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Viemos para a fazenda um dia antes do casamento, a ansiedade já está fazendo o coração disparar a mil quase a sair pela boca, saber que esse agora seria o meu lar, o meu aconchego junto a Gillian e Billy era simplesmente um sonho sendo realizado, Billy corria livremente, latindo para Zeus que apenas relinchava em resposta aos seus latidos, estava ali na varanda, com os dois braços apoiado no batente da escada, quando fui surpreendido com braços a circular sobre meu quadril e receber um beijo em minha nuca, Gillian sempre me fazia esses carinhos, coisa que eu adorava, virei de frente para ele a buscar os seus lábios, em um beijo lento e demorado, o beijo cessou por que Billy latia próximo a nós como que para avisar que alguns carros estavam se aproximando, sorrimos e ficamos ali abraçados só esperando os nossos convidados chegarem para irmos os cumprimentar, eram os avós e tios de Gillian que vieram para a cerimônia, os pais deles vieram conosco na noite anterior.

Assim que eles estacionaram o carro, fomos recepcioná-los e recebemos um abraço apertado de cada um, dona Solange a avó de Gillian estava deveras emocionada, quando abraçou o seu Jean, não entendi muito bem o porquê ela chorava, Gláucia também estava com os olhos lacrimejantes, Beto abraçou Jean pela cintura, e balançava a cabeça oras negativamente, oras positivamente para as duas mulheres que estavam mesmo chorosas.

Os tios de Gillian se ocuparam de levar as malas para dentro, após nos abraçar, ainda faltavam os pais de Jean chegarem, Douglas, Stephanny e Eloá, o juiz de paz chegaria no dia seguinte apenas no horário da cerimônia.

Antes de entrarmos todos para a sede da fazenda, eu segurei o braço de Gillian, pois aquele comportamento de dona Solange me intrigou um pouco e eu queria entender o porquê do choro:

_ Gillian, aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?

_ Não Mik, não aconteceu nada.

Ele exibiu um sorriso, com uma expressão de não saber o que é que eu estava falando então emendei a pergunta:

_ Então, por que sua avó estava chorando desse jeito?

_ Ah, entendi. Ela estava lembrando-se do Gillian, aqui foi o último lugar onde ele esteve antes de ficar paralizado, ele tinha ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica), meu pai o trouxe aqui para passar um final de semana, eles passaram por momentos incríveis segundo o que meu pai sempre fala, mas a doença foi traiçoeira e na volta para a cidade à mudança de ar desencadeou em uma crise e ao ser levado ás pressas para o hospital ele ficou em preso ao oxigênio, pois já não conseguia puxar o ar por conta própria e perdeu todos os movimentos dos músculos, tudo o que ele movia era os olhos, meu pai e meus avôs até tentaram encontrar uma forma dele se comunicar através das letras, mas ele se recusou, a única vez que ele decidiu se comunicar foi para se despedir, dizendo que amava o meu pai.

Meus olhos encheram de água e Gillian me abraçou:

_ Ele foi muito feliz aqui, a doença já estava avançando e aqui foi o último lugar onde ele pode sorrir. As lembranças dele ainda são vivas nesse lugar, por isso minha avó fica emocionada, e com certeza ela ficará melancólica ao ver a foto dele no quadro.

_ Seu pai Beto lida bem com isso?

_ Meu pai Beto sabe que o Gillian foi o primeiro amor da vida do meu pai Jean, mas que infelizmente ele morreu e ficou eternizado no coração de todos, de inicio não foi fácil fazer meu pai se abrir novamente para o amor, meu pai Beto foi muito persistente e o conquistou, eu não consigo imaginar os dois separados, eles se amam tanto que meu pai Beto lida bem com o passado do meu pai Jean, assim como o meu pai Jean lida bem com o passado do meu pai Beto.

_ Mesmo tendo que ver a fotografia do Gillian na parede, ele não sente enciumado ao vir aqui?

_Eles vem pouco para cá, mas meu pai respeita os sentimentos do meu pai Jean, ele sabe que o Gillian foi alguém especial na vida dele, e teve que lidar com o fato do meu nome também ser Gillian e saber que recebi esse nome exatamente por causa do ex noivo do meu pai.

_ Eu imagino que não deve ter sido fácil para ele no começo.

_ Todo começo é algo que precisa ser adaptado, mas os meus pais se amam tanto que eu não os imagino um sem o outro,e se formos pensar, acho que foi exatamente o Gillian que os uniu para que meu pai Jean fosse feliz ao lado dele.

_ Por que diz isso, que foi o Gillian que os uniu?

_ Havíamos acabado de chegar dos EUA, e meu pai veio direto ao cemitério visitar o Gillian, eu fui com ele, e de repente nos deparamos com o meu pai Beto, eu tinha cinco anos, mas me lembro bem desse dia, eu gostei dele de imediato.

_ Seus pais se conheceram no cemitério?

_ Sim, diante do sepulcro do Gillian, por isso digo que não foi mero acaso, teve a benção dele.

_ Assim como não é mero acaso que nós dois estejamos aqui para nos casar.

_ Nada é por acaso Mik, desde que nos vimos a primeira vez eu senti que um dia você seria o meu esposo.

_ Acho que eu senti o mesmo, mas tentei resistir a você, ainda bem que você foi bastante resistente e me conquistava a cada minuto. Cada vez que eu te olhava, eu acho que me apaixonava mais, porém eu tentei negar esse sentimento, tentei calar a voz que me dizia para correr para os seus braços, me perdoa Gillian por ter feito você se esforçar tanto sendo que eu queria o mesmo que você.

_ Por você, eu me esforçaria ainda mais Mik, sabe, eu sempre achei as coisas fáceis demais descartáveis, perde a graça cedo, mas as que lutamos para conquistar irão dar mais valor, eu lutaria por você mil vezes mais por que sabia que valeria a pena, você é uma pedra bruta Mik, aquela a qual temos que lapidar, para transformá-la em uma jóia brilhante e valiosa, eu pagaria qualquer preço para estar ao seu lado.

_ E é por isso que eu aceitei me casar com você.

_ Só por isso?

Ele começou a me fazer cócegas só parando para beijar-me, e entre o beijo eu lhe respondia:

_ Não, eu aceitei por que te amo. 

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora