Talento Nato

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Dominique finalmente está de volta da sua longa estada na Índia, e eu tenho certeza que a minha amiga voltou uma nova mulher, porque, ao invés de me chamar para ir às compras, ela me chama para fazer uma visita em sua casa, colocar o papo em dia.

Mini mora em um prédio antigo e luxuoso, daqueles em que as paredes são cuidadosamente esculpidas com curvas e detalhes, e todo o arredor é arborizado, tem até um lago cheio de carpas coloridas na entrada.

Eu subo de elevador até o décimo terceiro andar. Já estive aqui algumas vezes para maquiá-la, então encontro sozinha o caminho do seu quarto.

O closet enorme está praticamente desmontado. As roupas de grife formando montanhas sobre o chão de assoalho, e outras empacotadas em caixas de papelão. Dominique tem muitas, por que, bem, às vezes ela compra as coisas compulsivamente.

— Precisa de uma ajudinha aqui? — Pergunto saltando sobre uma pilha de vestidos para chegar até ela, que se levanta e me cumprimenta com um beijo no rosto.

Mini nunca perde a elegância. Mesmo em casa, está combinando uma camisa social, com sandálias e um short jeans que apenas destaca o comprimento das suas pernas.

— Estou arrumando as coisas. Vou doar tudo que não uso para caridade — me conta.

— Uau! — Me surpreendo. — Esse retiro mudou mesmo alguma coisa em você.

— Eu sei, eu sei... É que toda vez que eu vou para a Índia, sempre fico impressionada com a desigualdade social — explica enquanto dobra uma camisa com cautela. — Sei que isso existe em todo lugar, é só que lá isso é tão... óbvio. Me parece cruel acumular tantas coisas enquanto outras pessoas nem tem o que vestir.

Sacode a cabeça com um suspiro. Se senta no chão para voltar ao trabalho e eu me sento ao seu lado. Pego uma peça para ajudar. É uma bata laranja bastante bonita.

— Vai doar essa?

Dominique pega da minha mão para examinar.

— Vou — decide, colocando-a para dentro da caixa de papelão. Então me explica o esquema. Tem uma pilha das coisas que vão para doação, e outra do que volta para o armário. Ela está doando muita coisa. — Estou com alguns projetos em mente. Adoro esses retiros por causa disso, ajudam a gente a focar as energias no que importa.

— Posso saber que projetos são esses?

Ela me conta que está planejando desenhar uma grande coleção inspirada na Índia, o que por si só não é nada revolucionário, mas ela pretende centralizar toda a produção no seu país de origem por um motivo bastante altruísta.

—Recebemos muitas mulheres no instituto que, ao deixarem ou serem deixadas pelos maridos, ficam sem nenhuma renda. Isso geraria empregos e ajudaria essas mulheres a se tornarem independentes.

Sorrio. Eu estou muito orgulhosa dela por ser capaz de fazer tudo isso. Dominique é uma mulher tão inspiradora.

— Quando crescer, quero ser você.

Ela dá risada. Pego um vestido longo vermelho. É elegante, mas parece largo demais para caber no corpo esbelto de Dominique.

— Doação? — Pergunto.

Ela faz que não. Pega o vestido para analisar.

— Não sei o que fazer com ele. É o que a Viola Davis usou quando ganhou o Oscar, talvez acabe num museu um dia.

— Deve valer uma fortuna.

— Provavelmente.

Mastigo o meu lábio inferior, tendo uma ideia.

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