A Inabalável- Nova Era 6 - Conto

Capítulo 17

GIORDANA HÉRNANDEZ

Estava quase esquecendo o quanto uma ducha quente podia ser reconfortante. A água escorria pelo meu corpo, levando embora o peso do dia e os pensamentos confusos que insistiam em me perseguir.

Deixei que a água lavasse minha pele, fechando os olhos e me permitindo um momento de paz. Mas essa tranquilidade foi breve. Saí do chuveiro, me enrolando na toalha felpuda e confortável, mas algo me deixou tensa assim que abri a porta do banheiro.

Iago estava sentado na beirada da minha cama, em silêncio, como uma sombra imponente. A luz suave do abajur iluminava suas feições, e seus olhos, sempre tão expressivos, agora estavam indecifráveis. Meu coração acelerou, mas mantive a postura firme.

— Você está bem? — perguntei, tentando soar casual, mas sem esconder a surpresa de vê-lo ali. A presença dele no meu quarto não era comum, especialmente àquela hora.

Iago manteve o olhar fixo em mim por um momento antes de responder.

— Quero saber o que você diria naquele dia.

Franzi o cenho.

— Que dia?

— No dia em que Adrian se machucou. Você ia me dizer algo, mas Martim nos interrompeu — ele explicou, a voz baixa, mas carregada de intenção.

Minhas lembranças voltaram àquela tarde, ao caos e ao medo que permeavam o ambiente. Eu estava prestes a dizer algo importante, mas Martim, sempre oportuno, nos interrompeu, mudando o rumo da conversa. E agora, com Iago diante de mim, a pressão de retomar aquele momento me atingiu com força.

— Não era nada demais — menti, tentando afastar o desconforto. Caminhei até o closet, fingindo procurar algo para vestir, qualquer coisa para desviar a atenção.

— Giordana, eu não sou burro — ele retrucou, levantando-se — Você tinha algo a dizer, algo que queria que eu soubesse. E eu quero ouvir.

A firmeza em sua voz me fez parar. Eu sabia que não conseguiria evitar aquela conversa para sempre. Mas ao mesmo tempo, os anos de frustração, mágoa, e o medo de me expor completamente me impediam de falar.

— Eu só estava preocupada com Adrian. Só isso — insisti, ainda sem encará-lo.

Iago deu um passo à frente, a tensão entre nós quase palpável.

— E desde quando você mente para mim? Não foi só preocupação, foi algo mais. Você mudou desde aquele dia, e eu quero saber o porquê. — sua voz rapidamente endureceu. Fechei os olhos por um instante, respirando fundo.

— Iago... Eu não sei o que você espera ouvir.

— Eu quero a verdade. Sem máscaras, sem essa indiferença que você tenta usar para se proteger.

Minhas mãos tremeram levemente enquanto segurava a toalha contra meu corpo. A indiferença sempre foi minha armadura, a única coisa que me permitia manter o controle quando tudo parecia prestes a desmoronar. E agora, ele queria que eu baixasse essa guarda.

— Eu não posso — sussurrei, sentindo um nó se formar na garganta — Não posso te dar isso.

— Giordana, por favor — a voz de Iago estava mais suave, quase um pedido. Senti meus olhos marejarem, mas me recusei a deixar as lágrimas caírem.

— Eu não sei como — admiti finalmente — Eu não sei como te dizer o que eu sinto."

Iago ficou em silêncio por um momento, como se processasse minhas palavras. Ele sempre foi tão bom em ler as pessoas, mas comigo, era diferente. Talvez porque ele sabia que, quando se tratava de nós dois, tudo era mais complicado.