Capítulo 30 - Beijos e Presentes

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P.O.V America


Não contei a absolutamente ninguém sobre o que havia acontecido entre mim e Maxon. Nem mesmo à Marlee ou à Anne, Mary e Lucy. Era um segredo maravilhoso. E era meu. Eu sempre poderia relembrá-lo durante as aulas chatas que a moça chamada Silvia havia passado a nos dar para entendermos melhor todas as confusões do Olimpo e as implicações de escolhermos nos casar com Maxon ou durante as tediosas e longas tardes no Salão das Selecionadas. E para ser honesta, eu pensava nos beijos – tanto no estranho quanto no doce – com mais frequência do que eu previa ou deveria.

Claro que eu sabia que para me apaixonar por Maxon não seria da noite pro dia. Não era tão fácil assim, meu coração não iria deixar. Mas de repente me vi em uma situação em que talvez eu quisesse me apaixonar por ele. Então pensei na possibilidade, em silêncio, sozinha, embora tenha sentido mais de uma vez a tentação de revelar meu segredo.

Mais precisamente três dias depois quando Olivia anuncia no Salão das Mulheres que Maxon a beijara.

E por incrível que pareça, não pude acreditar na dor que senti – parecida com aquela do dia das fotos, mas multiplicada por mil. Quando dou por mim, percebo que estou encarando Olivia, olhando-a de baixo a cima, perguntando o que essa filha de Baco tinha de mais.

– Conte tudo! – pede Marlee parecendo genuinamente interessada.

A maior parte das garotas também está curiosa, mas Marlee parece ser a que está mais empolgada. No pouco tempo passado desde seu último encontro com Maxon, seu interesse no progresso das outras crescera. Eu nem desconfio o que estava por trás da mudança, tampouco tenho coragem ou vontade de perguntar.

Olivia nem precisa de um segundo incentivo para começar a falar. Ela se senta em um dos sofás e se abana com o vestido. Com as costas bem eretas e as mãos no colo, era como se estivesse ensaiando para ser uma princesa – ou deusa, no caso. Fico morrendo de vontade de dizer que um beijo não lhe dava vantagem nenhuma.

– Não quero entrar em detalhes, mas foi bem romântico – ela diz, entre suspiro e depois abaixa a cabeça. Sua voz me dá raiva de tão irritante. – Ele me levou até o telhado. Há uma espécie de sacada lá, mas aparentemente só os guardas a usam. Não sei dizer. Poderíamos enxergar além dos muros. Há uma cidade perto, completamente iluminada até onde nossa vista alcançava. Ele não disse nada. Apenas me puxou para perto dele e me beijou.

Todo o corpo de Olivia se contrai de alegria. Marlee suspira. Celeste parece ter vontade de quebrar alguma coisa. Eu permaneço sentada, tentando não expressar a minha raiva, fúria, mágoa e tristeza.

Repito para mim mesma que não deveria ligar. É tudo parte da Seleção. Aliás, quem disse que eu quero mesmo ficar com ele? Na verdade, eu devia considerar aquilo uma sorte. Celeste tem agora um novo alvo para sua maldade. E depois daquele episódio com o vestido – que só neste momento me dou conta de que não tinha contado a Maxon –, fiquei feliz por vê-la escolher outra vítima.

– Você acha que ela foi a única que ele beijou? – Tuesday cochicha ao meu ouvido.

Kriss, do meu outro lado, ouve a pergunta e decide opinar:

– Ele não deve beijar qualquer uma. Alguma coisa ela fez de certo – seu tom era quase de um lamento.

– E se ele beijou metade desta sala e todas guardam segredo? Talvez seja parte da sua estratégia – Tuesday comentou, pensativa, de um modo extremamente clichê alisando o queixo.

– Acho que nem todas guardariam segredo por estratégia – rebato, me sentindo extremamente desconfortável. – Talvez só sejam reservadas.

Kriss respira fundo, como se quisesse reunir paciência.

– E se essa história da Olivia for apenas um jogo? Todas neste salão estão preocupadas agora, e ninguém vai ter coragem de perguntar a Maxon se ele a beijou mesmo. Não há como descobrir se ela está mentindo.

– Você acha que Olivia faria isso? – pergunto, não querendo me sentir aliviada.

– Pois é. Não acha que isso é calculista demais para uma filha de Baco, não? Não seria mais a cara de alguém de Atena? Certamente Reeli teria feito algo do tipo antes, não? – questiona Tuesday.

– Se estiver fazendo, eu queria ter pensado nisso primeiro – deseja Kriss antes de prosseguir: – Isso é muito mais complicado do que pensei que seria. – Ela suspira.

– Nem me fale – resmungo.

– Gosto de quase todas as meninas nesta sala, mas quando ouço falar que Maxon fez algo diferente com alguma delas, só penso em dar um jeito de ser melhor que ela – admite Kriss. – Mas de verdade. Não gosto de ver vocês como concorrentes.

– É o que eu comentava com Tiny um dia desses – acrescenta Tuesday. – Sei que ela é um pouco tímida, mas é muito refinada e acho que seria uma ótima esposa para o príncipe. Não posso ficar brava com ela se tem mais encontros com o príncipe do que eu, apesar de também querer o poder.

Os olhos de Kriss e os meus se cruzam por um segundo. Posso perceber que estamos pensando a mesma coisa. Tuesday disse poder, não príncipe ou sequer deus. Mas deixo passar. A segunda parte de sua fala me parece familiar.

– Marlee e eu conversamos sobre isso o tempo todo, sobre como vemos ótimas qualidades uma na outra.

Nós nos entreolhamos. Algo parece ter mudado. Do nada, eu já não tenho inveja de Olivia ou raiva de Celeste. Todas estamos no mesmo barco, em lugares diferentes, e talvez por motivos diferentes, mas pelo menos estamos nisso juntas.

– Talvez Annabeth esteja certa – reconheço. – O mais importante é ser você mesma. Prefiro que Maxon me mande embora por ser eu mesma a que me mantenha aqui por ser outra pessoa.

– Isso é verdade – concorda Kriss. – No fim das contas, trinta e quatro garotas vão embora. E se eu fosse a última a ficar, gostaria de contar com o apoio das outras. Por isso, temos que nos ajudar desde já.

Concordo com a cabeça. Ela tinha razão. E eu sabia que de algum modo eu poderia ajudar.

Foi então que, como a maior ironia do Destino até aquele momento, Elise, que sempre fora tão calma, contida e devagar, que nunca levantava a voz, entra com um rompante no salão seguida por Emmica e Zoe. Ela vem correndo em nossa direção e para, nos observando por alguns nanosegundos antes de gritar:

– Olhos esses pentes! – Wla brandiu triunfante dois belos enfeites de cabelo cobertos do que pareciam ser milhões de pedrinhas preciosas extremamente brilhantes. – Foi Maxon que me deu – ela abaixa seu tom, como se contasse um segredo, ainda assim, parece alto demais para Elise. – Não são lindos? – Ela sorri bobamente.

Suas palavras provocam uma nova onda de agitação e decepção no meu corpo. Minha confiança recém-conquistada voa pelos ares.

Tento não parecer decepcionada. Afinal, eu também recebi presentes. E também fui beijada. Mas à medida que chegam mais garotas e mais histórias são recontadas uma vontade de me esconder cresce dentro de mim. Talvez esse fosse um bom dia para ficar no quarto com Anne, Mary e Lucy.

Reviro meus olhos, me despeço rapidamente das meninas antes de me arrastar para fora do salão, ir para meu quarto e me jogar na cama.

Eu realmente merecia.

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