A Inabalável- Nova Era 6 - Conto

Capitulo 19

GIORDANA HÉRNANDEZ

O sol da manhã atravessava as grandes janelas da sala de jantar, derramando uma luz suave sobre a mesa posta meticulosamente. O aroma do café recém-passado se misturava com o cheiro delicado das frutas frescas e croissants. Eu observava cada detalhe daquele momento, gravando-o na memória como um dos poucos em que a paz parecia estar presente na mansão de Montserrat.

Iago estava à minha frente, lendo os relatórios do evento da noite anterior, enquanto eu mexia no meu chá, imersa em pensamentos sobre Adrian. O evento havia sido um sucesso, mas meus pensamentos não paravam de se voltar para ele, para o quanto a vida lhe havia sido cruel.

— Ele começou a terapia ontem, Giordana — Iago disse de repente, quebrando o silêncio que pairava entre nós.

— Isso é bom — respondi, tentando não soar excessivamente preocupada — Ele está tentando, e é o que importa. Mas não consigo parar de pensar no que ele passou... No que todos passamos.

Iago ergueu os olhos dos papéis e me olhou com aquela intensidade que sempre me deixava desarmada.

— Adrian é forte, Giordana. Ele vai superar isso. A fisioterapia já está mostrando progresso. Ele só precisa de tempo e paciência, duas coisas que ele nunca teve em abundância.

Assenti, sabendo que ele estava certo, mas o peso das últimas semanas não me permitia relaxar completamente. O casamento, a gravidez, Adrian, o evento beneficente, tudo parecia estar acumulando sobre meus ombros. Mesmo assim, tentei afastar a nuvem de pensamentos sombrios e me concentrar no que Iago estava dizendo.

—Giordana — ele chamou minha atenção novamente, a voz mais suave agora, como se ele também percebesse meu estado — Você está se saindo muito bem, considerando tudo o que está acontecendo.

—Estou tentando — respondi, com um sorriso que não chegava aos olhos — Mas você sabe como é... A vida nunca para de testar a gente.

Antes que ele pudesse responder, Martim entrou na sala com sua habitual energia contagiante, carregando uma grande caixa que ele mal conseguia equilibrar. Colocou-a com um baque suave sobre a mesa, entre mim e Iago, interrompendo nossa conversa.

— Bom dia, casal! — Martim exclamou, com aquele sorriso travesso que ele sempre usava quando estava aprontando algo — Trouxe uma pequena surpresa para a dama da Espanha.

Olhei para a caixa, intrigada.

— O que é isso, Martim?

Ele piscou para mim e deu um passo para trás, como se estivesse ansioso para ver minha reação.

— É um presente do seu querido marido. Ele mesmo escolheu.

Meus olhos se voltaram para Iago, que estava agora com uma expressão indecifrável, embora eu pudesse ver um leve traço de diversão nos cantos de sua boca. Sem saber o que esperar, comecei a abrir a caixa, cuidadosamente afastando as fitas e o papel.

Quando a tampa finalmente saiu, meu coração deu um salto. Dentro da caixa, repousava um vestido de seda vermelha, com detalhes dourados que brilhavam à luz do sol. Ao lado dele, havia um par de sapatos de salto alto combinando e uma máscara de veludo negro, elegantemente desenhada com bordados intrincados.

Mas não era isso que me deixava sem palavras. No fundo da caixa, a cabeça de Afrodite tomava conta. Os olhos abertos, visualmente amedrontados, de complemento a boca entreaberta em um grito nunca ouvido. Ela estava com o rosto pálido, mas demonstrando o terror que sentiu. E isso me deixava extremamente excitada.

— Isso é... — perguntei, atônita, enquanto minha mente tentava processar o que eu estava vendo.

Iago se aproximou, colocando uma mão no meu ombro, seus olhos fixos nos meus.

— Sim. Afrodite e eu tivemos uma conversa muito esclarecedora depois do evento de ontem. Ela pensou que poderia nos ameaçar, mas, como pode ver, o resultado foi... bastante diferente.

Sorri para ele, sentindo uma onda de admiração e, talvez, um pouco de medo.

— Você conseguiu isso em uma noite?

— Digamos que Afrodite subestimou com quem estava lidando — ele respondeu, com aquele tom calmo e perigoso que sempre fazia meu coração disparar — Ela ainda não sabia que você é uma Dama da Máfia Espanhola agora, Giordana.

Minha mente fervilhava com perguntas e possibilidades, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Martim voltou a falar, desta vez com um sorriso ainda mais largo.

— Vocês dois são o casal mais insano que eu já conheci. Quem diria que transformar uma ameaça em um presente seria a coisa mais romântica que alguém poderia fazer?

Deixei escapar uma risada, surpresa por como Martim sempre conseguia aliviar a tensão com seu humor.

— Insano, talvez. Mas definitivamente eficaz – respondi

Me levantei da cadeira e me aproximei de Iago, sentindo uma nova onda de gratidão e carinho por aquele homem que, apesar de tudo, sempre encontrava uma maneira de me surpreender. Fiquei na ponta dos pés e o beijei, sentindo o calor dos lábios dele contra os meus, uma faísca que nunca se apagava entre nós, não importa o quanto tentássemos ignorá-la.

— Obrigado — sussurrei contra seus lábios — Por tudo.

Ele sorriu, um sorriso raro e genuíno que me fazia esquecer de todas as preocupações por um breve momento.

— Você não precisa me agradecer, Giordana. Apenas seja feliz.

Quando nos separamos, Martim soltou uma gargalhada.

— E é por isso que eu nunca me canso de estar perto de vocês. Completamente loucos, mas de um jeito que faz todo o sentido.

Olhei para Martim e balancei a cabeça, divertida.

—Talvez a loucura seja o que nos mantém sãos, Martim.

Ele piscou para mim novamente.

— Bem, se é assim, espero nunca ser completamente são.

O café da manhã continuou, mas agora com um ar de leveza que não existia antes. Martim fez piadas, Iago e eu trocamos olhares cúmplices, e por um breve momento, o mundo parecia estar exatamente como deveria ser.