A Inabalável- Nova Era 6 - Conto

Capítulo 14

ZAMARA SAVÓIA

O disfarce era impecável. Uma peruca de cabelos negros e brilhantes caía em cascata sobre meus ombros, cobrindo o pouco dos fios grisalhos que ainda resistiam ao tempo. Lentes de contato pretas ocultavam meus olhos cor de âmbar, que, apesar de todas as camadas de disfarce, ainda refletiam o cansaço de uma vida cheia de segredos e perigos.

As roupas de grife que usava – um vestido Chanel justo e um casaco Burberry – me faziam parecer uma daquelas mulheres sofisticadas, inalcançáveis. O óculos de sol oversized escondia mais do que meus olhos; escondia a dor e o desespero que eu lutava para controlar enquanto caminhava pelos corredores daquele hospital.

Cada passo ecoava na minha mente como uma contagem regressiva. O hospital estava silencioso, uma calmaria que contrastava brutalmente com a tempestade que se desenrolava dentro de mim. Não era a primeira vez que eu precisava me esconder por trás de uma máscara, mas essa... essa era diferente. Havia muito mais em jogo do que o habitual.

Passei por médicos e enfermeiras, mantendo a cabeça baixa, mas ainda assim erguida o suficiente para que ninguém suspeitasse de minha presença. Precisava parecer confiante, natural, uma visitante qualquer. Mas por dentro, meu coração batia como um tambor acelerado, e meus pensamentos eram um turbilhão de lembranças e medo.

Cheguei ao corredor onde ficava o quarto 481. Meu corpo reagiu antes mesmo de minha mente registrar a realidade – meus passos diminuíram, e meu estômago se revirou em um misto de angústia e antecipação. Aproximei-me do quarto com cuidado, meus olhos analisando cada detalhe ao redor.

Dois guardas estavam posicionados ao lado da porta, vigilantes, como se soubessem o quão preciosa era a vida que protegiam ali dentro. Eles eram altos, fortes, a típica figura de segurança privada, mas seus olhares traíam o tédio e a rotina.

Ao me aproximar, engoli seco. Meu coração se apertou ao pensar no que estava prestes a fazer. Eu estava dividida entre a missão e o amor, entre o dever e a emoção. Mas havia um compromisso, uma promessa antiga, e eu tinha que cumpri-la. Não havia mais espaço para hesitações. Na saúde e na doença.

Respirei fundo, ajustando a postura. Coloquei uma expressão de falsa serenidade no rosto e caminhei em direção aos guardas, tentando parecer tranquila e decidida.

— Boa tarde — comecei, minha voz firme, embora minha alma estivesse em frangalhos. — Eu gostaria de fazer uma pergunta, poderia me ajudar?

Os guardas trocaram um olhar rápido, avaliando-me com desconfiança. Eles não estavam acostumados com visitantes inesperadas.

— Senhora, quem é você? — um deles perguntou, a mão indo instintivamente para o cinto onde estava sua arma. Eu forcei um sorriso suave, mas minha mente já estava em movimento, calculando cada detalhe.

— Vai doer apenas um pouco, queridos — sussurrei, em um tom quase maternal.

Antes que qualquer um deles pudesse reagir, minha mão se moveu com a precisão que anos de experiência haviam me dado. Retirei as duas seringas de sonífero da bolsa em um movimento fluido, e em um segundo, já estava ao lado de um dos guardas.

O primeiro golpe foi direto em seu pescoço, injetando o líquido anestésico antes que ele sequer pudesse gritar. Em um movimento quase sincronizado, atingi o segundo guarda da mesma forma.

Eles se debateram por um instante, os olhos arregalados de surpresa, antes de caírem no chão, desmaiados. Olhei para eles por um momento, meu peito apertado de culpa, mas eu não tinha tempo para remorso. Precisava seguir adiante. Na alegria e na tristeza.

Verifiquei se as câmeras de segurança estavam realmente desligadas. Tinha sido cuidadosa com a preparação, e um contato havia garantido que os sistemas fossem temporariamente desativados. Mesmo assim, minha experiência me dizia para nunca confiar totalmente.