No dia marcado, toda a nossa família, os tios, avós, Stephanny, Douglas, Jean, Beto, Gillian e eu fomos a reunião na sinagoga, os olhares direcionados a nós era tão constrangedor, tão inquietante que se Gillian não estivesse ao meu lado era capaz de eu sair correndo daquele lugar, meu pai ainda estava na sala com os cooperadores, mas não demorou para que ele assumisse o seu lugar no púlpito, antes de pronunciar alguma palavra, ele buscou com o olhar a mim e a toda a nossa família e sorriu:
_ Shallon a todos. Hoje é uma noite muito especial para mim, uma noite em que uma decisão muito importante foi discutida com os cooperadores e venho aqui comunicar a todos.
Cássio respirou pausadamente e sorriu:
_ Eu estou na frente dessa congregação, a mais ou menos uns quinze anos, e muito dos que se encontram aqui nessa noite já estavam aqui quando meu filho resolveu se assumir o seu relacionamento com o namorado, eles completaram dez anos de casados. Filho venha aqui, por favor, Gillian você também.
Tanto Gillian como eu nos olhamos, e levantamos lentamente caminhando até o meu pai, os olhares de todos nos seguiam, ficamos frente a frente com o meu pai:
_ Irmãos, esse é o meu filho e esse outro rapaz é o marido dele, eles se amam muito, mas quando eles resolveram ficar juntos eu me neguei a aceitar, talvez muitos de vocês dirão que eu fiz certo por causa da religião, mas durante todo esse tempo eu me perguntei que tipo de pai eu me tornei?
Ele ficou um minuto em silêncio, assim como todos os presentes estavam, somente esperando o reverendo continuar a fala:
_ Eu fui intransigente com o sentimento do meu filho, por ser um reverendo me coloquei como representante majoritário de Deus, porém que procuração Ele me deu para me achar mais santo, mais digno do que qualquer outra pessoa, ai vocês podem dizer mais é "Pecado", e nós também não somos pecadores, que garantia você tem que o seu pecado será perdoado e o dele não será?
Mais uma pausa:
_ As escrituras nos ensina que somos perdoados assim como perdoamos, o perdão diz muito mais a seu respeito do que ao respeito do outro, diz mais sobre quem perdoa do que sobre quem é perdoado, como muitos sabem aqui eu estou doente, e foi nessa congregação onde eu mais julguei o meu filho, por essa razão deveria ser nesse lugar o momento de restituí-lo em sua dignidade, Gillian... Mikhael, eu quero pedir aos dois perdão, e quero declarar diante de todas essas pessoas que eu te amo meu filho, meu genro.
Entre lágrimas o reverendo pedia perdão aos dois, o silêncio entre os irmãos ainda era quase palpável, o momento era realmente comovente, Mikhael abraçava o pai e depois o reverendo abraçou também o Gillian, passados esse momento, ele novamente tomou a palavra:
_ Irmãos eu estou aqui confessando o meu pecado diante de todos vocês, e não poderia deixar de pedir perdão a uma pessoa que eu senti uma imensa inveja, e por causa dessa inveja que eu sentia eu tentei prejudicá-lo, usando vocês para me vingar, mas o divino é justo e não permitiu que desse certo, muitos aqui vão se lembrar quando fizemos aquele abaixo assinado para tirar o doutor Jean do hospital da cidade, muito de vocês assinaram, e hoje o doutor Jean está aqui, ele e o esposo dele e eu gostaria de convidá-los aqui a frente, irmãos o doutor Jean é pai do meu genro.
Jean e Beto se aproximou e entre lágrimas o reverendo se ajoelhou diante deles:
_ Jean... Beto, eu quero pedir perdão aos dois, quero que toda essa congregação veja o quanto estou arrependido do que fiz, por que estava usando uma posição religiosa que eu tinha para uma vingança que nenhum dos dois merecia. Eu não sei como os irmãos recebem esse momento no coração de cada um, mas eu posso dizer que eu estou leve, tranquilo com eles, comigo e com Deus.
Ele sorriu para mim:
_ O meu sonho foi que meu filho seguisse os meus passos, ele assumindo ser gay, o impedia de viver aquilo que eu sonhei para ele, mas esqueci dos sonhos que ele teria para ele, das vontades dele, as minhas expectativas, não eram as expectativas dele e o certo era eu o apoiar em seus sonhos, em suas expectativas, mas não, eu virei as costas para ele e coloquei vocês também contra eles, irmãos eu também devo perdão a cada um de vocês, talvez como reverendo, como líder da congregação eu posso colocar a culpa na sociedade, na religião, mas como homem não posso anular a minha culpa, e por causa da minha culpa pessoas são hostilizadas. Por isso o meu pedido de perdão vai ao Jean, ao Beto e a toda a sua família, vai também para vocês meus irmãos, mas principalmente o meu pedido de perdão estende ao meu filho e ao meu genro. Vocês me perdoam?
_ Sim, pai nós o perdoamos, claro que o perdoamos.
Todos se abraçaram, e depois o reverendo novamente tomou a palavra:
_ Irmãos como eu disse antes, eu tomei uma decisão muito importante e já discuti sobre isso com os cooperadores, e agora irei comunicar a todos vocês, eu estou abrindo mão do cargo de reverendo dessa congregação, o nosso irmão Fabrício irá assumir a esse cargo, eu assumir esse cargo, mas antes de mim o meu pai assumiu esse cargo, mas eu não me sinto digno de continuar na frente dessa congregação.
