Ao final do show, nós estamos sentados no canto mais isolado do bar, e eu ainda estou fazendo Kennedy repetir o truque com as cartas de baralho. A carta assinada continua voltando para mim num estalar de dedos.
— Isso é bruxaria — protesto. — Qual o problema dessa carta, Ken?
Ele dá risada. Tirou o smoking ao descer do palco, e jogou de qualquer jeito sobre a cadeira. Agora veste só a camisa social branca. O colarinho afrouxado, as mangas arregaçadas, deixando aparecer um pedaço da carta de baralho tatuada no lado interno do seu antebraço.
— Não é magia de verdade, Barbie. É ilusionismo. Você só está olhando de um ângulo errado. Presta atenção. Eu vou marcar a carta para você ver o momento exato que a mágica acontece.
Ele dobra o meu quatro assinado no meio, deixando a carta com um aspecto enviesado. Embaralha. Fica segurando com uma mão só.
— Presta muita atenção, Barbie.
É o que eu estou fazendo. Não desgrudo os olhos do baralho, e quando ele estala os dedos. Pluf! A carta enviesada praticamente salta para cima de todas.
— Ah! Não! — Reclamo desistindo. — Isso não é de deus. Não é de deus, Kennedy!
Agora ele está gargalhando. Pega a carta entre os dedos indicador e médio e estende em minha direção.
— É melhor você levar para casa, ou ela vai continuar te encontrando.
Eu pego a carta, analiso. Empurro de volta para ele.
— Sem chance. Você deve ter invocado um demônio nisso daí! Sei lá o que você fez! Não quero não!
Ainda rindo, Kennedy coloca minha carta no topo do bolo, embaralha algumas vezes e abandona na mesa. Pego a sua mão e puxo um pouco a manga da camisa, para observar a sua tatuagem. Percebo que não é uma carta de baralho qualquer, tem o rosto de uma pessoa. Uma mulher de nariz fino e cabelos longos.
— Quem é a dama de copas? — Pergunto.
Ele solta um grunhido, parecendo não querer tocar no assunto.
— Um conselho: Nunca faça uma tatuagem se estiver muito bêbado ou muito apaixonado.
— É a sua ex? —Não consigo engolir o riso alto. Ele assente, constrangido. — — Assim não dá para te defender, Ken.
Levo a mão até o diafragma que dói de tanto dar risada.
— Vai dizer que nunca fez algo estúpido por gostar de alguém?
Engulo um pouco o riso, apertando os lábios. Posso nunca ter feito uma tatuagem, mas já fiz muita estupidez pelo Chris quando namorávamos.
— Você tem um ponto — admito.
Tabitha surge com seu mau-humor habitual e uma bandeja de inox equilibrada na mão esquerda. Serve a porção de batatas fritas que Kennedy pediu, depois a cerveja e, por último, o meu copo comprido de Sex on The Beach.
— Sem açúcar como a Kardashian gosta — anuncia com sarcasmo.
— Obrigada.
— Você está mais bonita hoje, Tabi — Kennedy provoca. — Fez algo no cabelo?
— Não. Mas fiz as unhas, quer ver? — E mostra o dedo do meio pintado de esmalte preto enquanto se afasta.
Ele dá risada.
— Essa garota me adora.
— É. Adora sim — respondo cínica, e um riso me escapa entre os lábios rosados. — Devia fazer uma tatuagem para ela.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Roube o visual
ChickLitFinalista do Wattys 2022 e 2023! Uma mentira não-tão-inocente colocou a ambiciosa maquiadora Barbara Vazquez para dentro do cobiçado mundo das celebridades, mas a sua vida não é tão cor-de-rosa quanto o estilo demonstra. Se de dia Barbara banca o lu...