P.O.V America
– Ela não chorou – foi o que me informou o mordomo quando Mary abriu a porta. – Ela não chorou, senhorita – ele repetiu, quando apareci. – Disse que estava tão boa que poderia ter feito isso, como a senhora sugeriu, mas não o fez de fato. O Príncipe Maxon virá buscá-la em seu quarto por volta das cinco da tarde de amanhã. Esteja pronta, por favor. – E então, saiu.
Virei-me para Mary, que estava radiante. Na verdade, ela estava radiantes desde que as palavras "Ela não chorou" saíram da boca do mordomo, o que me leva a crer que ela já sabia, o que me leva a crer que não há segredos nessa mansão.
– Ai, senhorita! – exclama Mary, saltitante, extremamente feliz por mim. Gostaria, realmente gostaria de estar tão feliz quanto ela.
Eu não estava irritada por perder, mas meio chateada por não poder usar calças. Nada contra vestidos, mas... tudo contra vestidos. Além do mais, acabo percebendo que o senhor deixou alguns envelopes com Mary. Quando ela percebe que os estou encarando, ela sorri amarelo, cora e me entrega os envelopes.
Mal minhas mãos tocam a textura meio áspera do envelope, já estou rasgando-o.
"Querida America,
Estou muito orgulhoso de você, minha filha. Sua mãe me mostrou uma foto sua numa revista chamada "Afrodite" que ela arranjou Deus sabe onde. É muito bom saber que você está bem. Estamos todos com saudades, você sabe, apesar de eu acreditar que ficaremos muito mais tempo do que jamais ficamos separados, muito mais do que somente um verão.
Agradecemos as tortas, mas não precisava ter mandado três caixas, não é? Não abuse da generosidade do rapaz. Mas isso é verdade? Você fez mesmo uma aposta com ele? No primeiro dia? Você não tem jeito mesmo.
Noah passou aqui em casa hoje, queria saber de você. Como se ele já não soubesse que você não estaria em casa... Ele me ajudou a arrumar o escritório e brincou um pouco com Gerad. Ainda não entendo por que vocês "deram um tempo", como você disse; ele é um cara legal, você sabe.
Ah, e ele acabou levando uma das tortas, não queremos que May fique muito mimada, não é?
Estou muito contente que tenha feito uma amiga, já que as únicas amigas que você fez em sua vida toda foram Nicoletta e Georgia. Fico feliz em saber que em apenas um dia, minha filhinha já tinha uma nova amiga.
Estou muito orgulhoso de você, estamos todos morrendo de saudades.
Amor,
Papai."
Eu até podia imaginar com quem mamãe havia arranjado a revista, mas me recusava a pensar que ela e Apolo ainda se encontravam. Depois de mim e de o meu pai ter descoberto, ela não teria coragem.
Fiquei chocada quando li que Maxon tinha enviado três tortas. Três. E não sei exatamente como me senti quando papai falou de Noah, tudo se misturava: paixão, ódio, raiva, sentimento de traição e dor. Mas certamente soube muito bem como me senti quando ele se perguntou por que havíamos terminado: foi simplesmente raiva.
Aquela carta só me ajudou a mostrar o quanto eu sentia falta de meu pai. Logo passei para a próxima carta:
"Querida America,
Estou muito orgulhosa de você, minha filha. Desculpe do modo como falei com você na última carta, estava com alguns problemas no trabalho, a Companhia está com vários problemas financeiros e parece que haverá um corte em breve. Desculpe ter descontado minha raiva em você. Eu te amo, minha filha, estou com muitas saudades suas.
Realmente desculpe-me, sei que você está muito chateada comigo, mas fiquei muito feliz quando nos mandou as tortas. Sei que foram para May, mas mesmo assim...
Amor,
Sua mãe, Magda."
O quê? Como assim "problemas no trabalho"? A Companhia não tem nem terá nunca problemas financeiros e mesmo que tivesse, nunca a tirariam. Ela sabe disso. Sabe que é boa.
E não. Não a desculpava. Ela não tinha o direito de me tratar daquele jeito, mesmo que Zeus estivesse mirando o Raio Mestre nela. Não iria desculpá-la nem agora nem nunca.
Sei que ela só deve estar assim porque tem medo que eu me torne uma deusa e incinere ela. O que não iria acontecer, porque, por mais ódio que eu tenha dela, ela ainda é minha mãe.
A próxima carta é, certamente, de May, o que deixa o clima mais leve. Percebo que Mary, Lucy e Anne deram um jeito de sumir quando viram lágrimas escorrendo sem querer por meu rosto enquanto eu lia as cartas. As lágrimas da primeira foram de saudades e da segunda de raiva. Imaginava que as da carta de May seriam de saudades, também.
"Oi, Ames!
É a May! Estou com tantas saudades! Você deveria ter mandando mais torta! Sei que é meio um abuso e que você não deve ter muito dinheiro para ficar mandando tortas para nós, mas, você sabe, estavam uma delícia.
Qual era a daquele moço que ficou aqui na porta? Ele disse que foi uma aposta. Que era para ver se eu chorava. Com quem foi essa aposta? Uma amiga? Um namorado? Ai, America, se você estiver namorando, você tem a obrigação de me contar. Sou sua irmã mais nova e não gosto de estar por fora!
Mas como é aí nesse outro acampamento? É divertido? Tem gente legal? Será que algum dia eu poderei ir? Espero que sim. Pelo que você me conta desde que foi para o outro acampamento, esses lugares são demais. Acho que aí deve ser mais legal ainda!
Você ficaria com raiva se eu te dissesse que estou com uma pontinha de inveja de saber que você está comendo todas essas coisas maravilhosas? Mamãe está cada vez mais mandona e estressada... Nem sei o motivo.
Você acredita que papai deu uma caixa da minha torta para o Noah? Sei que você está chateada com ele, mas o Noah é legal, Ames, não sei o que ele te fez, mas ele parece disposto a te recompensar.
Pense nisso.
Te amo,
May."
Estava chateada por Noah ter sido – novamente – incluso na carta. Ele devia estar manipulando minha família (pior, minha irmã mais nova), para que eles o achassem um bom samaritano doce e que nunca erra.
Não, May, eu não o daria outra chance. Nem agora nem nunca.
Também não conseguia entender por que o mensageiro mencionara a aposta, já que havia ficado acordado entre mim e Maxon (na frente de todos os olhos curiosos da sala de jantar) que ela não poderia saber de nada. Suspiro, em frustração, mas sigo em frente.
A carta de Gerad havia sido mais um bilhete que uma carta, era pequena, escrita na letra de nossa mãe:
"America,
Mande mais torta. Estava uma delícia.
Estou com saudades.
Noah veio hoje aqui brincar comigo, por que você nunca mais o chamou aqui para casa?
Te amo, estou com saudades. Quando você volta? Quando você voltar, virá com mais comida?
Gerad."
Ri um pouco com aquela carta, como ele podia ser tão fofo, aquele meu irmão? Mas novamente fiquei chateada com a menção de Noah. Será que ele havia feito lavagem cerebral na cabeça da minha família? Pelo menos mamãe não havia falado nele.
Abracei as cartas. Iria guardá-las para sempre, para me lembrar que eu havia sido louca o bastante para concordar em um concurso para ganhar o coração de um deus menor.
Adormeci abraçada as cartas, feliz por minha família estar tão bem e alegre quanto eu, mandando Noah para o fundo do meu subconsciente, em um baú dentro do mar, para ver se ele – e todos os pensamentos e memórias sobre ele – assim morria.
Então, antes de meu subconsciente se desligar do mundo, um pensamento incômodo veio: teria que ficar sozinha com Maxon novamente amanhã. Esperava, com todas as minhas forças, que aquilo não fosse nada demais.
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A Seleção Semideusa
FanfictionSe Maxon Schreave não fosse um príncipe querendo encontrar sua esposa, mas um deus grego imortal? E se America Singer não fosse um reles violinista da casta Cinco, mas uma semideusa? E se tudo fosse diferente e aquela Seleção mudasse a vida deles pa...