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Ele se foi, mesmo depois de declarar que me amava e ouvir de mim que também o amava, ele se foi, sentir que perdia Mikhael para que ele fosse viver uma mentira era frustrante, mas não tinha como interferir em suas escolhas, ele tinha que entender por si só que nunca seria feliz vivendo a vida que os outros queriam que ele vivesse e anulando o que de fato queria viver.

Na manhã seguinte, ele não foi para a faculdade, esperei por alguma mensagem que não chegou, no outro dia também não, não havia nenhum sinal.
Não é que eu tenha desistido, eu nunca desistiria de ser feliz, mas também não podia ficar dando murro em ponta de facas, assim como eu lutava por ele, queria também sentir que ele lutava por nós, mas não era o que eu sentia, o sentia cada dia mais distante. Eu entendia tudo o que ele passava claro que entendia, a pressão sobre ele era grande, mas até quando ele viveria daquela forma se mutilando para extravasar a sua frustração, eu não entendia como uma pessoa podia viver daquela forma, não isso não era vontade de "Deus".
A maldade do homem impedia que duas pessoas que se amavam ficassem juntos, não era Deus, e sim a incompreensão, o preconceito, a covardia.

Sempre que me sentia fragilizado, eu recorria ao colo de meus pais, e por dois dias pernoitei na casa deles, levando Billy comigo, eles me mimaram de todas as formas possíveis.

Ao tentar enviar mensagem a Mikhael, percebi que ele havia bloqueado o meu número, então liguei para ele, mas ele também não me atendeu.

No dia de uma das reuniões que ele frequentava, eu fiquei ao longe a observá-lo, ele caminhava de mãos dadas a tal de Talita se juntaram a outros jovens, todos riam menos ele. Não me aproximei, mas ele me viu, nossos olhares se cruzaram e ele não foi capaz de desviar. Todos entraram, e não sei o que ele disse a ela, mas ficou para trás e veio até mim:

_ Gillian o que faz aqui?

_ Sinceramente não sei Mik, visto que decidiu viver essa mentira.

_ Eu vou aprender a amá-la, assim como o meu pai aprendeu a amar minha mãe, eles também tiveram um casamento arranjado.

_ Boa sorte na sua tentativa.

Virei as costas pronto para ir embora quando ele perguntou:

_ Por que me torturar assim Gillian, para que veio, tudo seria tão fácil com você longe, mas não você vem me torturar, por que faz isso comigo?

_ Por que simplesmente te amo, e sinto que sente o mesmo que eu...

_ Mikhael... Quem é seu amigo?

Viramo-nos ao ouvir a voz da moça, ela se aproximou com um belo sorriso no rosto, me olhou e estendeu a mão:

_ Muito prazer, sou Talita.

Antes de segurar a mão dela, olhei para Mikhael:

_ Gillian.

_ Veio para a reunião?

_ Não!

_ Por que não fica?

Mikhael permaneceu todo o tempo de cabeça baixa, então emiti um respirar mais puxado e respondi a ela:

_ Talita né... As minhas crenças não limitam o que eu sinto.

_ Não entendi.

_ Não é nada não, é bobagem... Vou indo nessa, boa reunião para vocês, e, aliás, belo anel em seu dedo.

Ela olhou para o anel e sorriu:

_ O Mikhael que me deu, é o anel do nosso noivado, é uma jóia de família, a avó dele usou a mãe dele também e agora passou para mim.

_ Só me resta parabenizá-los não é mesmo. Bem... Preciso ir.

_ Não quer mesmo ficar para a reunião?

_ Talita não insiste, ele já disse que não.

Desde que Talita se juntou a nós, era a primeira vez que ouvimos a fala de Mikhael:

_ Gillian, depois conversamos.

Assim como eu ao me afastar olhava para trás, Mikhael fazia o mesmo. Vê-lo se afastar de mãos dadas àquela garota me deixava impotente, pois o que mais desejava era ir até ele e puxá-lo para os meus braços, mas estava ciente que não deveria fazer isso.

Ele jamais me perdoaria se fizesse isso, eu me sentia de mãos atadas, sem saber o que fazer para ele assumir o que verdadeiramente sentia.

Aquela noite retornei ao meu apartamento, pois suspeitava de que ele apareceria por ali, mas ele não apareceu, chegou o final de semana e surpreso fiquei com ele ali, parado junto a porta com uma mochila nas costas:

_ Mikhael?

_ Eu vim para irmos a sua casa de campo. Inventei uma história qualquer para o meu pai e tenho o final de semana todo para estar com você.

Não pensei duas vezes, arrumei uma mochila e coloquei o essencial, peguei o carro de meu pai, e fomos rumo a fazenda:

_ O que disse para seu pai?

_ Disse que alguns alunos da faculdade haviam sido escolhidos para um estudo em outra cidade.

_ E ele permitiu assim sem argumentar?

_ Ele acredita em mim Gillian, e isso acaba comigo, ter que mentir para ele é terrível, me faz sentir a pior pessoa que existe.

_ Para a Talita, pretende dizer a verdade?

_ Gillian, eu vim passar um final de semana com você, quer mesmo ficar falando sobre meus pais e sobre a Talita? _ Não foi você mesmo que disse que quando viríamos aqui, seria só nós dois?

_ Você tem razão, vamos viver esses dois dias como se nada lá fora mais importasse, como se no mundo só existisse nós dois.

Chegamos na fazenda sorrindo e brincando, eu o segurava pela cintura enquanto caminhávamos, cumprimentei os caseiros e apresentei ao Mikhael, depois fomos ao estábulo para que ele conhecesse o Zeus, Billy corria atrás dos bois, e nós dois ríamos:

_ Bem que a Stephanny disse que esse lugar é lindo.

_ É sim, aqui é maravilhoso. Mas falta você conhecer lá dentro. Meus pais já devem ter ligado para os caseiros antes de chegarmos e com certeza arrumaram a mesa e os quartos.

_ Vai mesmo me rejeitar mais uma vez?

_ Eu não te rejeito Mik, apenas não quero que seja uma noite apenas, quero fazer amor com você todas as noites, não como uma noite para ficar na sua lembrança enquanto faz sexo com a Talita.

_ Não é por isso que quero fazer amor com você.

_ Então por quê?

_ É a minha primeira experiência, e eu quero que seja com você.

Eu o beijei, ali não tinha nenhum empecilho para que ele não cedesse aos meus beijos, ali ele sentia totalmente em liberdade e muitas vezes ele mesmo me puxava para beijar-me:

_ Vamos entrar.

Assim que abri a porta, ele paralisou, depois calmamente foi aproximando do quadro na parede perguntando:

_ Gillian, quem é esse rapaz?

_ Esse é o noivo do meu pai Jean, ele faleceu antes que eu nascesse, mas eu recebi o nome dele.

_ Eu já vi essa fotografia Gillian... Nas coisas do meu pai.

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora