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O beijo durou o tempo suficiente para nossas línguas serpentearem em nossas bocas, por que Mikhael correspondeu sim ao nosso beijo, mas em seguida ele me empurrou e caí sentado sobre o sofá e ele levou a mão á boca tampando-a com uma expressão aflita:

_ O que significa isso Gillian?

_ Um beijo.

_ Eu sei que foi um beijo, mas por que me beijou?

_ Eu não fiz isso sozinho, posso ter dado o primeiro passo, mas ninguém se beija sozinho.

_ Isso não podia ter acontecido.

_ Pela forma como correspondeu ao beijo desejava tanto quanto eu. Vamos ser sinceros, esse beijo iria acontecer cedo ou tarde, o que eu quero saber é o que você irá fazer depois de ter acontecido?

_ O que espera que eu faça?

_ Que não retroceda ao que acabou de acontecer, somos dois jovens conscientes do que queremos e sentimos.

_ Isso não é certo.

_ E o que é certo Mikhael, se anular, se automutilar para camuflar um sentimento que está sentindo?

Segurei o rosto dele com ambas as mãos para que ele me encarasse:

_ Nega se for possível. Nega que esse beijo foi maravilhoso.

Ele desvencilhou dos meus braços, indo para o lado oposto do sofá ao lado a qual eu estava:

_ Você não tem esse direito, você não pode bagunçar a minha vida dessa forma, eu tenho a minha convicção e eu não quero isso para mim.

_ Está certo, eu não quero te desvirtuar, o que eu quero é que seja sincero com você mesmo, e assim você mesmo verá que essa sua convicção não passa de fantasia, nem você se convence de que algo não esteja acontecendo entre nós dois.

_ Você está enganado, esse beijo foi um erro e não vai mais acontecer.

_ É uma pena que você não consiga entender os seus próprios sentimentos, que tenha medo de viver o que está diante de nós dois.

_ Você está viajando Gillian, não está acontecendo nada entre nós, essa confusão momentânea é apenas uma provação que tenho que passar, daqui a uns dias eu irei olhar para trás e verei que esse tropeço será apenas um alicerce para um degrau que precisarei subir.

_ E sou eu quem está enganado?

Tive que puxar o ar com mais força:

_ Mikhael, eu não sei em que mundo você vive de verdade, eu entendo que você acredite em um mundo perfeito onde nada fora do "normal" aconteça, mas acorda, a vida é bem mais multiforme do que você imagina, eu entendo, juro como entendo que você foi criado em uma redoma, em uma crença cega ao que as outras pessoas vivem, onde só quem acredita no que você acredita está certo e os demais estão errados, mas cara... Você é uma pessoa inteligente...

_ Não blasfeme do que eu acredito Gillian, por favor, não blasfeme.

_ Alguma vez você se perguntou no que eu acredito?

_ Não sabia que tinha alguma crença, você me parece tão autossuficiente que não imaginava que acreditasse em alguma coisa, mas me diga no que acredita Gillian?

_ Eu acredito no amor, para mim Deus é amor, e por ser amor não pode negar a si mesmo, eu amo, você ama, meus pais amam e qual é o problema nisso?

_ Existe formas de amar que são erradas.

_ São sentimentos que nascem eu espero de verdade que não tenha desistido de ir ao almoço na casa dos meus pais por causa de um beijo, pois se for presenciará o que é amor, meus pais são tão apaixonados um pelo outro que eu sempre quis encontrar alguém para viver um amor tão intenso como o que eles sentem.

_ Eu preciso me afastar de você isso sim.

_ Do que você tem tanto medo Mikhael, de enxergar que suas convicções é como jogar uma rede furada ao mar alto, ou descobrir que dois homens podem sim se amar e serem felizes?

_ Eu não vou desistir de ir à casa dos seus pais, já disse que iria e não volto atrás em minhas palavras, eu não duvido que seus pais se gostem, que vivam bem, isso nunca foi posto em questão, a questão é que não é certo, um homem foi criado para envolver-se com uma mulher, para você qual é o propósito do casamento?

_ As duas pessoas serem felizes?

_ O casamento tem um propósito muito maior do que apenas serem felizes Gillian, imagine se homem só se casasse com homem ou mulher só se casasse com mulheres, não existiriam mais crianças nascendo, crianças correndo pelas praças. A humanidade aos poucos se acabaria.

_ Eu fui abandonado assim que nasci em um orfanato lá nos Estados Unidos, naquela época meu pai Jean estava estudando lá, ele estava sofrendo uma perda muito profunda, o grande amor da vida dele havia falecido, Gillian era o seu nome e ele tinha ELA (esclerose lateral amiotrófica), foi nesse contexto que meu pai Jean me encontrou, ele me adotou, me amou, amor esse que minha mãe biológica não pode me dar, não me pergunte o motivo por que eu não sei, não sei se foi por que ela não me quis ou por que não tinha condição de me criar, eu não sei, o que sei é que esse homem me amou e me fez o seu filho, com 5 anos viemos para o Brasil, e aqui ele conheceu meu pai Beto, o cuidado que meu pai tem com o meu pai Jean curou ele de uma viuvez de 10 anos, fez meu pai entender que não podia perder um segundo da vida dele para ser feliz. Esses dois homens a qual chamo de pais, são os meus exemplos, meu alicerce, você quer subir os degraus veja como a vida é, e não chame de tropeço aquilo que eu chamo de amor.

_ Gillian...

_ Não precisa falar nada, apenas pense Mikhael, eu sou a prova viva de que dois homens podem sim ser considerada uma família, por que família significa amor, meus pais se amam, me amam e eu os amo, se isso não significa ser família eu não sei como que posso chamar.

Ele ficou pensativo com o que eu havia acabado de falar. 

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora