- Sinceramente, eu poderia ter faltado hoje.
- Não fale isso logo quando eu volto, Theoto!!
Já era passado do meio-dia quando Theoto, acompanhado de Lucca, que resolveu se desentocar de sua casa e finalmente ir no colégio, chegaram no apartamento do garoto de olhos afiados.
- Mas fala sério, tá tudo muito bonito aqui, nem parece com você, que assustador.
- Ah, tu ainda não veio aqui depois que eu limpei tudo.
Essa era uma afirmação forte, uma vez que foi praticamente Ária quem fez todo o trabalho, e ele apenas ficou observando e tentando replicar da sua própria forma.
Lucca fez uma varredura completa do local logo que entraram e pareceu que seus olhos emanaram um brilho próprio que refletia mais do que o próprio chão encerado. Como esperado, sua reação foi excepcional e ele estava a ponto de chorar para mostrar o quão orgulhoso estava de Theoto pela sua iniciativa.
Ele nunca foi de fazer comentários árduos sobre o estado medíocre em que seu amigo vivia, mas por toda a cena que fez logo na entrada apenas demonstrava o quão incomodado ele estava. O garoto atrás dele, fechando os olhos afiados, não pôde deixar de rir de si mesmo por isso.
- Olha só, até comida tem na geladeira!!
- Que falta de expectativa é essa?
- Nafa de fais...
- Solta o saco de docinho, doente!
Lucca mal havia aberto a geladeira e já estava colocando alguma coisa na boca. Esse comportamento característico de criança era um destaque inigualável nele.
- Por que? É tão raro ter algo assim aqui que até o gosto é diferente - ele disse enquanto contorcia o rosto em felicidade.
- Essa merda foi cara, tava guardando pra comer sozinho depois.
- Negar comida ao próximo é pecado, cara. Papai do céu vai ficar bravo com você.
- Solta logo isso...
Assim dizendo, Theoto arrancou o saco de docinhos da mão de Lucca, que reagiu com uma cara chorosa enquanto mastigava o último que conseguiu pegar. Em um salto, ele até tentou recuperar, mas o garoto foi astuto em desviar rapidamente e jogar de volta na geladeira.
O jovem de fios ondulados se jogou no chão e começou a dizer:
- Como... Como você pôde fazer isso com seu amigo do peito... Como?
- Quer água?
- Sim, por favor.
Tendo vivido diversas vezes esse tipo de situação, Theoto sabia mais do que ninguém que ignorar era a única opção viável para acabar com todo esse teatro infantil. Ele precisou de um bom ciclo de tentativa e falha, mas quando finalmente encontrou a solução, um novo mundo se abriu bem diante dos seus olhos.
Enquanto entregava o copo de água, Lucca disse:
- Voltando no assunto de agora pouco; já leu "O Jogo da Casa de Corda"?
- "O Jogo da Casa de Corda" eu nunca li não - respondeu o rapaz com uma voz risonha.
- O Jogo das Casa de Corda lá do cara da palestra, como que era?
- O Jogo das Corda de Vidro, As Contas das Cordas, O Vidro do Jogo das Corda
Theoto vasculhou pela memória e tinha a noção de que a formatação da frase era algo parecido com isso, mas não soava exatamente certo. Pensou, pensou e pensou, até que...
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A Garota e a Chave
RomanceApós o início de mais um ano, começa o novo período escolar. O retorno dos dias pacíficos e maçantes teve início, mas logo fora interrompido por uma presença feminina um tanto quanto... súbita. "Você é irritante demais para ser ouvido--".