Capítulo 10: Nem a primeira ou a segunda, mas a terceira vez

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 Após alguns minutos que mais se pareciam horas pisando em cacos de vidro, Theoto conseguiu sair da área residencial ao virar a esquina e, por alívio, se deparar com a entrada do parque há apenas alguns metros de onde ele estava.

 À essa altura, seus pés já estavam ficando dormentes, mas não era como se a dor havia simplesmente ido embora. Apesar de precisar ranger os dentes para aguentá-la, o garoto apoiou-se em grades e paredes até agora - mais da metade do caminho já havia sido feito, então ele não podia desistir na reta final.

 - O pior já... Já passou

 E assim, em passadas lentas e cuidadosas que o davam a impressão de que estava pisando em facas, ele soltava alguns grunhidos dolorosos e respirava fundo.

 Seu ritmo cardíaco já havia se alterado diversas vezes durante o percurso e quanto mais ele enchia fortemente os pulmões, mais ele sentia que iria desmaiar a qualquer momento. Era tanto oxigênio circulando pelo próprio corpo que o jovem rapaz estava desnorteado. 

 Theoto teve a leve impressão de que a mente estava em discordância com o próprio corpo; enquanto ela parecia querer desistir e esperar sua condição melhorar um pouco mais, os músculos pareciam se mexer por conta próprio como que em protesto à decisão.

 O único pensamento do garoto era de conseguir chegar em casa. O corpo sabia disso e, diferente da mente que tratou de trazer uma solução um pouco mais lógica para o problema, apenas seguiu a intenção dele, e nada mais.

 Dito isso, agora, o jovem rapaz já havia adentrado no parque e, felizmente, tinha sombra o suficiente para que ele não perecesse de insolação ou qualquer coisa do tipo. Andando dolorosamente por debaixo das altas palmeiras, ranger os dentes já não estava surtindo efeito.

 À falta de alternativas, começou a beliscar-se na intenção de focar em outra dor. Não era como se estivesse dando certo, mas era o melhor que ele conseguiu pensar. 

 - Nnngg...

 "Isso aqui já é demais", ele pensou enquanto sentiu como se tivesse caído na direção de uma dar árvores. Sem nem perceber, o garoto havia apoiado o corpo num tronco e quase caiu por conta da pequena cerca de metal que havia em volta dela - provavelmente para que não estragassem as raízes.

 Aquela dor era demais. Theoto nunca havia sentido algo desse nível e, após controlar a respiração novamente, ele tomou força para continuar caminhando.

 Emancipando-se do enorme tronco, ele cambaleou por ter tido a impressão de que o pé direito havia falhado - mas foi só uma impressão -. Então, ele limpou o suor da testa usando as costas da mão e seguiu.

 Se o garoto já havia entrado no parque, eram apenas mais uns quinze minutos de caminhada contínua e ele chegaria em casa. Levando em consideração que não poderia caminhar consistentemente, demoraria algo em torno de meia hora. Para quem havia saído da escola e ido até o centro, mais quinze minutos do que o planejado não era nada demais.

 Theoto estava confiante de que, se ele continuasse dando pequenas pausas para respirar um pouco e diminuir a dor, nada de ruim aconteceria. Desde mais cedo não houve nenhum problema, então estava tudo bem.

 Quando chegasse em casa, a primeira coisa que ele faria era pegar alguma bacia que tinha guardado em alguma gaveta e deixar os pés de molho em água muito gelada. Possivelmente amenizaria muito a dor e era isso que ele queria.

 Logo após, como já fazia rotineiramente, esquentaria macarrão instantâneo e, em seguida, ouvir ao jornal enquanto ele mexia no celular. Quando terminasse, deixaria para limpar a sujeira outra hora e jogaria vídeo game até a água ficar morna e ele jogar mais gelo.

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora