar insistindo. Se for algo que Adrian não pode resolver, então não é problema meu.

— É mesmo? — Martim arqueou uma sobrancelha, ainda rindo — Porque ele disse que é sobre "um assunto muito delicado" e que só você pode resolver. Sabe, aquele tipo de coisa que não pode ser dita ao telefone...

— "Assunto muito delicado" sempre significa que ele sabe algo dos Mexicanos – comentei, batendo a caneta na mesa, impaciente. – Diga a ele que irei vê-lo, mas que ele espere. Vou no meu tempo, e quando eu estiver disposto.

Martim levantou-se com um sorriso vitorioso, ajeitando a gravata de forma exagerada.

— Como quiser, chefe. Vou passar a mensagem. Tenho certeza de que Damião vai adorar esperar por você. Quem sabe ele até faz um cafezinho enquanto aguarda?

— Martim... — chamei, minha voz carregando uma ameaça velada. Ele me olhou por cima do ombro, ainda sorrindo.

— Sim, primo?

— Se continuar assim, vai acabar com um destino pior do que o dos Mexicanos, e sem um bom café para se consolar.

Ele soltou uma risada alta, abrindo a porta.

— Bom trabalho, chefe. Vou deixar você voltar ao seu mundo de relatórios, planilhas e conspirações. Nos vemos mais tarde.

E, com um aceno brincalhão, ele saiu, fechando a porta atrás de si. Fiquei olhando para a porta por alguns segundos, tentando decidir se estava mais irritado ou entretido. Martim sempre conseguia arrancar de mim algum tipo de reação, mesmo quando eu tentava manter a seriedade.

A Inabalável- Nova Era 6 - Conto Onde histórias criam vida. Descubra agora