Capítulo 18: As Duas Crianças Briguentas

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 Na manhã do outro dia, Theoto se encontrava novamente em frente a entrada do colégio. Os portões cinzas já era algo com que o garoto estava acostumado, mas não a quantidade excessiva de alunos no pátio da frente.

Algo estava errado, afinal, ele sabia mais do que ninguém o horário certo para se chegar pouco depois do sinal bater. O trajeto todo estava minuciosamente calculado e não existia margem de nenhum erro. Então, o que exatamente estava acontecendo?

 - Bom dia, Theoto!!

 - E mais essa ain- ...Ugufuff!!!

 Sua confusão foi sobreposta pela curiosidade no momento em que ouvira seu nome ressoar atrás de si. Mas, no momento em que virou, foi surpreendido com um impacto repentino nas costas, o que fez com que mordesse a própria língua.

 O corpo emancipado precisou esticar uma perna para que conseguisse não sair voando adiante. A boca aberta deixou escapar algumas gotas de sangue e o rapaz levou a mão até o ferimento, conferindo o quão ruim era a situação.

 - Algum dia eu ainda vou te virar do avesso por esse tipo de besteira.

 - Não diga isso, Theoto. É de manhã e eu estou aqui, não tem porque reclamar.

 - Justamente o motivo pelo qual eu tô reclamando. Mas, enfim, o que é isso?

 - Ué, você não sabe?

 - Se eu tô perguntando...

 - Sim, sim. Faz sentido. Hoje termina a fase de avaliações compensatórias, e como fazem com o trimestre, vão parabenizar os melhores alunos agora.

 - Ah...

 Mesmo que a instituição de ensino público que Theoto frequentava não tivesse cursos profissionalizantes, como parte de um novo programa que foi implementado desde o primeiro ano do ensino médio, há três anos, ao final do período de avaliações, os alunos que se destacassem seriam parabenizados.

 Era um ritual besta mas que, de certa forma, criava um cenário muito mais competitivo entre os próprios alunos. Além de que era uma boa forma de homenagear aqueles que se esforçaram e se esforçam todos os dias estudando no colégio.

 Theoto achava isso uma completa besteira que não levaria nada a nenhum lugar, criando apenas brigas e desentendimentos fúteis pela competitividade excessiva dos alunos. Entretanto, dado ao seu histórico com vídeo games, não tinha qualquer direito de contrariar ou falar mal desse tipo de atitude.

 E, de todo o modo, desde que essas felicitações foram implantadas, o percentual de alunos com boas notas realmente havia subido. Mesmo que houvessem intrigas em certos momentos, não poderia negar que foi um completo acerto da educação.

 - Se eu soubesse... teria me dado o luxo de caminhar um pouco mais devagar. Talvez ficar deitado na cama por mais alguns minutinhos.

 - Quieto, meu. É só isso que você sabe pensar?

 - Basicamente, sim.

 Lucca fez menção de pular em cima de Theoto com a resposta que obteve. No momento em que o rapaz com o olhar afiado percebeu a movimentação suspeito do garoto, ele fechou a cara e assumiu uma postura mais defensiva.

 - Qualé, cara. Não vou te morder nem nada assim. 

 - É impressionante como eu duvido muito dessa sua afirmação.

 O jovem rapaz de cabelos ondulados riu ao que Theoto disse. Não era como se estivesse zombando ou algo do tipo, esse era o humor característico de Lucca.

 - Te ver tão feliz assim às sete da manhã de uma Sexta realmente não me faz bem, dá pra parar um pouco?

 - Já tô comemorando que vou ser premiado dessa vez. Posso começar a chorar logo, logo.

A Garota e a ChaveOnde histórias criam vida. Descubra agora