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Meu pai ignorou a minha pergunta, saudando o irmão Ronaldo que estava cabisbaixo, não precisava pensar muito sobre o porquê ele estava naquele estado lastimável, olhei para Gillian que sorriu e eu me forcei a sorrir em retribuição, aquela reunião não foi como o habitual, meu pai parecia nervoso atropelado nas palavras, falando efusivamente sobre o amor divino para com a humanidade, mas o foco de seu sermão não era sobre o amor, e sim sobre o pecado, ele enfatizava mais a parte do pecado do que o que levou Deus a enviar o salvador.

Normalmente os sermões de meu pai não eram tão carregados daquela maneira, mas existia uma fúria em cada palavra que ele dizia que todos na reunião começaram a notar:

_ Temos que estar vigilante em todos os momentos, pois não sabemos de onde vêm as armas forjadas do inimigo, elas podem vir mascaradas e você nem se dá conta, só percebe quando está na lama.

Quando seu sermão terminou, ele fez um gesto para que eu fosse até ele, Fabrício se juntou a ele junto a esposa e uma jovem que eu supunha ser a filha deles, olhando aparentemente a jovem, de fato ela possuía todos os atributos para ser a esposa ideal diante de uma comunidade, era bonita, atraente, sua postura era impecável, qualquer jovem daquela irmandade ficaria satisfeito em tomá-la como esposa, menos eu... Tudo o que eu conseguia enxergar, era que ela era mais um obstáculo para que eu ficasse com quem realmente desejava ficar.

Olhei na direção em que Gillian se encontrava, mas ele balançou negativamente a cabeça e virou-me as costas saindo da sinagoga:

_ Me dão licença, eu já volto, não demoro.

_ Mikhael, aonde você vai, sua noi...

Apressadamente me afastei e alcancei Gillian já na saída:

_ Hei... O que houve, estava indo embora sem se despedir?

_ Por que não me disse que era noivo Mikhael?

_ Eu posso te explicar.

_ Faz dois dias que não aparece na faculdade, eu estava preocupado com você, devido aquele babaca do Raulf, mas você é noivo e está preste a se casar, quando pretendia me dizer isso?

_ Gillian, aqui eu não posso falar sobre isso com você, mas eu prometo que tenho uma boa explicação. Eu vou dar um jeito de ir ao seu apartamento hoje a noite. Não pense que eu te enganei, por que não fiz isso. Por favor, me espera.

_ Tá certo Mik, eu te espero, mas saiba que uma hora você terá que decidir, ou irá casar sem amá-la?

_ É o que todos esperam de mim Gillian... Hoje à noite, eu prometo contar tudo o que aconteceu. Mas agora eu preciso voltar, meu pai está me esperando.

_ Eu vou indo nessa, irei ficar esperando você.

Fiz o caminho regresso até o meu pai que me olhou furioso:

_ Aqui está o fujão... Filho essa aqui é a Talita, sua futura esposa.

Meu olhar se direcionou a ela, ela desenhou um sorriso tímido no rosto:

_ Meu pai me falou que em breve você será o novo reverendo...

_ É o que parece.

_ Vamos Fabrício, vamos deixar que os dois se conheçam.

Meu pai e o irmão Fabrício se afastaram nos deixando a sós, o silencio que seguiu foi constrangedor, não tínhamos o que falar, ficamos ali, os dois em silêncio até que ela retomou o assunto:

_ Animado?

_ Com o que exatamente?

_ Em assumir o posto do seu pai?

_ Na verdade não sei se estou pronto para isso, mas é o que meu pai e todos da comunidade esperam de mim.

_ Eu também não sei se estou pronta para ser esposa do reverendo, é muita responsabilidade, afinal todos na sinagoga olhará para nós como um exemplo a ser seguido.

_ Responsabilidade demais.

Talita não era de todo desagradável, até que tinha uma conversa agradável, era simpática, depois da reunião ela e sua família foram almoçar em casa e pude conhecê-la um pouco mais e até me simpatizei com ela como amiga, como mulher ela tinha seus atrativos não posso negar, contudo não era ela quem fazia meu coração palpitar.

Assim que eles foram embora, dei uma desculpa para o meu pai e fui até o apartamento de Gillian, entrei assim que ele abriu a porta, porém ele não se aproximou para beijar-me como fazia de costume, notei que ele ainda estava engasgado com a notícia do noivado e somente eu poderia esclarecer o que se passava:

_ Gillian...Eu vim aqui te explicar a história do noivado...

_ Estou ouvindo Mikhael, você está noivo?

_ Não, quer dizer não exatamente.

Respirei e comecei a explicação:

_ Meu pai quer que eu assuma o seu lugar como reverendo na sinagoga, por mais que eu não me sinta preparado e não estou ele insiste que eu assuma essa responsabilidade, mas um reverendo precisa ser casado, isso irá causar um efeito mais responsável, o fato de ter faltado esses dias a um compromisso onde tinha que acender a menoráh, fez com que meu pai pegasse ainda mais no meu pé, eu consegui dar uma desculpa, mas ele entendeu como falta de responsabilidade da minha parte e do nada inventou esse noivado, o pai da Talita também concordou com ele e...

_ Então ela se chama Talita?

_ Ela é uma pessoa legal Gillian.

_ Eu não duvido que seja Mik, mas é por isso que você não pode ficar noivo dessa menina sem gostar dela, ou por acaso negará que gosta de mim?

_ Não vou negar, mas não posso ignorar que ficar com você é dar as costas para minha família. Gillian, eu amo você, de verdade que eu amo, mas...

_ Mas o que Mikhael?

_ Eu tenho um pedido a te fazer.

_ Pedido, que pedido?

_ Eu quero fazer amor com você, Gillian faça amor comigo, eu preciso viver essa experiência com você.

_ Fazer amor com você é tudo o que eu mais quero Mikhael. Mas preciso que me responda, e o depois, você ainda pretende se casar com essa moça?

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora