Capítulo 13: Rostos Feitos de Poeira

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 Sua consciência flutuou em uma onda distante. Sua mente, no torpor da superfície da maré, flutuou em idas e vindas entre sonho e realidade.

 - ...-ai acordar?

 Muito longe - não, próximo - na fronteira nem aqui, nem lá, ele escutou uma pessoa falando - ou eram duas conversando? -. Uma voz marcante. Uma voz pesada. Uma voz irritada. Uma voz com sentimentos fervendo. Vozes.

 Abruptamente, ele sentiu o toque de uma mão macia. Ele não sabia quem era, porque nunca sentiu aquilo tantas vezes em sua vida. O calor era agradável e reconfortante. Ele queria mais. Não queria que aquilo fosse um sonho. A sensação daquela mão ficou distante. Longe, muito longe, inalcançável e intocável.

 - ...Vai sim

 Somente aquelas palavras de grande determinação permaneceram. Tudo desapareceu. Tudo foi embora, deixando ele longe, muito longe. E então...

 - Arfff!!

 Um impacto repentino no próprio rosto seguido de um forte estalo ecoou, e Theoto saltou enquanto a mente entrava em alerta máximo.

 - Até que enfim, idiota. Sabia que você não morreria por pouco

 Seu nariz coçou no instante em que ele sentou no sofá. Em seus ouvidos, uma voz familiar fez ele franzir a testa enquanto tentava entender se havia ouvido corretamente.

 - E isso não é hora de estudante acordar em plena quarta-feira

 Após uma pequena fungada, não teve dúvida nenhuma. Entretanto, achou completamente estranho a mudança brusca de comportamento em questão de poucas horas. Por isso, ele disse:

 - Ei... O que que aconteceu com vo- ...!

 Ao virar a cabeça em direção à voz, notou uma silhueta alta em pé logo ao seu lado. Diferente da expectativa de se dar de cara com a garota dos longos cabelos loiros, quem estava proferindo ofensas a sua pessoa era nada mais, nada menos que Ryan.

 - Fiquei sabendo que a sua turma tinha prova com o Jefferson, mas você não apareceu. Acabei vindo aqui pra ver se você não tinha caído dentro do vaso ou algo assim

 - É... Acho que acabei dormindo demais, então. Que horas são?

 - 15:47 - o garoto de cavanhaque disse enquanto mostrava o horário no celular.

Theoto ergueu levemente as sobrancelhas, mas não foi por ter sido acordado no meio da tarde. Ryan não possuía uma chave reserva do apartamento do jovem rapaz, então, se ele estava na sua frente agora...

 - Ryan, não me diz que você quebrou uma janela minha ou arrombou a porta só por causa de uma prova, por favor

 - Não, esquisito. Tu deixou a porta aberta ontem à noite, então eu só entrei e te achei aí no sofá

 - Ah... Tá, tá. Erro meu, mesmo. Estava com sono e acabei vacilando

 Extraindo exatamente a informação que queria sem levantar qualquer suspeita, Theoto pôde começar a colocar a cabeça no lugar para iniciar o dia. Felizmente a garota havia deixado o lugar antes de Ryan ter entrado, então, não haveria qualquer incômodo referente ao fato dela ter dormido no seu apartamento.

 O garoto coçou o nariz e olhou em volta. Seu melhor amigo firmou os pés no chão e disse:

 - Quanta segurança, hein. E se eu fosse um mendigo procurando algo para pegar. Se eu te visse deitado assim, não pensaria duas vezes antes de levar o pouco que você tem aqui

 - É, e entrou algo pior do que um mendigo mal intencionado

 Theoto não tinha qualquer intenção de provocar, mas acabou fazendo por costume. Como sempre, Ryan não se importou nem um pouco, ao invés disso, soltou um pequeno sorriso enquanto assistia seu amigo se revirar debaixo do cobertor.

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora