Um Anjo em minha Vida | MewGulf

[09] Sentimentos

#IntrometidoEsquentadinho

🌻

— Está tudo bem, Gulf? — Mew perguntou.

— Oi? — fez de desentendido — Está sim, só estou sem sono. — sorriu tentando disfarçar.

— Gulf, você pode confiar em mim, tá bom? — não esperou uma resposta, apenas continuou: — Eu sei que você não avisou seus pais! — Kanawut virou rapidamente encontrando o olhar de Mew, que agora estava deitado de frente para ele, Suppasit estava com o braço no travesseiro, apoiando a mão na cabeça enquanto o olhava. — Não, eu não mexi no seu celular, se é isso que você está se perguntando.

— Então como...?

— Confirmei agora, mas já suspeitava que você não tinha falado com eles. — Gulf desvia o olhar — Relaxa, eu não vou falar pro Tong, mas se você quiser desabafar ou sei lá, apenas conversar, eu vou estar aqui pra te ouvir, okay? — ele sorri carinhoso.

Suspirou e voltou a encarar o teto. Falar sobre seus pais era algo um tanto quanto delicado, assim como era difícil Gulf falar com eles, até mesmo com sua mãe que era mais compreensiva. Na verdade ele nunca chegou a tentar falar alguma coisa deles ou para eles.

— Eu... é só que... — sentiu o olhar de Mew sobre si — É complicado...

— Sou todo ouvidos.

— Minha relação com eles não é tão boa desde... acho que desde sempre, até hoje na verdade, eles são focados no trabalho. Eu aprendi a me virar sozinho e a ter responsabilidade sobre mim muito cedo, e... — teve que respirar fundo para não desabar em lágrimas — E meio que desisti. Minha mãe até tenta conversar, puxar algum assunto, mas sempre desiste ou é apenas uma conversa curta. É... É como se eles fossem dois estranhos convivendo comigo, como se as duas pessoas com quem eu deveria sempre contar fossem apenas dois desconhecidos que me sustentam.

Fez uma pausa engolindo o nó em sua garganta, Mew aproximava-se, tentando controlar o impulso de abraçá-lo, porque era isso que Gulf precisa no momento: um abraço.

— Pra eles tanto faz se sou o melhor ou o pior aluno, tanto faz se eu entrar ou não em uma faculdade, e isso é... é frustrante, porque sinto como se eu fosse um nada dentro daquela casa. — suspirou, tentando reprimir os sentimentos, antes esquecidos, que vieram à tona — Eu só queria entender... pra que ter filho se não vão poder dar cinco por cento de atenção pra ele? Tá, eles me dão tudo do bom e do melhor, mas isso não é suficiente, eles acham que eu deveria ser grato por me darem um teto, comida, roupas e uma educação de qualidade, como se isso não fosse o dever deles. Porra... eu sei que o trabalho deles exige tempo, mas... sei lá... será que é tão difícil não focar vinte quatro horas em uma coisa que só traz retorno financeiro no lugar de dar atenção para o único filho que tem? No final, sou eu que vou herdar a porcaria daquela empresa e vai ser eles no meu lugar e, com toda certeza, vão cobrar atenção, carinho e tudo aquilo que, hoje, eles não me deram, como se fosse minha obrigação cuidar de duas pessoas que não sabem porra nenhuma sobre mim...

— Eu sei que é uma situação complicada, mas você já tentou conversar com eles? Falar tudo o que você está sentindo, talvez eles possam melhorar. — sugeriu.

— Do que vai adiantar isso agora?

— Nunca é tarde pra mudar, Gulf! — Kanawut troca de posição, para encarar Mew — Não estou querendo defendê-los, nem falar quem está certo ou errado, mas eles não sabem o que você pensa ou que você acha que está te incomodando, um diálogo entre vocês pode resolver alguma coisa. — viu o olhar do outro vacilar por rápidos segundos — Eu sei que é difícil, mas se você não falar o que vem guardando aqui — ele coloca o dedo indicador no peito de Gulf, no rumo do coração — eles não vão ser capazes de enxergar onde estão falhando e nem vão saber concertar. Um filho não vem com manual de instruções.