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Minha língua estava coçando para contar a Mikhael sobre o Billy, mas ao mesmo tempo queria fazer surpresa a ele.
Nos encontramos na faculdade no dia seguinte e tudo o que lhe disse foi:

_ Eu queria que fosse lá em casa hoje depois da faculdade, é importante.

_ Hoje eu não sei se posso Gillian, tenho compromisso com a sinagoga, tenho que ir direto para lá.

_ Que pena, queria tanto que fosse, queria te mostrar algo muito importante para mim, e consequentemente para você.

_ Não pode ficar para amanhã?

_ Poder até pode né.

Falei um pouco desanimado, toda a euforia que eu sentia antes desse balde de água fria se foi com a resposta dele, mas ele reacendeu a minha esperança ao dizer:

_ Só uma passadinha rápida, não posso mesmo me demorar.

Cruzei os dedos abrindo um sorriso entusiasmado:

_ Eu juro que não o prenderei.

Nesse exato momento Raul e dois rapazes que andava com ele, passaram nos encarando, ele não disse nada, mas um sorriso malicioso surgiu em sua face, coisa que ignoramos e continuamos conversando, o professor chegou e novamente a concentração de Mikhael com o estudo era tudo o que lhe tomava a atenção naquele momento.
Assim que terminou a aula fomos direto ao meu apartamento, antes de abrir a porta eu pedi:

_ Fecha os olhos Mik.

_ Para que isso Gillian, eu não posso demorar, você sabe disso.

_ Eu sei, mas vai fecha os olhos.

_ Tá, vou fechar.

Ele fechou os olhos, mas mesmo assim para garantir que ele não visse, eu levei a mão aos olhos dele tampando-os, e antes mesmo de levá-lo até o Billy eu o beijei, depois o conduzi até onde o cãozinho estava e retirei a mão de seus olhos e ele os abriu:

_ É sério isso, é o Billy, você o trouxe para casa?

_ Sim, meus pais assinaram o termo e eu trouxe o nosso bebê para casa.

Antes de se ocupar com o cãozinho, Mikhael beijou-me demoradamente o que foi correspondido na mesma proporção, depois de separar nossos lábios ele se abaixou acariciando o filhote, e ali ficou brincando com Billy por um bom tempo, Billy rolava, latia, virava de barriga para cima para que Mikhael o acariciasse, e as horas se passaram rapidamente, de repente Mikhael ficou agitado, levantando as pressas e pegando a mochila:

_ Eu preciso ir Gillian.

_ O que houve?

_ Eu fiquei aqui com o Billy e me esqueci do meu compromisso na sinagoga, meu pai deve estar uma fera comigo.

_ Calma, seu pai vai entender se falar que se distraiu.

_ Você não conhece o meu pai Gillian, eu não podia ter me distraído, como irei explicar ao meu pai que me distrai na casa do meu namorado e o nosso cãozinho?

_ Namorado?

Abri um sorriso:

_ Embora ninguém saiba, sim somos namorados, amantes, ficantes sei lá como quer definir o que existe entre nós Gillian, mas o que não podemos fazer é negar que temos algo.

_ Já que se atrasou, fica mais um pouco.

_ Acho melhor eu ir, quanto mais demorar, mais nervoso meu pai ficará. Nos vemos amanhã na faculdade.

Mikhael foi embora e eu fiquei ali com Billy, dei sua ração, levei ele para passear e encontrei Raulf no caminho:

_ Gillian...

_ O que você quer?

_ O que acha de me levar para conhecer o seu apartamento assim como levou aquele nerd do Mikhael?

Parei de andar no mesmo instante encarando o rapaz:

_ Não convido estranhos á minha casa.

_ Ainda sou estranho? _ Poxa achei a nossa conversa tão proveitosa lá na faculdade que entendi perfeitamente quem é a pessoa a qual tem se relacionado, mas será que o pai dele entende?

_ Qual é a tua cara, fala logo de uma vez.

_ Qual é a minha, boa pergunta, podemos iniciar me convidando para conhecer o seu apartamento.

_ Não estou indo para casa nesse momento, estou indo a casa dos meus pais.

_ Mas então quando poderei ir?

_ Cara porque insiste nisso se sabe que não tenho interesse em te convidar ao meu apartamento?

_ Eu já sei de quem é filho, do doutor Jean Rak, e do professor de educação física Humberto Guerra, mas a ponta solta está no seu amiguinho, ele é filho do reverendo Cássio Junqueira e eu não acredito que ele saiba da amizade do filho dele com você.

_ Cara na boa, se é o que eu estou imaginando, é a coisa mais repulsiva que um ser humano possa fazer, mas não irei ceder a nenhuma ameaça. Você não é bem vindo em meu apartamento.

_ Você é corajoso, mas já se perguntou se o Mikhael tem o mesmo pensamento que você?

_ Nós não somos amigos, não temos nenhum tipo de amizade, camaradagem, ou motivos para conversarmos, então vê se me esquece que eu não tenho tempo para pessoas como você.

_ Vai se arrepender Gillian.

Peguei Billy nos braços e me afastei, cheguei a casa dos meus pais e respirei fundo:

_ Filho, o que aconteceu, você está pálido.

_ Não foi nada pai Beto, cadê o pai Jean?

_ Está no hospital, hoje ele fará o plantão da noite. O que está acontecendo hein?

_ Um cara lá da faculdade que cismou comigo.

_ Cismou como filho?

_ Ele veio com uma história que o gaydar dele dizia que eu também era, que ele sabia ser discreto, eu logo cortei o assunto dizendo que não estava interessado, e que não tinha nada a esconder.

_ Fez bem, deixou claro que o rapaz não tinha nenhuma chance, mas então o que anda te perturbando nessa história?

_ Ele anda me stalkeando pai, hoje ele estava a minha espera em frente ao meu apartamento, eu saí com o Billy para passear e quando voltei ele estava lá.

_ E ele disse alguma coisa, te fez algo?

_ Não diretamente, mas fez uma ameaça velada, do tipo que irá contar ao pai do Mikhael sobre nós dois.

_ Entendo, pelo que vejo esse rapaz está procurando encrenca, por que sabe que o Mikhael é religioso, talvez seja a hora dele se decidir. Ele já está sabendo sobre o rapaz?

_ Não, o Raul quer conhecer o meu apartamento, mas eu deixei claro que isso não irá acontecer, mas eu temo que ele procure o Mikhael e faça uma ameaça a ele.

_ Não acredito, esse tipo de pessoas são sorrateiras, agem nas surdinas, como cobras rastejantes. Ele não vai querer usar todas as armas que tem.

_ Eu não cederei, não quero esse tipo de pessoas dentro da minha casa.

_ E você está certo, mas alerte o Mikhael em todo o caso, peça que ele o avise caso esse rapaz se aproxime dele, vou me unir a vocês para encontrar uma solução.

_ Obrigado pai, eu sabia que podia contar com o senhor.

_ Você pode contar comigo sempre meu filho.

Fui para casa tranquilo, decidido a falar com Mikhael no dia seguinte, o ideal era ele sair da redoma onde vivia e assumir de vez o que verdadeiramente sentia, mas já sabia que ele ainda não estava preparado a fazer, por isso tinha que alertá-lo para ficar atento aos movimentos de Raulf. 

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora