[10] Guerra de Sorvete

410 45 19
                                    

#IntrometidoEsquentadinho

🌻

O dia passou rapidamente, e agora a dupla de amigos, que não desgrudava-se um segundo sequer, encontrava-se em uma sorveteria do shopping, apenas conversando sobre assuntos aleatórios e banais, enquanto cada um saboreava seu sorvete.

No meio da conversa, Mew esticou o braço na intenção de roubar um pouco do sorvete da taça de Gulf, este que bloqueou com sua colher dando início a uma luta de talheres, ambos "atacavam" como se estivessem usando espadas. Uma "guerra" bastante infantil, com direito a trilha sonora, mas que rendeu muitas risadas.

Suppasit defendia sua taça e aproveitando a distração para, com o dedo indicador, pegar um pouco do seu sorvete e passar na ponta do nariz de Gulf. O que foi sujo, se surpreendeu com a atitude e para se vingar, passou o lado de baixo da colher em seu sorvete e, enquanto tentava afastar as mãos de Mew do seu talher, lambuzou a bochecha do amigo, iniciando uma guerra melequenta e grudenta de sorvete.

Depois de quase serem expulsos pela bagunça que fizeram, a dupla dirigiu-se para o banheiro a fim de se limparem, o que resultou em uma nova guerra, mas dessa vez de água, rendendo uniformes meio molhados e cabelos pingando. Após toda essa brincadeira resolveram assistir um filme e, sentados nas poltronas do fundo, eles apenas aproveitavam a companhia um do outro, enquanto dividiam um balde enorme de pipoca.

A tarde passou assim, com Mew e Gulf desfrutando da presença um do outro. Agora eles estavam no carro com Tong e Fluke, que insistiram em buscá-los e levar Gulf para casa, alegando estar tarde demais para uma criança andar sozinha na rua.

— Aonde você estava?

Essa foi a primeira coisa que Gulf escutou quando entrou em casa. Seus pais estavam sentados no sofá o encarando com um olhar nada amigável. E foi aí que Kanawut se lembrou que estava fora de casa desde ontem, e talvez ele estivesse um pouco encrencado.

— Estou esperando uma resposta, Gulf Kanawut! — o pai falou, totalmente impaciente.

— Estava com um amigo. — respondeu em um tom baixo, deixando sua mochila ao lado da porta.

— Não sabe pegar esse celular pra avisar não? — o homem tinha uma expressão séria, enquanto encarava o filho, esperando por uma explicação.

— Eu esqueci. — mentira.

— Então por que não atendeu minhas ligações? — o mais velho ficava cada vez mais irritado.

— Meu celular descarregou. — outra mentira, Kanawut apenas colocou o aparelho no silencioso para aproveitar sua tarde com Mew.

— Você tem celular pra que então? — sua voz expressava sua irritação.

— Não sabia que se importava com o paradeiro do seu filho. — falou sem pensar, a sua voz tão baixa que parecia um sussurro.

— Você ainda tem a audácia de me responder? — aproximava-se de modo intimidador do garoto, que apenas recuava discretamente. — Ficamos preocupados, sua mãe principalmente. Você sabe o quão sério foi o que você fez? Sair sem avisar, não dormir em casa, você ainda mora conosco, nos deve satisfações, não pode sair quando bem entender.

— Como se vocês importassem comigo. — despejou.

— O que você disse? — perguntou irritado.

— Como se vocês importassem comigo. — repetiu.

— É claro que nos importamos, meu filho. — foi a vez da mulher falar. — O que te leva a pensar que não?

— Tudo?! — respondeu como se fosse óbvio. — Vocês vivem para trabalhar...

— Nós trabalhamos para te dar uma vida melhor! — o pai respondeu.

— O que isso importa se eu não tenho o principal que é a atenção de vocês?! 

Gulf estava chateado, irritado e com um nó gigantesco na garganta. Não esperou uma resposta dos dois, apenas subiu as escadas e trancou-se no quarto. Seus pais foram atrás, mas Gulf não abriu mesmo com os gritos do homem, Kanawut chorava no canto do quarto e se esforçava ao máximo para conseguir respirar, parecia que seus pulmões estavam em chamas, tentava de toda forma se acalmar mas nada adiantava. Sua situação piorou ao ouvir barulho de chaves e a porta ser aberta, levantou-se rapidamente sentindo o mundo girar em sua volta, porém manteve-se firme, esperando o que vinha a seguir.

— A nossa conversa não terminou! — o homem falou irritado, Gulf nada disse. — Eu não sei que tipo de influência você anda tendo, mas saiba que não aceito esse tipo de comportamento dentro da minha casa — o mais velho estava furioso, contudo ainda mantinha uma certa distância do filho. 

— Esse comportamento é de um filho que não aguenta mais! —forçou-se a dizer — De um filho que não nem um terço do carinho dos pais, de um filho-

Sua fala foi interrompida por um tapa que acertou a lateral do seu rosto o deixando sem reação, foi seu pai, seu pai havia lhe batido. O mais velho, ao dar-se conta do havia feito, arregalou os olhos e, com um arrependimento no olhar, aproximou-se do filho, este que apenas recuava, balançando a cabeça em negação tentando absorver o que tinha acontecido.

— Gulf... Eu não queria... me... me desculpa... Gulf... Por favor...

Ele estava desesperado, nunca tinha levantado a mão para ninguém, não era a favor da violência, mas acertou um tapa em seu filho. Ele bateu em seu único filho em um momento de raiva, estava sentindo-se muito culpado, não queria ter feito aquilo, encontrava-se em conflito com seus princípios, ao passo que tentava retomar o controle da situação, mas era tarde demais, Gulf já descia rapidamente as escadas, correndo para fora de casa e quando conseguiu, finalmente, voltar a realidade, já não era possível encontrar sinais do seu primogênito na rua, ainda mais com a chuva que caia.

— Você fica aqui, está chovendo muito, eu vou procurá-lo, Gulf não deve ter ido muito longe. — o homem falou para a esposa, pegou a chave do veículo e saiu

Kanawut corria e corria, ele queria estar com o Mew agora, ele necessitava estar com o Mew nesse exato momento, mas os últimos acontecimentos e o choro o atrapalhavam na busca pelo caminho da casa do outro. Cansado de correr e encharcado pela chuva que caia, sentou-se em um banco de uma pequena praça, respirou fundo pegando seu celular para poder ligar para Suppasit, que atende no segundo toque, com a voz animada.

Já está com saudade, senhor Esquentadinho? Mew brinca do outro lado, Gulf queria muito rir, ou dar uma má resposta apenas por implicância, mas tudo que ele quer nesse momento é chorar, chorar e chorar. Ele tenta disfarçar a voz embargada, pois sabe que Suppasit sairia desesperado se soubesse o estado em que estava, mas sua tentativa falha assim que um soluço de choro escapa. — Gulf? O que aconteceu? Você está chorando? — sua voz, antes calma, agora expressa preocupação, o que só faz com que o choro de Gulf se intensifique. — Aonde você está? — não recebeu uma resposta. — Me mande sua localização, okay? Me espere aí, eu já estou chegando. — Kanawut mandou sua atual localização para Mew que apareceu em menos de meia hora, com Tong e Fluke.

Gulf estava encolhido no banco quando Mew aproximou-se com Fluke logo atrás com um guarda-chuva para tentar protegê-los. Ao sentir a presença de Suppasit, Kanawut não teve outra reação senão abraçá-lo, sentir seu cheiro o acalmou por uns instantes, antes do ardor em sua bochecha o trazer de volta a realidade.

— Mew a chuva está muito forte, temos que sair daqui. — o mais velho falou.

Tentou levantar Gulf, mas este parecia exausto demais para fazer qualquer movimento, pegando-o em seu colo o carregou até o carro. Nenhum dos três perguntou nada, nem mesmo sobre a visível marca avermelhada em sua bochecha, Suppasit deixou que o amigo apoia-se em seu ombro, enquanto seu corpo era dominado pelo sono. Ele estava no seu porto seguro.

Um Anjo em minha Vida | MewGulfOnde histórias criam vida. Descubra agora