Capítulo 37 - Um Ataque

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P.O.V America


Não consegui dormir direito sabendo da presença de Christian no corredor, coisas já enterradas há muito tempo em camadas e mais camadas de pensamentos do meu subconsciente voltam à tona para me assombrar e tirar o sono, como por exemplo: Por que se afastou? Por que está aqui agora? Por que sua presença me perturba tanto?

Também estava me sentindo mal por ter ignorado Maxon, claro que ele merecia por defender aquela cobra da Celeste e me humilhar, mas...

O cansaço acaba me vencendo e em algum momento da noite eu adormeço.


Na manhã seguinte, o sentimento de culpa havia sido substituído novamente por raiva. Ainda bêbada de sono, levantei-me e fui me banhar.

Era sábado, e teoricamente eu deveria ir para o Salão das Mulheres, mas não ia aguentar. Precisava pensar, e sabia que não conseguiria se estivesse rodeada por um falatório incessante. Quando as criadas chegaram, disse a elas que estava com enxaqueca e que ia ficar na cama.

Elas foram muito prestativas. Levaram meu almoço e limparam o quarto sem fazer barulho. Quase me senti mal por ter mentido. Mas eu realmente não estava afim de encarar todo mundo.

Fechei os olhos, mas não dormi. Tentei clarear meus sentimentos. Não consegui fazer grandes progressos, no entanto.


Acordo com Anne me sacudindo violentamente no meio da noite. Nem tinha percebido que havia dormido. Olho pela janela. Deve ser o que? Umas dez, onze horas da noite?

– O quê?!

– Por favor, a senhorita precisa se levantar!

Sua voz é frenética, assustada e agitada, carregada de um terror que parece sufocá-la.

– O que há de errado? Você está machucada? – pergunto, seu medo me contagiando aos poucos.

– Não, não. Temos de levá-la ao porão. Estamos sendo atacados.

Eu não estou entendendo direito, estou tão confusa. Não tenho certeza se entendi direito o que Anne disse, mas olho para os lados e vejo que Lucy está chorando logo atrás dela e percebo que sim, eu entendi direito.

– Eles conseguiram entrar? – pergunto, incrédula, cheia de horror.

O som dos lamentos de Lucy – que aumentam a menção da entrada dos monstros na Mansão – são a única confirmação de que eu preciso.

– O que faremos? – Não é uma lamentação, é uma pergunta. Agora temos que ser rápidas e objetivas.

Um pico súbito de adrenalina me desperta completamente e eu pulo da cama. Meus pés mal tocam o chão e Mary já está calçando os sapatos em meus pés enquanto Anne me cobre com um roupão. Eu só me pergunto uma coisa: "Quão perto estão?"

– Há uma passagem no corredor. Ela conduz diretamente ao esconderijo no porão. Os guardas estarão à sua espera. O Príncipe e o Senhor e a Senhora Jackson já devem estar lá, assim como a maioria das garotas. Rápido, senhorita.

Anne me empurra para fora do quarto e começamos a andar até que ela começa a tatear a parede. Quando parece achar o que procurava, ela para e força um trecho da parede para dentro, que gira como uma passagem secreta dos livros e filmes de mistério. Certamente há uma escadaria me esperando depois da passagem, mas estava escuro demais para ver e a frágil luz da vela que Mary carregava em suas mãos pouco iluminava a escuridão abaixo. Enquanto eu estou observando a passagem, Tiny passa como um relâmpago vinda de seu quarto e dispara pelos degraus.

– Muito bem, vamos – digo.

Mary e Lucy arregalam seus olhos para mim, enquanto Lucy não parece esboçar nenhum sentimento sobre minhas palavras, mas também, o pânico não deixa, ela treme tanto que mal consegue ficar parada.

– Vamos – repito, um pouco de impaciência transparecendo em minha voz.

– Não, senhorita. Vamos para outro lugar. A senhorita precisa se apressar antes que eles cheguem aqui. Por favor!

Sabia que na melhor das hipóteses elas seriam feridas se os rebeldes as encontrassem; na pior, elas seriam mortas. Não suportaria saber que alguém as machucaria. Talvez eu estivesse sendo um pouco convencida, mas se Maxon já tinha chegado ao ponto de fazer tanta coisa por minha causa, quem sabe elas não eram importantes para ele por também serem para mim? Mesmo que tivéssemos brigado... Talvez fosse abusar de sua generosidade, mas eu não podia deixá-las lá. O medo fez com que eu agisse rápido. Agarrei Anne pelo braço e a empurrei para dentro. Ela perdeu o equilíbrio e não conseguiu evitar que eu empurrasse Mary e Lucy.

– Andem! – mandei com toda a autoridade que consegui exprimir em minha voz.

Elas começam a andar, mas Anne protesta ao longo de todo o caminho:

– Eles não nos deixarão entrar, senhorita! É um lugar só para as pessoas importantes... Eles vão nos mandar sair.

Não me importo com essas palavras. Não importa qual seja o esconderijo delas, não será mais seguro do que o nosso.

A escadaria tem luzes a cada dois metros, mas mesmo assim a escuridão ainda é grande e quase caio duas vezes em minha pressa. Minha mente está cega de tanta preocupação. Quão longe esses monstros já tinham chegado antes? Eles sabiam da existência dessas passagens secretas?

Lucy está quase paralisada; eu tenho que puxá-la para não dispersar o grupo.

Não sei dizer quanto tempo levamos para chegar ao fim das escadas, mas o caminho estreito finalmente desemboca em uma caverna artificial. Posso ver outras escadarias e outras meninas; todas elas correm para trás do que parecia ser uma porta de mais de meio metro de espessura. Nós quatro corremos para o esconderijo.

– Obrigado por acompanharem a senhorita. Podem ir agora – diz o guarda enquanto faz um sinal de dispensa para as minhas criadas.

– Não! Elas estão comigo. Vão ficar – eu digo, novamente tentando pôr autoridade em minha voz.

– Senhorita, elas têm seu próprio esconderijo – ele fala como se estivesse explicando algo a uma criança de cinco anos.

– Ótimo. Se não entrarem, eu não entro. Tenho certeza de que o príncipe Maxon gostará de saber que minha ausência é culpa sua. Vamos voltar, meninas.

Puxo Mary e Lucy pelas mãos. Anne está tão chocada que não consegue dizer nada.

– Espere! Espere! Muito bem, podem entrar. Mas se houver qualquer reclamação, a responsabilidade será sua.

– Sem problemas – digo com um sorriso vitorioso antes de dar meia volta e entrar no abrigo, sem ligar para o quão dissimulada eu fui, apesar de saber que se ele não me deixasse entrar, eu iria com as minhas criadas para o abrigo que elas fossem destinadas.

Pelo menos elas estão a salvo.

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