Eu faço o meu próprio paraíso

18

Fiquei esperando o meu pai até tarde, ele chegou exausto, parecia abatido:

_ Pai o que foi que aconteceu?

_ O filho do Ronaldo que está com problemas filho, ele foi flagrado com outro rapaz aos beijos. Está querendo deixar a esposa e filhos para ir morar com esse rapaz.

_ O que vai acontecer com ele agora pai?

_ Ele irá trilhar um caminho de pecado, e não sei se um dia encontrará o caminho de volta a luz. O Ronaldo está devastado.

_ Viver uma mentira, um casamento de fachada também não é pecado?

_ Eu não entendo a sua pergunta Mikhael, ele quer sair de um casamento estável para cair em um buraco sem fundos.

_ Um casamento estável e sem amor.

_ Amor... O que é que vocês jovens entendem por amor filho. Assim como o filho do Ronaldo eu também tive minhas confusões quando jovem, também questionei o que era certo e o que era errado, e olha para mim hoje, sou respeitado, tenho minha esposa e meu filho do meu lado, me apoiando, e isso é o certo, esse rapaz vai abandonar a família, a religião para viver a margem da sociedade, vai ter que abaixar a cabeça quando encontrar acidentalmente os pais na rua pela vergonha que causou a eles, por um "amor" que acredita ser real mais não é.

_ E como pode saber que não é real pai, nós também não estaríamos julgando o rapaz ao dizer que o que ele sente não é real?

_ Muito me admira você ter esses pensamentos Mikhael, esse amor não é real por se tratar de dois homens, dois homens e duas mulheres não podem se envolver, não percebe que não dá encaixe, ou falta ou sobra, a vida é perfeita filho, nada que foi feito, é imperfeito.

_ Eu só acho que temos o livre-arbítrio para tomar decisões, mesmo que erradas.

_ Se você ver uma pessoa estar próxima a um penhasco e você tem o poder de não a deixar cair, vai ficar com os braços cruzados Mikhael, ou irá ajudá-la?

_ A esposa aceitaria ficar com ele, mesmo depois dele ter ficado com o rapaz?

_ Ela é uma boa esposa, o erro não está sobre ela. O rapaz está perdido filho, quer de todas as formas sair de casa para morar com outro homem, mas o Ronaldo já avisou que se ele fizer isso poderá esquecer que tem pai e que tem mãe, filhos e esposa. Muito triste isso.

_ E se fosse eu pai, o senhor também me excluiria?

Meu pai me olhou demorado me analisando em silêncio, depois de minutos quebrou o silêncio:

_ Você não me daria um desgosto desses Mikhael, eu o conheço bem para saber que não me daria um desgosto desses.

Ele deu duas tapinhas no meu rosto e se afastou indo para o quarto, eu fiquei ali sozinho me sentindo a pior pessoa da face da terra.

Fui para cama tarde naquela noite, o sono não dera as caras, e quando amanheceu o dia quando acordei meu pai já me esperava:

_ Mikhael, acho que chegou a hora de você começar a exercer algumas funções na sinagoga, hoje você ficará responsável por acender a menoráh, no começo da reunião.

_ Não sei pai, talvez seja melhor pedir a outra pessoa.

Ao notar seu olhar de repreensão logo entendia que ele não havia gostado da resposta:

_ Aprenda uma coisa Mikhael, não é todos que recebem essa dádiva, não a desperdice.

_ Tudo bem pai, acenderei a menoráh na reunião.

Logo na entrada da faculdade encontro Gillian a minha espera, seu sorriso estava ainda mais eufórico do que de costume, ele caminhou até mim já dizendo:

_ Tenho uma surpresa para te mostrar depois da faculdade, está lá no meu apartamento.

_ Hoje Gillian,não sei... Sinto muito mais hoje tenho compromisso com algo que prometi a meu pai, se faltar ele pegará no meu pé.

_ Poxa, eu queria tanto que fosse ver a surpresa, estava ansioso para te convidar.

_ Amanhã, eu prometo que amanhã eu irei sem falta. Essa surpresa pode esperar até amanhã?

_ Poder até pode né.

_ Tudo bem Gillian, só poderei ficar alguns minutos, nada mais do que alguns minutos.

_ Eu prometo não te prender.

Nesse exato momento alguns rapazes passaram nos olhando com certa malícia, entre eles estava Raulf que era o que mais nos encarava entre risos, fingir não notar, embora aquilo me incomodou, mas minha atenção foi voltada ao trabalho que o professor estava nos passando e depois da aula fomos ao apartamento de Gillian que era só sorrisos, antes de entrarmos ele pediu:

_ Fecha os olhos Mik.

_ O que é que está aprontando Gillian?

_ Você vai gostar eu prometo, agora fecha os seus olhos.

Obedeci, fechei os meus olhos, não trapaceei, mas assim que ele virou a chave na fechadura e ouvi o ranger da porta já escutei o latido de Billy e abri os meus olhos rapidamente, retirando a mão dele dos meus olhos:

_ Você conseguiu trazê-lo para sua casa, que incrível Gillian, o Billy é realmente nosso?

_ Meus pais se responsabilizaram por ele, mas ele é sim nosso bebê.

A alegria foi tanta que ele abraçou-me, beijando-me e por fim se ocupou de acarinhar Billy que gostava de seus afagos chegou a virar de barriga para cima para receber mais carinho, de repente ele se levantou apressado:

_ Gillian eu me distrai com o Billy e nem percebi a hora passar, eu preciso ir.

_ Por que sair assim tão apressado?

_ Eu te falei que tinha um compromisso, meu pai estava me esperando na sinagoga, mas eu esqueci completamente.

_ Ele vai entender que você não conseguiu ir vê-lo.

_ Não é tão fácil assim não Gillian, era um compromisso sério, e agora como poderei explicar que estava com o meu namorado brincando com o meu cachorro?

_ Eu gostei muito de ouvir...

_ Ouvir o que?

_ Meu namorado e meu cachorro.

_ Eu não sei como define o que temos, mas sim estamos namorando. Afinal não podemos negar que temos algo não é?

_ Por que não fica e te mostrarei o que acho de tudo isso? _ Já se atrasou mesmo, poderia ficar.

_ Não posso, eu realmente tenho que ir.

Despedi-me dele com mais um beijo, e fiz carinho no Billy:

_ Não se esqueça de levá-lo para passear Gillian, ele também necessita de ver a luz do dia.

_ Pode deixar que eu cuidarei bem do nosso bebê.