A reunião terminou, alguns poucos irmãos vieram abraçar o reverendo e cumprimentar a todos nós, mas a maioria dos irmãos ignorou a nossa presença ali, outros saíram murmurando ofensas não apenas a nós como ao reverendo:
_ O que esse homem está dizendo agora, que nós somos os errados pelo filho dele viver no pecado?
Eu já estava prestes a retrucar quando o meu pai colocou a mão dele sobre a minha:
_ Não filho, não vale a pena. Não tenho pretensão de mudar o pensamento deles, o que eu quero é saborear essa paz que sinto em saber que você me perdoou o que eles sentem que o divino se encarregue de tratar com eles.
_ É isso meu amor, seu pai tem toda a razão, as pessoas tem que aprender a ser responsável por suas próprias atitudes, meu sogro, agora que tomou a decisão de deixar de ser reverendo, quem sabe aceite a ir morar na fazenda com o seu filho, sei que isso fará bem aos dois, como o senhor disse o senhor está doente, e o Mikhael ficará mais sossegado em tê-lo por perto.
_ Morar com vocês?
_ Boa ideia meu amor, aceita pai.
_ Não sei, não quero atrapalhar a vida de vocês.
_ Não vai atrapalhar em nada seu Cássio, e lá o lugar é espaçoso, a sede que é onde moramos, mas temos uma choupana para quando recebemos os amigos, se o problema for morar conosco na sede, poderá ficar na choupana a vontade, mas é o nosso desejo que fique conosco lá na fazenda.
_ Aceita Cássio, o seu filho e o meu filho estão fazendo esse pedido de coração.
_ Jean... Eu não sei se posso, você e o Beto tem muito mais direito de estar perto deles do que eu.
_ O Beto e eu temos a nossas vidas consolidada aqui Cássio, tratar desse povo naquele hospital é a minha responsabilidade no momento, mas o que o prende aqui?
_ Nada pai, a mamãe não está mais aqui para te fazer companhia, e a sinagoga, bem...
_ Então se é assim eu aceito. Obrigado meu genro, obrigado filho. Obrigado por me perdoar.
_ O amor que lhe tenho pai, vai muito além do que a mágoa, eu sou um homem bastante afortunado sabe, Deus me deu uma mãe que era uma mulher valente, uma mulher que entrava em guerras e só saia dela ainda mais fortalecida, me deu a família do Gillian que me aceitaram sem perguntas, sem questionamentos e me amaram, me aceitaram, me deu o senhor que me ensinou princípios que estão gravado aqui no coração, ficamos distantes um do outro sim, mas nunca me esqueci do que me ensinou, e me deu o Gillian que abriu uma porta que exigia de mim, uma coragem que outrora eu não tinha pai.
Olhei para Gillian e sorri olhando fixamente em seus olhos:
_ Eu amo esse homem pai, e sou amado por ele, isso vai muito além do que os olhos conseguem enxergar, do que a visão humana consegue dimensionar, é algo divino, maior do que qualquer outro sentimento.
_ Seu Cássio, eu ficarei muito feliz se aceitar ir morar conosco, por que amar é isso, amar é priorizar a felicidade do outro antes da nossa, e eu sei que para o Mik será muito importante que o senhor venha morar conosco, eu amo o seu filho, e a felicidade dele é o que mais importa.
_ Como podem depois de tudo demonstrar tamanha benevolência assim comigo depois de todos os males que fiz a todos, eu não mereço, não mereço filho.
_ Pai, o senhor prega tanto sobre a graça, tanto sobre o favor imerecido que recebemos de Deus, se Deus perdoa a cada um os nossos pecados, quem somos nós para acharmos que o outro não merece algo, o senhor é o meu pai e eu vou sempre te amar, vou sempre o respeitar, e o Gillian tem toda a razão, eu ficarei... Nós ficaremos muito feliz se o senhor vier morar conosco.
_ Então se é assim eu aceito ir morar com vocês.
Feliz tanto Gillian como eu abraçamos o meu pai, não tinha como ser diferente, pois o amor é isso, é perdoar os erros e procurar corrigi-los. É fazer de cada dia uma nova chance de construir o seu próprio paraíso. O meu paraíso foi construído com lágrimas, com renúncia, com escolhas e com muito amor.
Cada minuto é uma chance ao recomeço, se errar não deixe para amanhã, o tempo voa, corrigi logo e liberte-se das amarras invisíveis que o poderá prender, eu estou feliz, me sinto revigorado na minha força, na minha esperança, na minha fé, sou agraciado com uma família que me ama, se isso não é felicidade eu desconheço o sentido da palavra, se isso não é amor, eu mesmo quero fazer o meu próprio paraíso, e o meu paraíso é junto aquelas pessoas que amo, pessoas que admiro, se isso não é amar, se isso não é benção dos céus, eu simplesmente quero fazer o meu próprio paraíso, ou melhor continua o meu próprio paraíso junto ao Gillian.
Fim!
Espero que gostem.
By: Andrea
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Eu faço o meu próprio paraíso
RomanceEu faço o meu próprio paraíso... É a continuação do livro "Meu ex- O tempo não para. Diante do desafio que a religião impõe Gillian se vê completamente apaixonado por Mikhael que acredita fielmente que irá para o inferno se por acaso se entregar ao...