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Aquela conversa durou um pouco mais até que acabei me despedindo para ir á faculdade, cheguei com antecedência no horário, Gillian ainda não havia chegado, eu sabia disso, pois o procurava com o olhar, passei pela portaria faltando cinco minutos para a aula e nada dele, assim que me sentei ele adentrou a sala e eu o questionei:

_ Qual o motivo do atraso?

_ Dormi pensando em você?

A caneta que estava em minha mão foi ao chão e eu fiquei o olhando surpreso pela fala dele:

_ Como é que é? _ Pensando em mim, que brincadeira mais sem graça é essa Gillian?

_ Não tem brincadeira nenhuma Mikhael, estive pensando no que me escreveu na mensagem, e fiquei feliz que você tenha aceitado o meu convite.

_ Nós fizemos um acordo, eu irei a casa de seus pais e você irá comigo em uma reunião.

_ Sim, mas me tira uma dúvida. Como achou que eu estava pensando em você hein?

Gillian esboçou um sorriso após a sua pergunta, e eu estremeci, pois se fosse sincero ao que ele me perguntava, iria gerar especulações embaraçosas que eu não gostaria de enfrentar, então me limitei na resposta:

_ Só fiquei surpreso com o que falou nada demais.

_ Eu não teria problema em falar tudo o que imagino.

_ Gillian, limite-se ao nosso acordo.

_ Eu sei, dei minha palavra de que iria a essa reunião não dei?

Paramos de conversar para prestar atenção a aula, e não fui rápido o suficiente para deixar a sala antes de Gillian me alcançar, e ele segurou o meu braço, justo o que eu havia feito o corte, doeu, e sem consegui conter soltei um leve e baixo gemido de dor, ele me olhou assustado de inicio, mas rapidamente sua expressão mudou, tornando uma expressão de dúvida:

_ O que significa isso Mikhael, quem fez esses cortes no seu braço. Você anda se cortando?

_ Isso foi um acidente.

Novamente ele puxou o meu braço, dessa vez com um pouco mais de força, ele ergueu a manga da blusa analisando aqueles cortes minuciosamente:

_ Isso não me parece nenhum pouco com acidente, você quer me explicar quem fez isso, ou o porquê você fez isso?

_ Isso é assunto meu Gillian, o que faço não é da sua conta.

_ Eu não acredito Mikhael, você cursa medicina e lidará com muitos casos tristes, você sabe disso?

_ E o que isso tem a ver?

_ Tem a ver, que eu presenciei o meu pai chegando arrasado todas as vezes que perdia um paciente na mesa de cirurgia, vi ele chorar muitas vezes no colo do meu pai Beto por um caso terminal e ele se sentir incapaz de ter salvo o paciente, é assim que lida com os seus problemas, se auto mutilando?

_ Você se acha muito esperta Gillian Rak, mas quer saber, não sabe nada a meu respeito.

_ Você tem razão, eu não sei nada a seu respeito, mas sei como é devastador você se sentir impotente diante de uma situação, e se você resolve os seus problemas dessa forma, me preocupo ainda mais.

_ Já disse que isso foi um acidente isolado, não sou tão fraco como você imagina.

Eu tinha vontade de sumir, desaparecer da frente dele, mas me sentia impossibilitado, pois sabia que ele não iria me permitir ir:

_ Vem comigo.

_ Para onde, não irei a lugar algum com você se não me falar para onde pretende me levar, então irá falar, ou poderei ir para minha casa?

_ Discutir está fora de cogitação Mikhael, você vem comigo querendo ou não. Mas vamos ao meu apartamento.

Eu sei que não deveria ir, que segui-lo ao seu apartamento era um erro, mas sim eu fui, ao chegar ele logo voltou a questionar-me:

_ Foi você que fez esses cortes?

_ Foi.

_ O que te levou a fazer isso?

_ É um assunto pessoal Gillian.

_ Por favor, não se negue a me explicar.

_ Todos esperam de mim algo que eu talvez não seja capaz de cumprir. Meu pai quer que eu assuma um papel que não me sinto pronto para assumir.

_ Talvez você deva dizer isso a ele, tenho certeza de que ele entenderá que o que quer para a sua vida foge ao que ele quer. Você é um cara incrível em todos os sentidos, seu pai deve ser muito orgulhoso do filho que tem.

_ Não se ele souber o que se passa dentro de mim Gillian, dos conflitos que tenho enfrentado.

_ Mas que conflitos são esses, divide comigo, talvez eu possa te ajudar.

_ Gillian...

Ele me encarava:

_ Mik, o motivo pelo qual se cortou foi eu... Eu fui o causador.

_ Não foi você, foi eu, eu me sinto sujo, impuro e precisava me sentir bem de alguma forma. Você nunca vai entender Gillian.

_ Me conta o que tanto angustia você?

_ Eu preciso tirar certa coisas do pensamento.

_ Que certas coisas?

_ Parece que você tem prazer em me torturar, por que pergunta se já sabe o que acontece aqui dentro de mim, Gillian você se infiltrou na minha mente e não sai de jeito nenhum.

Ele tentou se aproximar para me abraçar, mas o retive com um espalmar de mão:

_ Não se atreva.

_ Mikhael, por favor, me deixe cuidar de você.

Permissivo eu deixei que ele me abraçado, e ele até que tentou beijar-me, mas no último segundo eu consegui ser forte o suficiente para desviar e me apoiei em seu corpo, as lágrimas a escorrer, ele deixou eu me acalmar e depois pediu:

_ Almoça comigo?

_ Não posso, eu preciso mesmo ir, foi um erro ter vindo?

_ Somos amigos.

_ Amigos? _ Gillian a quem está querendo enganar, nós dois sabemos o que está se passando aqui, e é exatamente por isso que foi um erro ter vindo, você é a minha provação eu já entendi que tenho que ser forte para vencer a tentação.

_ Tentação... Essa é a primeira vez que se refere a mim assim.

_ Você me faz sentir coisas que eu não quero como quer ser chamado se não tentação, como me explica isso?

_ Você está complicando uma coisa simples, a vida não é esse bicho de sete cabeça que você está pintando Mik, ela é simples.

_ Essa vida pode ser assim, mas e depois quando você morrer, para onde quer ir?

_ Como assim para onde quero ir?

_ A eternidade Gillian, para onde pretende ir?

_ Está falando de céu e inferno?

_ Exatamente.

_ Esse lance de eternidade para mim é um enigma que eu não tenho curiosidade de desvendar Mik, mas o paraíso sou eu quem faço, e vou te mostrar.

Ele segurou o meu rosto com as duas mãos diminuiu a distância entre nossos lábios e beijou-me.

Eu faço o meu próprio paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora