Capítulo 16

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ADRIAN HÉRNANDEZ

O peso da dor no meu pé direito parece cada vez mais insuportável, como uma faca cravada na carne, me fazendo morder o lábio até sentir o gosto metálico de sangue. Já faz duas semanas que estou no hospital, e agora estou a caminho da casa de minha mãe. Ela ordenou que eu ficasse lá, como se isso fosse resolver algo. Essa ideia me enoja, o simples pensamento de precisar de alguém é como um veneno correndo pelas minhas veias. Eu, Adrian, reduzido a isso?

O sentimento de repulsa é incontrolável. Não deveria ter acontecido comigo. Talvez seja um castigo. Ou, quem sabe, uma tentativa de libertação, um sinal para eu mudar... mas, no fundo, preferia ter deixado aquele desgraçado me matar. Era uma alternativa bem mais aceitável do que esta: ficar sem o movimento de um pé.

Mas quem sou eu para pedir algo? Já fiz coisas que fariam o demônio chorar. Matei, torturei, destruí vidas sem hesitar. E agora? Agora sou um fardo, um peso morto que não pode nem se dar ao luxo de acabar com o próprio sofrimento.

Imagino o caos que isso causaria. Iago precisaria encontrar outro sub-chefe, minha mãe teria que cuidar de um enterro decente, e meu pai... meu pai teria que lidar com a empresa dos Hernández, o que é minha responsabilidade.

Uma vergonha colossal. Nem morrer eu posso sem atrapalhar os outros. A única opção é seguir respirando, dia após dia, até encontrar uma saída para esse labirinto.

— Meu filho. – a voz suave de minha mãe me puxa de volta à realidade. Ela toca meu braço, com aquela preocupação estampada no rosto. – Você tem visita.

O desejo de mandá-los todos para o inferno é forte, mas engulo essa vontade. Seria egoísmo demais, até para mim. Então, visto um sorriso forçado, escondo a amargura e falo:

— Tudo bem, manda entrarem. – minha voz soa falsa até para mim. Ela retribui o sorriso e sai do quarto.

Não demora muito para que o quarto se encha dos meus parentes. Iago chega com Giordana, e Isaac aparece com sua esposa, Aurora. A sala se torna um mar de sorrisos e falsas felicidades.

— Como você está? – Giordana é a primeira a se aproximar, o rosto iluminado por um sorriso caloroso. Ela se senta na cadeira ao lado da minha cama, como se pudesse de alguma forma aliviar a minha dor.

— Poderia estar melhor – murmuro, minha voz carregada de sarcasmo. – Se estivesse morto.

— Adrian! – A voz de minha mãe corta o ar como uma lâmina. Ela me repreende com um olhar severo, mas não me importo.

— Tudo bem, senhor depressivo. Eu cheguei para alegrar seu dia! – Martim, meu irmão, invade o quarto com um sorriso largo e braços carregados de ursos de pelúcia.

Esse idiota encheu meu quarto de hospital com ursos e flores, deixando as enfermeiras encantadas. Dei tudo para elas, não suportando a visão daquelas coisas. Tenho certeza de que ele transou com algumas delas durante essas semanas, sempre o mesmo Martim.

— Ótimo. Agora mesmo que eu quero me matar!

— Tenho uma novidade! – Giordana interrompe, um brilho nos olhos. – Estou grávida.

— Está? – minha surpresa é genuína, mas não o suficiente para me tirar do meu abismo pessoal.

— Sim, ela está – Iago finalmente se pronuncia, sua voz calma e controlada. – Eu ia te contar, mas houve o acidente no mesmo dia. Já sabemos há um mês e meio.

— Queríamos manter em segredo por enquanto, só para eu me acostumar com a ideia – Giordana se apressa em explicar, já prevendo minha crítica.

— E a sua gravidez, Aurora? – Martim pergunta, desviando o foco, enquanto Aurora acaricia sua barriga visivelmente grande.

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