#IntrometidoEsquentadinho
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Gulf caminhava, sem pressa, para sua casa, torcendo para que seus pais ainda não tivessem chegado para ter mais tempo de pensar em como contar a eles sobre a suspensão. A culpa de toda aquela confusão não era sua, mas seus pais são ocupados demais para querer ouvir suas justificativas.
Mas essa não era nem a pior parte, ter que ouvir um sermão e talvez, só talvez, ficar de castigo não era nada comparado a ter que passar dois dias encarando aquele trio de idiotas e o novato intrometido que não largava do seu pé, o último, infelizmente, sendo seu parceiro para o trabalho de biologia.
Um fato sobre o colégio em que Gulf estuda, é que se você for suspenso, obrigatoriamente, tem que ir para a instituição, ficar na biblioteca e fazer todas as lições, que geralmente eram as atividades que os professores passavam durante as aulas, e fazer um resumo sobre um livro aleatório que a bibliotecária preguiçosamente os entregaria, e, caso terminasse antes do prazo, você teria que ajudar a mesma ou apenas ficar encarando o nada, já que o aluno só tem autorização para ir ao banheiro ou beber água, ou seja, um saco! Kanawut ficava entediado só de pensar.
E como sempre, nada ia ao seu favor. Encontrou seus pais na sala assim que entrou e cogitou a ideia de contar depois, porém queria acabar com isso logo. Cumprimentou os dois e, hesitando, tirou o documento da mochila entregando para seu pai.
— O que é isso? — perguntou o pai.
— Er... eu fui suspenso... só... só entro no colégio acompanhado por um de vocês. — não teve coragem de encará-los.
— Suspensão? Por qual motivo? — não esperou uma resposta, apenas leu o papel e Gulf podia jurar que viu fumaça saindo de suas narinas, enquanto seu rosto ficava vermelho de raiva — Briga, Kanawut? Você se meteu em uma briga?! Sei que não é um ótimo aluno, mas quer ser o pior? Sua única responsabilidade é estudar e mesmo assim você arruma confusão, nem notas excelentes você tem! — o pai falava com certa decepção na voz, gesticulando irritado.
— Querido, não fale assim! É a primeira suspensão dele. Aposto que já aprendeu a lição, não é meu amor? — a mãe, com a voz calma, perguntou para o filho que apenas assentiu.
— Eu vou perdoar porque é a primeira vez, mas em troca eu não quero nenhuma, eu disse nenhuma nota abaixo de nove, entendeu? — voltou a atenção para seu notebook, ignorando a presença do seu filho na sala.
— Sim, pai. — respondeu, pedindo licença logo depois e caminhando em direção a escada.
A conversa, se é que poderia ser considerada uma, se deu por encerrada e Gulf subiu para seu quarto. Os pais de Kanawut não eram muito presentes, trabalhavam mais do que era preciso para conseguir dar uma vida melhor e feliz para o filho, mas se esqueceram que para uma vida feliz é preciso diálogo, atenção e carinho, coisas estas que estavam em falta na família Traipipattanapong.
Gulf já tentou conversar com eles sobre isso, que ele se sentia infeliz com a ausência dos pais em sua vida, que ele queria um pouco mais de atenção, que eles não focassem tanto no trabalho, mas sempre que pensava em falar desse assunto a coragem faltava e Gulf desistia. Sentia-se ingrato em pedir para não ficarem tanto tempo trabalhando, poxa, ele tinha tudo do bom e do melhor, ganhava mesada semanal, parecia muita ingratidão da sua parte pedir algo a mais, por isso sempre recuava quando pensava em conversar com eles.
Seus pais não sabem que ele não tem amigos, eles não sabem do seu sonho de fazer medicina, eles não sabem que às vezes ele se tranca no quarto, fecha as cortinas, apaga a luz e encara a escuridão, apenas esperando o tempo passar, tentando deixar sua mente em branco, enquanto chorava em silêncio, deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, chorando e chorando até pegar no sono.
Em uma das suas crises de choro, enquanto estava sentado no tapete de seu quarto, com os braços abraçando as pernas e a testa apoiada no joelho, Gulf escutou um bater de asas, um perfume invadiu suas narinas, era algo doce, um perfume que ele não sabia identificar, mas que o acalmou, cessando seu pranto.
