Capítulo 21: Duas Visitas Inconvenientes

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 Eram cerca de uma da tarde quando Theoto foi subitamente puxado para a realidade por causa de uma voz aguda e travessa que gritava "The-oooo-tooo!". No mesmo instante em que o mundo ganhou cores, ele entendeu exatamente o problema que iria enfrentar.

 Na noite anterior, logo após descobrir que Ária pegava um trem para voltar para casa, o jovem rapaz deu algumas voltas pela região antes de retornar ao seu apartamento. Quando finalmente deu-se por cansado, resolveu descansar jogando pela madrugada toda. Entretido, não sabia exatamente nem mesmo quando foi que pegou no sono.

 Logo que despertou, Theoto voou para o banheiro lavar o rosto e arrumar o cabelo desajeitado. A água gelada fez com que os sentidos fossem recobrados com sucesso, mas a franja bagunçada e alguns fios espetados não seriam tão fáceis quanto. Por isso, ao invés de simplesmente usar a mão e os dedos, molhou a escova e baixou o cabelo de qualquer jeito.

 - O que ela tá fazendo aqui hoje?

 Puxando a gola e tentando dar um jeito na camiseta completamente amassada, o garoto caminhou em direção a porta da frente.

 - Ela tem chave... Graças à Deus ela não entrou logo de cara...

 Se a situação estava assim tão ruim, era apenas culpa dele não ter entrado em contato para saber quando ocorreria novamente. Quem sabe, com uma ou outra mensagem, poderia ter se preparado melhor para a ocasião.

 Mas, seja como for, agora ele precisava enfrentar o que o destino reservou para si. 

 - ...

 Respirando fundo, foi recepcionado por mais batidas energéticas. Foi então que, relutantemente, o garoto abriu a porta da frente.

 - Cruzes, Theoto, porque tanta demora? Eu fico feliz por te ver bem. Já estava pensando que você estivesse dormindo.

 Lá estava a mãe de Theoto, parada do lado de fora do seu apartamento. O rapaz não havia mais a visto desde o final do ano passado.

 Embora ela fosse mãe, teria sido difícil dizer apenas pela aparência. Não era apenas porque seu rosto parecia assustadoramente jovem, mas ela também nunca agia de acordo com sua idade. Usava o mesmo tipo de expressão feliz que costumava ter quando Theoto ainda morava em sua casa.

 - Sim, sim. Eu estou bem, muito bem. Que tal ir embora para casa, agora?

 - Credo, garoto. Como você pode dizer isso pra sua própria mãe? Você sabe que não é fácil pra eu vir para cá, principalmente nessa época. E nem por isso eu ganhou um "obrigado, mamãe"?

 - Você tem razão... Mãe, muito obrigado por viajar muitos quilômetros apenas para me ver. Agora já pode ir embora, por favor.

 - Vamos, não diga essas coisas. Não é nada encantador. Você deveria agir mais como o Jorge.

 - Homens não precisam ser encantadores ou cativantes, precisam?

 Enquanto Theoto cuspia suas palavras acidas, sua mãe, Esther, não parecia nem um pouco incomodada, em vez disso, caiu na gargalhada.

 - Demorou um pouco, mas você realmente chegou na sua fase rebelde. E espero que você não planeje me deixar aqui fora o dia todo. Estou entrando.

 - Ei, quem disse que você pod-.

 - Já se esqueceu que sou eu e o seu pai que pagamos o aluguel desse lugar?

 Não havia nada que Theoto pudesse fazer para discutir ou mesmo retrucar sua mãe depois que ela jogou essa carta. Por isso, relutantemente, ele a deixou entrar.

 Para fazer com que ela não entrasse no quarto e visse o estado deplorável que o garoto o havia deixado pelo curto intervalo de tempo que teve entre o acordar e recebê-la, ele casualmente guiou sua mãe para a sala.

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora