Camisinha mágica

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Passo boa parte da noite com os olhos vidrados no celular, acompanhando do sofá da minha casa as mais recentes manchetes sobre o tapete vermelho. O protesto de Mima Barkov gera muito mais comoção online do que eu jamais teria imaginado.

A tag #NãoSilencieAsMulheres se torna rapidamente o assunto mais comentado do Twitter, e eu sorrio satisfeita comigo mesma, me perguntando se Mima está se sentindo tão orgulhosa da causa (e de nós) quanto eu estou essa noite.

Mereço uma pequena comemoração!

Quando chego no Harvey's são quase nove horas. As mesas estão lotadas, e Kennedy já está no palco. Ele está concentrado em um truque, não me vê chegar, então eu me sento no bar de frente para Tabitha que está lavando copos.

Sex on the beach sem açúcar para a senhorita Kardashian? — Ela provoca com seu tom de ironia com o qual já estou acostumada.

— Quer saber? Não! — Decido. — Essa noite eu quero qualquer coisa com uísque, e também vou comer batatas fritas!

— Uau! — Tabitha parece surpresa. — O que estamos comemorando?

Ela coloca quatro pedras de gelo no copo, um pouco de açúcar, e então vira a garrafa de Johny Walker. Empurra o drink em minha direção. Eu ergo em um brinde solitário.

— A fazer história.

Em seguida viro uma golada longa na boca. Tabitha dá risada.

— Devo imaginar que essa alegria repentina tem a ver com o clima romântico que eu vi entre você e o mágico ontem?

Fujo os olhos para o palco. Kennedy está fazendo uma piada ruim enquanto embaralha as cartas. Está vestindo o smoking social e, desse jeito, ele até parece mesmo alguém com dinheiro, um emprego decente e curso superior. Nota a minha presença e lança um sorriso. Ele é ridiculamente lindo e precisa urgentemente fazer aquela barba, mas eu não paro de imaginar sua textura áspera raspando contra a pele do meu rosto em um beijo.

— Não rolou clima entre mim e o Ken — debocho. Viro outra golada longa, matando a bebida.

— Claro que não. — Ela vira os olhos. — Cerveja?

Nego. Entorto o copo de vidro em sua direção.

— Mais uísque — peço.

Ela obedece, refilando o meu copo com mais três dedos da bebida alcóolica.

— Barbie e Ken... — Tabitha solta um riso curto. — Que coincidência mais ridícula. Você ao menos acredita que esse é mesmo o nome dele?

Viro outro gole. Olho para o mágico, que acabou de fazer uma carta desaparecer de uma mão e aparecer magicamente na outra. Sei que é só um truque, como o alçapão que ele me mostrou na noite passada. Sei que quase tudo nele é um truque, inclusive esse seu jeito de me encantar magicamente com sua beleza. Ainda assim...

— É um nome ridículo demais para ser inventado.

— De fato. — A barista ri. — Mas ainda acho que você está dando crédito demais para alguém que todo mundo sabe que é uma fraude.

— Não estou dando crédito — minto franzindo o cenho. Viro outro gole do uísque. — Mas você conhece o ditado: Mantenha os amigos perto, e os inimigos mais perto ainda.

— Tá, mas não precisa ser na sua cama!

Ela dá risada. Sem que eu precise pedir, Tabitha refila o meu copo de uísque outra vez.

— Não dormimos juntos! — Protesto.

—Ã-hã...

— Sério!

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