Eu faço o meu próprio paraíso

13

Não fui capaz de repeli aquele beijo, ao contrário eu o correspondi, cheguei fechar os meus olhos me deixando envolver pelos lábios de Gillian, mas quando dei por mim do que estava acontecendo eu o empurrei ao ponto dele cair sentado no sofá, e o repreendi, ainda que soubesse que ele não era o único culpado:

_ O que pensa que está fazendo Gillian?

_ Te beijando.

_ Não podemos, somos dois homens. Você não devia ter feito isso.

_ Eu não te beijei, nós nos beijamos Mikhael, e sinceramente você correspondeu, eu aceito até que você fale que eu forcei esse beijo, mas não poderá negar que também o quis.

_ Isso não deveria ter acontecido.

_ Isso iria acontecer de qualquer jeito, por mais que você fuja dos seus sentimentos era o que nós dois queria que acontecesse, mas e agora o que pretende fazer Mik?

_ Como assim o que pretendo fazer? _ Me diga Gillian, o que acha que devo fazer?

_ Não retroceda, é inadmissível que você se recuse ao que a vida está te oferecendo por causa de uma religião descabida que te impede de ser feliz, que te faz se autoflagelar.

_ Para você é tudo fácil, não existe pressão, você não acredita em nada, esse beijo foi um erro que não voltará a acontecer, você não tem direito de bagunçar assim a minha vida, não tem.

Ele segurou meu rosto:

_ Nega que gostou do nosso beijo, nega Mikhael. É uma pena que não consiga entender o que sente.

_ Eu sei bem o que estou sentindo Gillian, uma confusão momentânea, é isso o que tenho sentido, eu confesso que estou confuso, mas também sei que tenho que vencer essa confusão, isso me fará crescer para quando assumir o meu verdadeiro papel.

_ Verdadeiro papel? _ Tá certo Mikhael, eu não vou te desvirtuar, mas mesmo que eu me afaste, não poderá negar o que sente você é inteligente o bastante para saber que mesmo em sua convicção não poderá negar os seus sentimentos.

_ Você blasfema do que eu acredito?

_ Alguma vez você se perguntou o que eu acredito?

_ E você acredita em algo que não seja você mesmo Gillian, você é tão autossuficiente que tenho minhas dúvidas se crer em alguma coisa, mas mesmo assim irei perguntar no que acredita?

_ Eu acredito no amor, o sentimento mais puro, mais sincero, que não tem como esconder quando se sente, para mim Deus é amor, e Ele não se esconde, nem se nega, a qualquer pessoa, como uma pessoa que é apenas amor, pode odiar, pode renegar a outro só por que ama outro ser da mesma espécie. Não vê que quem condena não é Deus?

_ Sim Deus é amor, mas existem formas de amar errada, e por isso temos que consertar.

_ Eu espero que não tenha desistido de ir a casa dos meus pais, tenho esperança de que entenda o que é amar, somos uma família comum, mas algumas pessoas insistem em nos manter a margem com preconceito, com julgamento, mas tudo o que vivemos é o amor, meus pais são completamente apaixonados, e eu os amo além da minha vida, é nisso o que eu acredito Mik, no amor que eu vivo e presencio.

_ Eu não desisti de ir a casa de seus pais Gillian, mesmo sabendo que preciso ficar o mais distante de você, eu não desisti.

_ Do que tem tanto medo, é de assumir que pessoas do mesmo sexo são felizes quando se permite ser, ou que sua crença não é tão consolidada assim?

_ Eu não duvido que seus pais se gostem que eles tenham sentimentos, mas o casamento não foi criado para dois homens ou duas mulheres, o casamento foi criado com o propósito da procriação, e isso só um homem e uma mulher consegue fazer.

_ Oh Mik, seu pensamento é tão absoleto que preciso que conheça a minha história para que entenda. Meu pai Jean, namorou e noivou com um rapaz daqui mesmo da cidade, o nome dele era Gillian, recebi o mesmo nome por causa dele, enfim... Eles se amavam, e iriam se casar, mas o Gillian adoeceu de uma doença degenerativa e progressiva ELA esclerose lateral amiotrófica, ele acabou morrendo, meu pai para tentar aplacar a dor que sentia foi estudar nos EUA, lá ele me adotou, me amou e me fez o seu filho, quando completei cinco anos, ele resolveu voltar ao Brasil e aqui ele conheceu o meu pai Beto, eles se apaixonaram, mas meu pai estava ainda preso ao passado, e achava que iria trair o Gillian se ficasse com o meu pai, mas ele foi paciente e foi quebrando as amarras que meu pai Jean sentia. O resto da história você já conhece, eles se casaram e é os meus exemplos. A minha mãe biológica... Não sei quem é, não a conheço e nem sei o motivo pelo qual me abandonou, mas os dois me ensinaram a não odiá-la e nem a julgar, ao contrário eu agradeço a ela todos os dias, por que se ela não tivesse me abandonado eu não teria a oportunidade de ter aqueles dois homens como meus pais.

_ Gilllian...

_ Não precisa falar nada, talvez você ainda não compreenda, mas aqueles dois homens me aceitaram como o filho deles e me deram exemplos de amor, de respeito, do conceito de família. Eu sou a prova viva de que dois homens podem sim serem pais maravilhosos, de construir baseado no amor uma família linda, uma família feliz Mikhael, se no mundo fosse proibido uma família ser constituída por dois homens e apenas os dois resolvesse se rebelar, mesmo assim eu aceitaria ser o filho deles, mesmo se fosse preciso viver ás escondidas, ainda assim eu aceitaria ser filho deles.

Fiquei pensando em tudo o que ele havia me dito em silêncio, olhando-o, Gillian virou-me as costas abrindo a janela para olhar para fora, não tive coragem de dizer nada, minha vontade era de abraçá-lo, mas também não tinha coragem para fazer, então rapidamente fugi, sim eu fugi literalmente, abri a porta e fui embora sem nem mesmo despedir-me, eu preciso processar tudo o que ouvi.