Um tempo depois sentiu um calor bom, como se alguém estivesse o abraçando, levantou a cabeça e abriu os olhos mas não viu nada, não sabia o porquê, porém aquela sensação não lhe causou medo, pelo contrário, o deixou confortável, como se nenhum mal fosse capaz de chegar até ele. Desejou sentir aquilo novamente, parecia que um anjo havia entrado em seu quarto, contudo aquela foi a primeira e a última vez que aconteceu, mas a sensação nunca saiu de sua memória.
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Os cinco garotos esperavam do lado de fora da sala, enquanto seus responsáveis conversavam com o diretor e digamos que a conversa não estava muito pacífica, já que algumas vezes era possível ouvir a voz alterada de um dos pais de algum garoto do trio.
— Ei, Suppasit! — o líder do grupo chamou — Não sabia que você morava com dois viadinhos, tá explicado porque você é assim! — ele começou a rir sendo acompanhado por seus amigos.
— Ei Boss! Por que você não cuida da sua vida? — Gulf não conseguiu segurar e retrucou a fala do outro.
— Tá incomodado? — continuou com as provocações
— Tô! Porque isso não tem nada a ver com você! — Kanawut estava por um fio de socar, novamente, a cara daquele garoto.
— Ficou bravinho por quê? Ele é seu namorado por acaso? — Kraam falou, cruzando os braços em puro deboche.
— Se é ou não, isso não é da sua conta!
Cerrou os punhos, pronto para levantar e socar o rosto daquele idiota. Porém, sentiu uma mão segurar seu pulso, olhou para Mew que, com um sorriso meio sem graça, balançou a cabeça como um sinal para deixar quieto. Gulf não queria, mas teve que se conter, em parte porque não queria mais confusão e talvez por conta do pedido silencioso do novato, mas era óbvio que ele não iria admitir essa última.
Um tempo depois os responsáveis saíram da sala um seguido do outro e, com exceção dos responsáveis de Mew e Gulf, seguiram caminho até a saída do colégio. Os pais de Gulf o chamaram, seu pai lhe deu uma leve repreensão e pediu para não se meter mais em confusão e sua mãe apenas se despediu dele com um beijo na testa. Quando se virou, ainda encontrou Mew conversando com os dois homens, um deles bagunçou seu cabelo e logo depois saiu de mãos dadas com seu parceiro.
O diretor acompanhou os cinco até a biblioteca, onde pediu para a bibliotecária entregar um livro para cada um, junto com uma folha de redação. Colocou o trio em uma mesa e a dupla em outra, porém sem deixar ninguém fora do campo de visão da funcionária do local.
O livro não era nem um pouco pequeno e Gulf já estava com preguiça apenas de ver a quantidade de páginas. Não levem a mal, ele gosta de ler e não tem nada contra quando é de um tema de seu interesse, mas ler um livro com mais de duzentas páginas, sobre um assunto completamente entediante e ainda fazer um resumo é quase uma tortura.
— A senhora Dao nos entregou o mesmo livro. — escutou Mew sussurrar.
— Hm. — respondeu sem interesse.
— Podemos dividir, são quarenta capítulos, você lê os vinte primeiros e eu os últimos. O que acha? — sugeriu.
Gulf pensou um pouco, era uma proposta muito boa e pouparia o trabalho de ambos, não seria uma má ideia. Acabou concordando, e ambos começaram a ler, pausaram um tempo depois, quando a bibliotecária os liberou para um intervalo de cinco minutos.
Mew e Gulf foram ao banheiro, e Gulf explicou no caminho alguns detalhes sobre a história para que Mew pudesse entender, já que alguns acontecimentos estavam confusos por não ter lido a primeira parte. Eles riam e falavam sobre alguns acontecimentos do livro, totalmente focados na conversa.
— Olha só, o casalzinho juntinho!
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Um Anjo em minha Vida | MewGulf
FanfictionGulf é um estudante mediano que prefere evitar confusões, focado em viver sua vida de forma tranquila. Mew, recém-transferido para um novo colégio, é um rapaz bonito em busca de se adaptar ao ambiente desconhecido. O destino os entrelaça quando Mew...