Capítulo 23: Janta Com Todo Mundo

1 0 0
                                    

 - O que aconteceu, vida? Você não é de perder o horário quando é pra me visitar.

 - Essa criança aqui ficou com medo de andar no escuro e quis dar toda a volta no quarteirão.

 - Eu que não vou passar por aquela escuridão...

 Ao som agudo da campainha, Lorena levantou-se do assento e abriu a porta, apenas para ver respectivamente Ryan e Theoto brigando, como sempre faziam. Esses atritos eram naturais, portanto, ela apenas mostrou um sorriso sutil, achando graça da situação.

 - Cara, é bairro residencial de classe média-alta. Tu mora nuns buraco qualquer, por aqui não tem perigo de ser assaltado.

 - E por causa disso eu devo dar sorte ao azar? É justamente nesses casos em que os personagens são pegos em filmes de terror.

 - A gente vive num filme, Theo? - disse o rapaz de cavanhaque com um semblante provocativo à afirmação do garoto.

 - Tá falando demais, hein. Tem como provar que a gente não vive? - respondeu Theoto de forma igualmente provocativa.

 - Tá bom, tá bom. Parem de brigar e entrem logo, vai encher de mosquito aqui dentro.

 Assim dizendo, Lorena puxou os dois rapazes que continuavam a brigar para dentro. Em circunstâncias normais, ela apenas deixaria os dois na porta da casa até que se resolvessem, mas como hoje era uma situação especial, para comemorar que todos passaram na fase de teste, a garota deu o braço a torcer.

 Ela empurrou Ryan para frente e puxou levemente a orelha de Theoto, que esquivou ariscamente logo que sentiu os dedos dela o encostar.

 - Sai louca! Por que comigo tu puxa da orelha igual criança e com ele você só dá um empurrãozinho?

 - É pra não perder o costume, sabe?

 Enquanto o rapaz de cavanhaque caminhava em direção a sala, Theoto sentiu um arrepio ao ver o sorriso puro da garota, que mais parecia esconder intenções extremamente maliciosas para com ele.

 Seja como for, tomando seu tempo para coçar a cabeça, ele observou ao redor: logo à sua esquerda, haviam alguns quadros de Lorena e seus pais em um campo florido, enquanto na direita, mais fotos, mas dela crescida e acompanhada de Ryan na maioria delas. O garoto já os havia visto no dia anterior enquanto ajudava com as compras, mas só agora foi perceber que existiam mais quadros dela do que qualquer outra coisa naquele lugar. Por isso, ele teve uma súbita impressão do porque Lorena era tão cheia de si na maior parte do tempo.

 Como dito anteriormente, por a casa dela estar situada em uma área de classe média-alta, após passar pela entrada, um enorme espaço mobiliado explodia em seus olhos. Era natural que a sala fosse bem grande e agradável, afinal, não sabia bem nos mínimos detalhes, mas o pai da Lorena parecia ser alguém bem importante, visto que estava bem trajado em praticamente todas as recordações.

 A sala era ridiculamente bem ornamentada em tons de branco, bege e dourado, que causava uma boa impressão em qualquer pessoa que a visse. Theoto não foi uma exceção e, enquanto desviava de um sofá que nitidamente parecia custar bem caro, sentia que seus próprios olhos estavam prestes a cair da cara.

 Mesmo que anteriormente já tivesse visto tudo aquilo, agora, tendo a oportunidade de observar o lugar com mais calma, reparou em como tudo era grandioso e chamativo de um jeito ou de outro.

 - O que foi? Já sei, você tá com vergonha, né...? Hahah, não precisa disso Theoto. Vem comigo, eles estão na outra sala.

 - N-não é bem isso, é que...

 - Não precisa explicar, ninguém vai ter morder ou algo assim, embora às vezes você peça por isso, sinceramente.

 Ele até tentou questionar quais necessariamente eram os motivos que supostamente o fazia pedir para ser zoado, mas Lorena o puxou com toda a sua energia contagiante. Odiava toda essa alegria, mas não havia nada que pudesse fazer a não ser aceitar ser conduzido. À essa altura, simplesmente ele precisava nadar com a maré e apenas observar onde ela o levaria. 

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora