Mesmo que ali fosse a existência por si só, não era como se aquilo realmente existisse.
Mesmo que ali fosse o mundo, não era um necessariamente parte de um lugar.
No meio daquela imensidão de insignificância, uma garota estava flutuando à deriva.
Como se estivesse no meio do oceano, esperando pela correnteza a levar para longe.
Como se fosse um grão de pó em alguma estante qualquer.
Como que se sentisse uma migalha de sujeira numa vasta inexistência.
Mas nada disso eram conceitos que poderiam ser existentes ali.
Tudo que ali havia era um vazio completo. A sua mais pura definição de nada, literalmente nada.
A garota estava simplesmente "estando ali". Não existia um motivo que levou-a a querer flutuar sem um rumo definido.
Outrora já fora parte da natureza mundana, e uma porção do mundo que conhecemos. Irreversível e irresistível, sem qualquer interferência de matéria. Somente estando na paz do vazia por si só, ela continuava a flutuar por aí, afundada em pensamentos que nem mesmo ela era capaz de dizer se realmente existiam.
Não havia ninguém que pudesse ver sua aparência, nem ninguém para ouvir sua voz. Era triste e solitário, mas ela não se importava. Se não houvesse ninguém, nada mudaria. E, de todo modo, não é como se ela realmente quisesse que alguém estivesse ali.
Mesmo aqueles que sabiam sobre sua presença antigamente nem sequer existem mais nesse mundo. Era a realidade que assolava sua consciência, mas, há muito tempo atrás.
Porém, ela não lembrava-se de se sentir insatisfeita com isso.
Nem um pingo de solidão, ou mágoa. Nem mesmo um pouco de alegria. Nem sequer um sentimento de anseio por alguém.
Nada disso... Ela já descartou tudo isso. Seu coração já havia decidido se fechar para esses sentimentos inúteis.
A solidão, em sua essência, mostra o original, a beleza ousada e surpreendente. Mas também mostra o avesso, o desproporcionado, o absurdo e o ilícito.
Entretanto, era melhor assim. Era a quietude e a tranquilidade da inexistência que ela desejava.
...Mas.
Naquele dia, novamente, visitantes inesperados apareceram diante da vastidão do que não existia.
Desatentamente, ela olhou ao redor do vazio.
Talvez "olhou ao redor" não seja a frase apropriada. Olhos não existiam naquele lugar. Nem mãos, nem pés, nem nenhuma parte do corpo. Tudo que ali permanecia era a sensação incorpórea e vagante.
Sem saber de nada, sem estar consciente de nada, ela teve uma súbita vontade de olhar em volta.
Escuridão. Um cômodo com nada
Um cômodo que era uma vasta escuridão, sem chão nem teto. Era uma escuridão que desafiava a razão.
Entretanto, subitamente, naquele mundo de eterna escuridão, houve um significado.
Ela se deparou com o mesmo pensamento de antes: o mundo acabava; um mundo fechado; um mundo sem misericórdia. Um mundo onde tudo ao seu redor a deixava insegura, e que potencialmente poderia feri-la.
Esse pensamento parecia com grandes blocos de aço maciço. Eles eram pesados e traziam uma carga inimaginável de desconforto. Mas, ela não sabia dizer se era isso mesmo o que sentia.
Com essa forma ameaçadora, eles entraram em seu território. No seu "espaço".
Ela nem sequer interferiu com isso.
Porém, naquele momento, para eliminar os invasores; ela teve que deixar parte de seu coração.
Quanto tempo se passou desde a última vez que isso aconteceu? O sinônimo de tempo não possuía um significado expressivo, ao invés disso, era um conceito que ainda lutava para conseguir existir.
E então, a garota... abriu seus olhos.
- ...Hum?
Como que o sentimento de curiosidade vazasse de sua boca, ela deixou um som escapar. Após isso, esticou seu corpo que estava contraído. Ela soltou um pequeno gemido, já que seus ossos e carne não estiveram em atividade por um longo tempo.
O sentimento de despertar era incerto.
- ...Oh? Eu estava pensando em que tipo de coisa acabaria me acordando, mas foram vocês de novo, hein...
A garota levantou ambas as mãos para frente enquanto direcionava seu desprezo para os pensamentos inconvenientes.
Então, ela colocou-os entre seus dedos finos e os esmagou sem fazer força.
- ...Coisas desagradáveis, não apareçam nunca mais. Vocês só me incomodam
E aquele lugar caiu aos pedaços.
Naquele dia... O pior desastre que a humanidade teria de lidar acordou.
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A Garota e a Chave
RomanceApós o início de mais um ano, começa o novo período escolar. O retorno dos dias pacíficos e maçantes teve início, mas logo fora interrompido por uma presença feminina um tanto quanto... súbita. "Você é irritante demais para ser ouvido--".