Capítulo 7: O orgulho do tolo

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 - Ei, jovem rapaz! Aceite esse panfleto, por favor

 - ...Tá. É, muito obrigado

 - Não há de quê, meu caro. Tenha uma ótima tarde!

 - Igualmente...

 O diálogo era entre algum tipo de funcionário de uma faculdade que parecia estar atrás de estudantes e Theoto, que passeava pelo centro enquanto ia em direção ao próprio apartamento.

 Demorou um pouco para fazê-lo, mas ao invés de simplesmente guardar no bolso ou jogar fora, ele decidiu ler o que estava escrito. Era bem provável que o garoto não iria atrás de mais informações ou afins, mas simpatizava com aquela pessoa que estava em pleno mormaço escaldante da tarde, sendo ignorado pela maioria do seu público-alvo, esforçando-se para divulgar a faculdade.

 "Meus sentimentos", foi o que ele pensou enquanto desdobrou o papel e transferiu sua atenção. Além de uma formatação criativa, nada lhe chamou a atenção, assim como o esperado. Sendo assim, sem nem pensar muito, caminhou diretamente até a primeira lixeira que encontrou no trajeto e a jogou.

 De nenhuma forma isso era desrespeitoso para com a instituição ou a pessoa que distribuía os panfletos. Theoto apenas não tinha interesse em nenhuma universidade da cidade, afinal, seus pais já tinham planos quanto à isso, e ele preferia nem pensar muito sobre.

 Assim como havia combinado com sua mãe, usaria esse ano para aprender a viver sozinho e, quando o ano acabasse, voltaria para sua cidade natal e finalizaria seu período escolar em uma escola que o prepararia para o mercado de trabalho.

 Theoto não tinha objeções tão relevantes quanto a decisão de seus pais, mas preferiria ter um pouco mais da própria decisão no seu futuro próximo. Mas, de uma maneira ou de outra, era inevitável que isso fosse acontecer. Desse modo, ele deveria então ir se preparando para esse dia, enquanto tentava focar mais em viver o presente.

 Enquanto tentava criar um pequeno resumo do seu momento atual da vida, acabou sentindo a garganta secar conforme o sol queimava sua cabeça, tal qual a saliva não fazia mais qualquer diferença. Assim sendo, ele se viu obrigado a desviar um pouco do caminho para encontrar alguma loja de conveniência. Por sorte, sabia de uma locadora próxima que possuía uma máquina de bebidas logo na entrada.

 Dobrando a esquerda logo que chegou na esquina, atravessou um pequeno e estreito beco e aproveitou o pouco de sombra que ele encontrou, mas, infelizmente, o calor que saía do exaustor do ar-condicionado estragou o momento. Ao sair, seus olhos foram assolados pela claridade e o passar de carros barulhentos.

 Nesse momento, a única coisa que o separava da máquina eram alguns metros e uma rua faixa de pedestres. Esperando impacientemente pelo sinal ficar verde, sentia o suor escorrer pela testa, ao qual ele limpou com as costas da mão. Foi então que, logo ao abaixar o braço, os carros pararam com a luz vermelha, indicando que o garoto podia passar.

 Como era bastante comum que estabelecimentos cobrissem a área do centro, normalmente os donos das lojas acabavam exagerando um pouco no preço de produtos simples, justamente porque as pessoas não esperariam para ir comprar em um lugar mais em conta no orçamento. E com a máquina de bebidas não era diferente. Mordendo a língua, Theoto tirou cinco reais do bolso e clicou no botão da garrafa d'água.

 A transação fora feita instantaneamente após a cédula entrar onde deveria e, como que em um passe de mágica, uma mola empurrou uma das garrafas na fileira bem de cima, fazendo com que ela caísse em um recipiente, ao qual o jovem rapaz abriu uma pequena tampa na parte inferior da máquina e retirou a água mais cara que já havia comprado.

 Nesse caso, como era um gasto totalmente absurdo, ele decidiu que aproveitaria ao máximo cada mísera gota de água. No momento em que o líquido completamente quente descia pela sua garganta, segurando a ânsia, ele apertava a garrafa de tanta sede que tinha. Independentemente de estar horrível, ele não tinha outra escolha - era beber ou beber.

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora