Capítulo 10

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IAGO HÉRNANDEZ

A luz do sol da manhã penetra as pesadas cortinas do meu escritório, mas não consegue suavizar o clima tenso que paira no ar. Estou sentado atrás da minha mesa de mogno, com uma xícara de café forte à minha frente, revisando os relatórios mais recentes da organização.

Não é novidade que a guerra com os mexicanos está esquentando, mas as coisas parecem ter escalado de forma preocupante nas últimas semanas. Minhas mãos percorrem as páginas, analisando os números e estratégias, enquanto minha mente tenta se focar em soluções.

O celular vibra ao lado da xícara, e eu nem preciso olhar para saber quem é. Minha mãe. De novo. A mesma mãe que insiste em me ligar, apesar de ambos sabermos que a relação que temos está longe de ser calorosa. Ela nunca entendeu o caminho que escolhi, e eu nunca consegui perdoá-la pelas suas atitudes. Respiro fundo e, com um movimento rápido, cancelo a chamada sem ao menos hesitar.

Volto ao trabalho, tentando me concentrar, mas a paz é breve. Logo, a porta do meu escritório se abre, e eu levanto os olhos para ver Adrian e Martim entrando, sem nem se preocuparem em bater.

Adrian, com aquele jeito sério que ele acha que engana alguém, é sempre o primeiro a lançar um olhar crítico para o ambiente, como se esperasse encontrar algo fora do lugar. Já Martim... bom, Martim está com aquele sorriso presunçoso de sempre, já pronto para alguma piada de mau gosto.

— Bem-vindos ao meu santuário de paz e sossego, bom, era né — digo, com sarcasmo evidente na voz, enquanto fecho a pasta à minha frente.

— Paz e sossego? — Martim responde, rindo. — Isso foi antes ou depois da sua "noite de núpcias"?

Adrian não perde tempo e logo complementa:

— Ou melhor, antes ou depois de Giordana te colocar na linha?

Reviro os olhos, ignorando o comentário, mas sei que é o que eles querem. Tiro uma pasta da gaveta e jogo na direção deles, interrompendo suas provocações. Eles pegam o documento e começam a folhear.

— Vamos deixar de merda e focar no que importa — digo, sem esconder o tom autoritário. — A situação com os mexicanos está saindo do controle. As últimas movimentações indicam que eles estão armando algo grande. Se não agirmos rápido, vamos acabar sendo surpreendidos.

Adrian assente, já voltando ao modo sério que sempre assume nessas reuniões.

— Temos que cortar os canais de abastecimento deles, principalmente as rotas que passam por Sevilla. Se conseguirmos isso, diminuímos a força deles pela metade.

Martim, no entanto, continua com o mesmo sorrisinho, mal prestando atenção ao que falamos.

— Parece que alguém aqui acordou do lado errado da cama. — ele me olha, deixando claro que a frase tem um duplo sentido. — Ou será que nem chegou a dormir?

— Martim, se você quer tanto saber sobre a minha vida sexual, talvez devesse cuidar melhor da sua — retruco, irritado com o tom dele.

— Relaxa, primo. Só estou dizendo que... — ele é interrompido de repente.

A porta do escritório se abre sem aviso, e quando levanto o olhar, fico paralisado. Giordana. Ela está ali, emoldurada pela luz que vem do corredor, com apenas uma camisola de cetim bege, quase translúcida. Seus cabelos soltos, caindo sobre os ombros, e a expressão surpresa em seu rosto são suficientes para fazer o tempo parar.

Adrian é o primeiro a reagir, limpando a garganta, enquanto Martim tenta, sem sucesso, segurar o riso.

— Acho que não foi só a reunião que pegou fogo hoje — Martim comenta, piscando para mim.

Eu fecho os olhos por um segundo, tentando manter a compostura, mas a situação não poderia ser mais ridícula. Giordana, por sua vez, parece envergonhada, uma cor rosa suave subindo por suas bochechas, mas ela se mantém firme, tentando fingir que não se importa.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, minha voz saindo mais dura do que eu pretendia.

