[01] Desconhecido

515 62 13
                                    

#IntrometidoEsquentadinho

🌻

— PEGUEM ELE! — Um dos garotos gritou enquanto corriam atrás da sua vítima.

Gulf Kanawut corria, tentando não errar o caminho, ao mesmo tempo que esquivava-se das pessoas, esforçando-se para não deixar suas pernas falharem devido ao cansaço da corrida. O motivo da fuga? O trio de valentões que estava atrás dele.

Kanawut sempre foi na dele e evitava ao máximo qualquer confusão, mas já havia um tempo que esses três garotos vinham testando a, quase inexistente, paciência que ele tinha. E hoje foi o estopim, o trio o cercou na saída do colégio e foi aí que a briga começou, Gulf conseguiu derrubá-los e aproveitou para correr. Ele sabia se defender, mas também sabia quais brigas comprar e com certeza suas habilidades não eram tão boas para cogitar enfrentar três garotos de uma vez.

Era possível ouvir seus gritos o insultando e o mandando parar. Ordens essas que, obviamente, não obedeceu, essa decisão só fez com que a fúria deles aumentasse e como um bom sortudo que era - note o leve tom irônico dessa fala - acabou virando em uma rua sem saída onde nenhuma alma boa passava, já que teve a brilhante ideia de pegar caminhos menos movimentados, sério, quem é burro o suficiente para ir a locais praticamente desertos em uma fuga? É pedir para morrer, no seu caso, apanhar.

— Avisamos que se corresse seria pior! — o líder deles, Boss, falou.

Boss era um repetente que adorava encher o saco dos outros, tendo Aom e Kraam como seus fiéis cães de guarda, esses dois obedecem tudo que ele manda, acho que se Boss os mandasse pular da ponte eles iriam.

— Segurem ele!

Gulf desviou dos dois que vieram em sua direção, tentou pensar em uma maneira de escapar, enquanto se defendia. Para fugir pela rua teria que passar pelos garotos o que, depois de uma corrida exaustiva, não seria nada fácil, sua segunda opção era escalar a grade que separava a rua em que estava de um terreno nem um pouco convidativo. Nenhuma das opções eram boas e ele tinha certeza que iria sair perdendo em qualquer decisão que tomasse.

Em um momento de distração acabou levando um soco na boca do estômago, ação que o deixou sem ar por tempo suficiente para os dois cães agarrarem seus braços o impedindo de fugir novamente. Boss não pensou duas vezes antes de acertar um soco em seu rosto, depois outro em seu estômago e não esperou que Kanawut recuperasse o ar antes de intensificar os golpes.

Ele só queria viver em paz, na sua, sem criar confusão com ninguém. Não era pedir muito, era? Ele não conversa, nem fica no caminho de ninguém, então não encontrava sentido em ser alvo daquele trio. A gente colhe o que planta, mas muitas das coisas que está colhendo ele tem certeza que não plantou, alguém invadiu sua plantação, tem quase certeza! Ou talvez, em uma outra vida, ele tenha assassinado ou maltratado centenas de pessoas e está pagando nessa, porque é a única justificativa!

Perdeu as contas de quantos golpes recebeu ou quantos insultos sem motivos foram direcionados a si, mas sabe que foram suficientes para sentir o gosto ferroso de sangue em sua boca e perceber os sons ficando cada vez mais distantes. Mas antes de realmente perder a consciência escutou, ao longe, a voz de alguém.

— Não é uma briga muito justa! — a voz desconhecida falou — Três contra um? Quanta covardia!

— Não se intrometa, isso não é assunto seu!

Boss falou, deixando Gulf de lado por alguns instantes, este que aproveitou a distração para, com a perna direita, derrubar Kraam, que soltou seu braço. Aom percebendo a movimentação tentou imobilizá-lo, mas em troca recebeu uma cotovelada no peito, antes que conseguisse escapar, Kraam, que levantou enquanto a confusão rolava, desferiu um soco em sua face que o deixou desorientado. O estranho finalmente se envolveu, imobilizando e derrubando os três garotos.

— Minha intenção era resolver isso pacificamente, mas vocês não me deram muitas opções. — ele falou se abaixando perto do trio — Então vocês podem simplesmente dar o fora daqui ou eu ligo para policia e resolvemos isso na delegacia, eles vão alegar legítima defesa da nossa parte ao olharem o estado do garoto, quem vai sair perdendo nessa? — os três continuaram calados — Dou cinco segundos para vocês saírem daqui... cinco... — começou, levando a mão ao bolso que se encontrava o celular — quatro... — eles se levantaram — três...

Antes de chegar ao "dois", o trio de amigos já estava longe. O desconhecido levantou e caminhou em direção a Gulf que tentava normalizar sua respiração, esticou a mão colocando uma mecha de cabelo de Kanawut atrás da orelha, este que se assustou com o toque repentino.

— Hey! Calma, eu não vou te machucar, consegue levantar? — Gulf recusou ajuda do outro, se apoiou na parede e tentou levantar, falhando algumas vezes, mas se afastando toda vez que o garoto tentava o ajudar.

— Eu disse que não preciso de ajuda! — esbravejou.

— Na verdade, não disse. — falou em tom de brincadeira.

— Então eu falo agora: não preciso e nem precisava da sua ajuda! — ele estava irritado, mais consigo do que com o garoto, mas estava descontando nele sem perceber.

— Não foi o que eu vi há alguns minutos atrás. — cruzou os braços tentando entender o que se passava na cabeça do outro.

— Por que você não cuida da sua vida?! — perguntou irritado.

— Você está chorando? — o garoto se assustou, arregalando os olhos e, por impulso, se aproximou de Gulf que recuou.

— Não estou! — enxugou os olhos

Estava sim, mas nem sabia o porquê, mas não queria admitir isso para o cara a sua frente, por isso recolheu sua mochila e saiu, fazendo questão de esbarrar no ombro do desconhecido.

Gulf torceu, orou, pediu a qualquer força existente na Terra ou no universo, que não se encontrasse com esse garoto novamente, mas, pasmem, esse não seria seu último encontro.

Um Anjo em minha Vida | MewGulfOnde histórias criam vida. Descubra agora