Capítulo 5

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GIORDANA SAVÓIA

Na academia de casa, o som abafado dos meus pés batendo no chão ecoava nas paredes enquanto tentava me concentrar. As facas de arremesso eram minhas companheiras, alinhadas na mesa, prontas para serem lançadas contra o alvo do outro lado da sala. No entanto, naquela manhã, parecia que minha mente estava tão dispersa quanto as facas que insistiam em não acertar o alvo.

Suspirei frustrada quando mais uma faca passou longe do centro. Normalmente, o treino me ajudava a clarear os pensamentos, mas hoje, meu coração estava pesado. A tensão da noite anterior ainda pairava sobre mim, e a ideia de Iago voltando para a Espanha tornava tudo ainda mais complicado.

Quando fui recolher as facas espalhadas pelo chão, ouvi o som inconfundível de uma faca cortando o ar e acertando o alvo com precisão. Levantei-me de repente e virei para ver Iago parado à entrada, impecável em suas roupas sociais. Sua expressão era a de sempre: um misto de mistério e ameaça, como se nada no mundo pudesse abalar sua confiança. Falso e feio.

— Parece que alguém precisa de uma aula, Giordana — ele disse com um sorriso discreto, aquele sorriso que me irritava e intrigava ao mesmo tempo.

— Engraçado você achar que pode ensinar alguma coisa — respondi, cruzando os braços enquanto me aproximava dele. — Já não basta ter invadido meu espaço, ainda quer tirar sarro?

Iago deu de ombros, caminhando lentamente até o alvo para retirar a faca cravada no centro. De costas ele conseguia ser ainda mais lindo. Os ombros largos, cabelos negros bem aparados e uma tatuagem que insistia em aparecer em sua nuca. Era a cabeça de uma águia, o que não me surpreende em nada.

— Não estou aqui para provocar, pelo menos não dessa vez. Só vim ver como você estava. — ele sorriu. Revirei os olhos, tentando esconder a leve aceleração do meu coração.

— Estou bem, só não esperava ver você tão cedo. Normalmente, você aparece apenas para criar confusão. — ele riu, um som baixo e rouco que me fez querer rir também, mas segurei a expressão neutra.

— Confusão parece me seguir, é verdade. Mas não estou aqui para isso hoje. Vim falar com seu pai sobre o casamento. Esta noite, vou voltar para a Espanha.

Tentei manter a compostura, mas a notícia doeu mais do que eu esperava. O que está acontecendo comigo? Por Deus!

— Então, está mesmo decidido a seguir em frente com isso?

— Se houver uma maneira de resolver isso sem forçar você a um casamento indesejado, vou encontrar. Mas preciso ter certeza de que seu pai entenda minha posição antes de partir — ele respondeu, seu olhar fixo no meu, sério e determinado.

Assenti, sentindo um misto de alívio e apreensão.

— Então, vamos lá. Não quero prolongar essa despedida mais do que o necessário. Meu maior desejo é vê-lo o mais longe possível de mim.

— Deveria ter pensado isso antes de pedir que eu entrasse nessa contigo, diaba loira.

Caminhamos juntos até a mansão, um silêncio confortável se instalando entre nós. Apesar de tudo, havia uma parte de mim que gostava da presença de Iago, mesmo que ele me tirasse do sério com frequência. Ao entrar na mansão, o ambiente estava quieto, mas havia uma tensão no ar que parecia seguir cada um dos nossos passos.

Chegamos ao escritório do meu pai, e bati antes de abrir a porta. Lá dentro, meu pai estava conversando com Luigi e Matteo. Eles olhos ficaram em nós, todos saibam o que havia acontecido, mesmo que seja uma mentira.

— Iago, Giordana, entrem — meu pai nos cumprimentou com um aceno de cabeça, seus olhos sérios.

— Depois retornamos, tio. – disse Matteo, se levantando com cautela. Luigi passou por mim com um aceno, Matteo ia passar por Iago, mas levantou levemente sua blusa social mostrando sua arma. Iago ergueu uma sobrancelha, me olhando em seguida.

— Senhor Mario, quero me desculpar pela forma que informamos sobre a... gravidez. Mas precisamos conversar antes que eu pegue o jatinho. O casamento de Giordana é algo que precisamos resolver de uma vez por todas.

Meu pai se recostou na cadeira, estudando Iago por um momento antes de falar.

— Estou ouvindo, Iago. O que você sugere?

Iago respirou fundo, seu olhar fixo em meu pai.

— Sei que este casamento não era um acordo entre as famílias, mas gostaria de pedir que reconsiderasse. Veja como algo que beneficiaria Giordana ou um acordo. Estou disposto a ajudar de outras formas também, esse casamento nos ajudaria e muito.

Observei a troca entre eles, admirando a maneira como Iago se portava, mesmo sabendo que estava em terreno hostil. Meu pai ficou em silêncio por um momento, pensando antes de responder.

— Iago, entendo sua posição, mas você precisa compreender a tradição que envolve nossas famílias. Não esperávamos o que iria acontecer entre vocês... dois.

Intervi, sabendo que precisava defender minha própria posição.

— Pai, não quero ser apenas uma peça em um jogo de poder com o Martini. Há outras formas de fortalecer as relações entre as famílias, sem sacrificar minha liberdade ao lado... daqueles nojentos.

— Não tenho pra onde correr, você espera o futuro herdeiro da Espanha e certamente Iago não abrirá mão dele. Têm a minha benção para se casar, mas espero que tudo continue nos conformes, saibam, esperei de olho — seu olhar foca em Iago – Você pode até ser o chefe daquela organização, mas eu sou o pai de Giordana.

— Sinto em lhe informar, mas quando ela dizer sim no altar, Giordana passará a pertencer a organização Espanhola e será a primeira-dama de lá.

— Admiro sua coragem, Hérnandez. Mas você ainda está em meu território e isso pode acabar com sua vida.

— Veremos.

A Inabalável- Nova Era 6 - Conto Onde histórias criam vida. Descubra agora