— Eu... achei que você estivesse sozinho. — ela tenta manter o tom indiferente, mas falha miseravelmente. — Só queria falar com você.

Adrian, sempre sendo mais racional, se levanta e murmura algo sobre precisar revisar algumas informações do lado de fora, puxando Martim com ele.

— Melhor deixarmos os "pombinhos" sozinhos — diz Martim, com um sorriso malicioso. — Vai ver, Giordana tem algo importante para discutir. Talvez... estratégias de guerra?

A porta se fecha atrás deles, e o silêncio volta a reinar. Giordana ainda está ali, no meio do escritório, e eu sinto meu sangue ferver. Não por ela estar ali, mas pela situação inteira. Eles não deviam vê-la assim, desse jeito tão... vulnerável. Isso me incomoda de um jeito que não consigo explicar.

— Você precisa aprender a bater na porta — digo, levantando-me da cadeira e indo até ela.

— E você precisa parar de ser tão paranoico — ela rebate, cruzando os braços, como se tentasse se defender do desconforto que claramente sente.

— E você precisa aprender a vestir algo mais apropriado para andar pela casa! — eu a corto, sentindo a raiva subir.

— Apropriado? — ela ri, mas não há humor em seu riso. — Isso é uma mansão, Iago, e eu sou sua esposa, não uma empregada. Posso andar do jeito que eu quiser.

— Não quando meus primos estão por perto. — me aproximo mais, pegando seu braço e a puxando para fora do escritório.

Ela tenta se soltar, mas eu não dou espaço para isso. Caminho pelos corredores largos, com ela a reboque, até chegarmos ao seu quarto. Lá dentro, a empurro suavemente, mas com firmeza, e fecho a porta atrás de nós.

— Qual é o seu problema, Iago? — ela me encara, os olhos brilhando de raiva. — Se está tão incomodado assim, por que não tranca suas portas? Ou, melhor ainda, por que não coloca seus primos pra fora?

— Isso não é uma brincadeira, Giordana — digo, tentando controlar meu tom, mas falhando. — Você não entende o que pode acontecer se eles pensarem que têm algum tipo de vantagem sobre nós.

— Ah, claro, porque tudo é um jogo de poder pra você, não é? — ela se aproxima, me desafiando com cada palavra. — Até eu sou só uma peça no seu tabuleiro.

— Não, você não é só uma peça. — minha voz sai mais baixa agora, quase um sussurro. — E é exatamente por isso que preciso que tome cuidado.

Ela hesita por um momento, surpresa com minha resposta. Mas, claro, Giordana não é do tipo que recua. Ela ergue o queixo, mantendo o olhar fixo no meu.

— Se você quer que eu tome cuidado, Iago, talvez devesse começar a ser mais honesto comigo. — as palavras dela são um desafio, mas também há algo mais nelas. Algo que ressoa dentro de mim.

— Honesto? — me aproximo mais, até que estamos a poucos centímetros de distância. — E o que exatamente você quer que eu diga, Giordana? Que sou louco por você? Que cada vez que você me desafia, só faz eu te querer mais? Porque se é isso que você quer ouvir, não vai ouvir. Não vou te dar esse prazer.

Ela ri, um som baixo e cheio de incredulidade.

— Não se preocupe, Iago. Eu nunca esperaria que você admitisse algo assim.

— Porque você sabe que eu sou honesto o suficiente para não te alimentar com mentiras — respondo, mantendo o olhar fixo nos dela. — E você, Giordana? Até quando vai fingir que não se importa?

Ela não responde. Em vez disso, me encara por um longo momento, o silêncio entre nós cheio de tensão e palavras não ditas. Finalmente, ela dá um passo para trás, quebrando o contato visual, mas não antes de lançar uma última alfinetada.

— Não se preocupe, Iago. Eu sei exatamente como jogar o seu jogo. — E com isso, ela se vira, indo em direção ao closet, deixando-me sozinho no quarto, com a sensação de que essa diaba vai acabar comigo

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