Capítulo 20 - Minha Triste História de Amor

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P.O.V America

– Ele estudava comigo. Éramos meio distantes até mais ou menos a metade do ano anterior ao ano retrasado. Sabe? Aquela coisa de "eu não me meto com ele, nem ele comigo." – pergunto, mais por perguntar. Sabia que ele não sabia. – Ele era um dos típicos irresponsáveis, idiotas do fundo da sala. Mas nossa! – exclamo. – Como era bonito. E tinha um sorriso completamente apaixonante. Mal percebi que estava apaixonada. Eu o olhava e ele me olhava de volta. Também me dedicava olhares de afeto. Então comecei a receber recados de um admirador secreto. Nunca descobri se era ele, ele nunca me disse de fato que era ele, mas eu soube.

– Sua casa ficava próxima da minha, não muito, mas eu não me importava de andar um ou dois quilômetros a mais para ter a oportunidade de vê-lo. Tinha certeza que o admirador secreto era ele. E eu agradecia tanto Afrodite, pedia tanto que fosse ele. E tão sutilmente quanto me apaixonei, nós ficamos juntos. Num dia mal nos falávamos. No seguinte, éramos namorados. Eu achava aquilo tão estranho... sei lá... ele ficava com tantas meninas lindas: loiras, morenas... Não entendia o que ele queria comigo, com meu cabelo ruivo sem sal e minha beleza mínima. E todo dia ele dizia que eu era a garota mais linda. E eu esperava. Esperava quando ele iria terminar comigo e ficar com outra. Mas isso não aconteceu e o tempo foi passando, fui me acostumando. Em pouco tempo, a ideia que ele gostasse de mim tanto quanto eu gostava dele não me parecia absurda.

– Mas a gente meio que deixou no segredo. Ninguém da escola ou de casa sabia. Menos minhas duas melhores amigas, Nicoletta e Georgia. Eu o amava tanto. – Suspiro, meu coração doía. – Ele ia às vezes lá em casa. Como amigo, claro. Nossas famílias eram muito amigas quando éramos crianças e meus pais pareceram gostar de nossa reaproximação. Ele foi virando amigo da família: brincava com meus irmãos menores, ajudava o mais velho, elogiava mamãe e algumas vezes até ajudava papai. E éramos tão felizes, ou eu pelo menos acreditava nisso. Eu estava esperando o dia que ele iria me assumir, mostrar ao mundo que eu era dele e ele meu. Mal acreditei quando, três dias antes de eu ir para o Acampamento, ele terminou comigo.

O quê? – Maxon se exalta.

– Meu coração se estilhaçou, quebrou-se em milhões de pedacinhos minúsculos. Pior ainda foi, quando um dia, um dia, depois, eu o vi nos braços de outra. De uma loira oxigenada igual àquelas com quem ele se envolvia antes de nós namorarmos. – Ouço Maxon falar algo mortalmente baixo, mas ignoro. – Doeu tanto. Tanto. E depois eu me toquei que ele não queria ficar um verão interior sozinho. Queria curtir, tirar o atraso. – "Se é que me entende...", quis acrescentar, mas ele não entenderia.

– Toda vez que me lembro de seu nome ou de seu rosto meu coração suspira e se contorce, Maxon. Sei que auto piedade é pior que o fundo do poço, mas... – Não acredito que estou chorando.
Ele me olha desconcertado. Depois me puxa para seus braços e acaricia meu cabelo.

– Shhh... Já passou – ele diz, ainda que pareça muito desconfortável. – Já passou.

– E o que me deixa mais louca – começo, fungando e molhando toda sua camisa vinho de lágrimas – é saber que há outras meninas atrás dele. Sempre houve. E agora ele não tem motivos para recusá-las. Talvez esteja neste instante com aquela loira oxigenada, metida e feia pra burro. E não posso fazer nada. Mas pensar em voltar para casa e assistir a tudo isso... Não posso, Maxon... Simplesmente não posso... E eu não queria vir para cá. Preferia o Acampamento, lá tinha Olive, Aspen, meus irmãos, quando o verão acabasse, iria para casa chorar mais um pouco e encarar tudo de cabeça erguida. Eu não queria encarar a Seleção só para ser enxotada na primeira semana e voltar para a casa do mesmo jeito... – paro. Por que estou lhe falando isso?

Para mudar de assunto e ao mesmo tempo confortá-lo para que minha história não o desencoraje a viver a própria, eu lhe digo:

– Maxon, espero que encontre uma pessoa sem a qual não possa viver. Espero muito. E desejo que nunca precise saber como é tentar viver sem ela.

O rosto de Maxon é mero eco da minha dor. Seu coração parece ter sido despedaçado por minha história. Mais que isso: ele parece estar com raiva.

– Sinto muito, America. Eu não... – ele se força a parar e sua expressão se contorce um pouco. – Agora é um bom momento para pôr a mão no seu ombro? – Ele sorri de leve, como se estivesse tentando me animar.

Seu gesto me faz sorrir um pouco também. Fungo antes de responder:

– Sim, Maxon. Esse seria o momento perfeito.

Ele me solta do seu abraço, põe a mão em meu ombro para só então perceber que havia me abraçado, então me abraça de novo.

– A única pessoa que já abracei é minha mãe. Estou fazendo certo? – pergunta.

Eu rio. Eu nunca tinha visto Tiquê, mas era estranho imaginar uma deusa carinhosa abraçando seu filho, mesmo que ele fosse divino. De qualquer modo, o jeito espontâneo e entusiasmado de Maxon era contagiante, mesmo naquele momento.

– É meio complicado se errar um abraço.

O silêncio se ergue, mas após poucos segundos, eu falo novamente:

– Mas eu entendo o que quer dizer. Também só abraço minha família. – "E Noah.", acrescento mentalmente.

Aquele longo dia – com os vestidos, o Jornal Oficial, o jantar e as conversas – me deixara exausta. É muito bom ter Maxon comigo, abraçando-me, e, às vezes, até acariciando meu cabelo. Ele não é tão perdido como parece ser. Esperou pacientemente minha respiração ficar mais lenta e, em seguida, afastou-se e olhou nos meus olhos.

– America, prometo mantê-la aqui até o último momento possível. Sei que eles querem que a "final" seja composta de três garotas, e então poderei escolher. Mas eu juro: vou deixar duas garotas na final só para manter você aqui. Não vou mandá-la embora até que seja necessário. Ou até que esteja pronta. O que vier primeiro.

Concordo com a cabeça.

– Sei que nos conhecemos faz pouco tempo, mas acho você maravilhosa. Não gosto de vê-la magoada. Se ele estivesse aqui, eu... eu...

Maxon estremece de frustração e depois suspira:

– Sinto muito, America. – Beija meu cabelo com ternura.

Ele me abraça de novo e acalenta minha cabeça sobre seu ombro largo. Sabia que manteria suas promessas. Assim, deixo-me estar naquele que talvez fosse o último lugar onde poderia encontrar consolo sincero.

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