Capítulo 5: Suposto primeiro encontro

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 Ele poderia dizer com segurança o seguinte: conforme vivenciou algumas vezes: pessoas são extremamente difíceis de se entender.

 Para um adolescente introvertido qualquer e sem uma visão clara do futuro, este é sem dúvida o maior infortúnio. Basta olhar para qualquer protagonista de livros recomendados para menores de dezoito anos, por exemplo. Com isso como desculpa, as próprias pessoas passam a ser o "objetivo" do protagonista, mesmo que qualquer desenvolvimento seja bloqueado por questões da trama. Uma vez que essa lógica é aplicada na sua totalidade, com certeza o personagem principal passaria por muita dor e sofrimento tendo que aceitar o quão inútil ele é no âmbito social, e no final, acabaria voltando a estaca zero, apenas para se machucar mais e mais.

 Dito isso, não é como se toda a jornada fosse totalmente jogada no lixo. Uma vez que o protagonista obteve experiência o suficiente para chegar a qualquer conclusão final, podemos concordar que ele progrediu na trama. Por mais que os leitores não tenham gostado, essa é uma decisão exclusiva do personagem, e ninguém tem o direito de interferir.

 A realidade é sempre diferente. Se alguém lhe perguntasse qual é a diferença exata entre um adolescente imaginário e um adolescente real, você saberia como diferencia-los? 

 ..........



 No momento em que tomou consciência, percebeu que seu corpo estava sustentado por alguma coisa fofa enquanto as costas estavam confortavelmente sobrepostas igualmente no macio.

 "Banco", foi o que Theoto pensou enquanto respirou fundo, recobrando os sentidos. Analisou rapidamente o lugar: havia uma mesa quadrada na sua frente, uma parede do lado direito que ia até a entrada - estava na mesa mais ao fundo da fileira em que se sentou -, o material que encostava com a ponta dos dedos parcialmente trêmulos era madeira refinada de alta classe. Mesmo sem ter qualquer noção de preço de móveis, tinha quase certeza que aquilo comprava praticamente todo o seu apartamento.

 O restaurante apossuía uma decoração bastante rústica, tendo uma paleta de cores extremamente amarronzada, com mesas, cadeiras, prateleiras e até mesmo as paredes tendo aspectos de madeira. Era uma estética que o garoto nunca antes havia presenciado, e era de surpreender, já que o estabelecimento não era tão longe de sua casa. Theoto estranhou o fato de nunca tê-lo reparado enquanto caminhava pelo parque.

 E, para a infelicidade dele, o local estava cheio. Poucas mesas haviam sido deixadas vazias devido ao alto tráfego de pessoas durante o meio-dia, então era uma sorte tremenda ele ter encontrado um lugar para se sentar.

 Observando mais atentamente as pessoas que conversavam por todas as mesas, criando diversas vozes emaranhadas pelo ambiente enquanto barulhos de talheres e pratos ecoavam também, atentou-se ao fato de serem apenas adultos e senhores de idade, tendo poucas crianças e até mesmo adolescentes se servindo ou comendo nas mesas. Suas sobrancelhas levantaram sutilmente com esse contraste, já que aquela área não era lar de tantas famílias.

 "Todos esses assalariados vem comer aqui? O quão longe eles dirigem para chegar até aqui?"

 De qualquer forma, isso não era o importante no momento. A razão pelo qual ele estava tremendo, era porque todas essas pessoas estavam olhando para a sua mesa - mais precisamente, para a figura esbelta que estava junto a ele na mesa -. Era a garota a qual ele havia entregado o guarda-chuva naquela vez. 

 - ...Há algo em mim que lhe chamou a atenção?

 Tendo o seu olhar percebido pela garota, ela não hesitou em perguntá-lo se havia algo de errado. Sendo levemente surpreendido, o garoto respondeu:

 - Uh, ah! Não te incomoda todo mundo estar te encarando desde que a gente entrou aqui?

 - De maneira nenhuma. Afinal, é totalmente comum e compreensível que as pessoas admirem aquilo que lhes chama a atenção

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora