Cílios de rainha

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Jessica mora em um dos bairros mais nobres da cidade, conhecido por abrigar centenas de celebridades e pessoas importantes. A mansão Biscotti é gigantesca, com direito à piscina olímpica, quadra de tênis, heliporto e visão panorâmica para as montanhas que circundam a cidade.

Sou recebida na porta principal pela governanta, uma senhora elegante e robusta, com os cabelos negros presos em um coque, um uniforme todo preto e nenhuma maquiagem no rosto. Ela se apresenta como Judith, e, enquanto me guia para encontrar minha cliente, eu me deixo observar o amplo espaço.

A madeira escura do piso está tão brilhante e lustrosa que quase é possível usá-la como um espelho. As paredes, em contraste, são todas brancas e adornadas por enormes quadros de artistas europeus renomados. A mobília é neoclássica, antiga, com contornos arredondados, mas de extremo bom gosto. Um gato gordo branco se espreguiça sobre o sofá, e salta dali — nos seguindo pela escada larga e curvilínea. Eu me abaixo um pouco para acariciá-lo. É tudo tão amplo e bem arejado, que somente a sala de estar deve caber pelo menos cinco kitnets do tamanho da minha.

O corredor é muito largo, e por uma das portas abertas, eu vejo rapidamente um senhor alto, de óculos e cabelos brancos. É Warren Biscotti, o bilionário pai de Jessica. Ele veste trajes sociais, está ao telefone, e parece irritado.

— Eu não quero saber do que esse moleque está tramando agora, já passou da hora de ele perceber que... —Sua voz desaparece enquanto continuo a andar pelo corredor interminável.

A suíte privada de Jessica, parece digna da realeza britânica. Da cama king-size, no centro, pendem belas cortinas brancas, e tem uma mesinha em cada lateral. A sacada tem uma exuberante vista para os contornos cidade: Os arranha-céus se perdendo onde começam as montanhas. Mas o verdadeiro tesouro fica escondido atrás de outra porta.

O closet é E-N-O-R-M-E. Tipo, grande mesmo. Ainda maior que o da Dominique. Uma família poderia morar aqui tranquilamente.

O gato passa se esfregando entre as minhas pernas, para saltar em uma das poltronas felpudas, tão branca e peluda que ele se camufla ali.

Meus olhos se perdem entre as araras e mais araras de vestidos de gala. E as prateleiras e mais prateleiras de sapatos caros. Esse lugar é tão grande quanto uma loja de departamento. O branco da mobília deixa que as cores das roupas ganhem destaque, e o espelho gigantesco torna o espaço ainda mais amplo do que já é.

— Barbara Bittencourt! — Jessica me cumprimenta de um jeito excessivamente animado. — Você chegou cedo...

— Jessica! — Devolvo o cumprimento com um sorriso.

Ela está com o corpo envolto por um roupão de cetim. Não é tão magra quanto as fotos fazem parecer, mas ainda é um corpo de causar inveja. Se aproxima. Toca as nossas bochechas de ambos os lados, deixando beijinhos estalados no ar.

— Eu ouvi falar muito de você ultimamente. Fiquei tão intrigada. Como é que a gente nunca se conheceu?

— Também ouvi falar de você — eu devolvo. — Que loucura não?

— Engraçado que a Becka e o meu irmão namoraram por mais de um ano. — Ela leva a mão até o peito. — Então eu vivia sendo arrastada para esses leilões de imóveis que vocês faziam.

— Becka? — Escapa dos meus lábios sem querer, enquanto eu franzo o cenho.

— É. Rebecka Bittencourt. Vocês são tipo primas, né?

— Ah, essa Becka! — Eu finjo levando a mão até a testa em um gesto dramático. Devia ter pesquisado mais sobre a minha suposta família para evitar esse tipo de gafe. O irmão da Jessica namorou Rebecka Bittencourt? Como eu perdi esse detalhe? — Faz uma eternidade que eu não a vejo. Desculpa, eu achava aqueles leilões um porre, nunca ia a nenhum se não fosse arrastada.

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