P.O.V America
No dia seguinte, as olheiras estão piores do que nunca, marcando minha pele alva com manchas arroxeadas.
Mas isso pode ser uma vantagem, afinal, o tal do Maxon vai ver como estou acabada e me mandar para casa. Fim. Acabou. Sem estresse, sem deus menor, sem Seleção.
Pego minha mala e me preparo para a partida. O pessoal do chalé ainda me abraça e se despede, mas eu ainda não vou embora, ainda tenho mais três horas.
Saio ao ar livre e vou pro campo de morangos. Roubo três ou quatro sem ninguém perceber com a ajuda de uma filha de Hermes. Nós rimos e eu me despeço, já que tenho que dar uma passadinha no Chalé de Zeus para me despedir novamente de Olive e depois me despedir de Aspen e ainda tomar banho para estar pronta às 14:55.
Depois de falar com Olive por meia hora, vou me despedir de Aspen, onde fico mais meia hora. E quando eu percebo, já são duas e quarenta, desse jeito não dará tempo. Me despeço rapidamente dele e saio correndo para o meu chalé, onde tiro todo mundo do banheiro e tomo um banho rápido.
Depois, já de banho tomado e devidamente enxuta, ponho um dos meus jeans prediletos, a camisa do CHB e sapatilhas pretas meio gastas. Passo um pouco de base, corretivo e pó. Belisco minhas bochechas, passo batom e quando olho o relógio já são 14:54. Não tenho tempo para passar a sombra, então pego minha bolsa de rodinhas e saio arrastando-a enquanto corro loucamente até a Casa Grande. Não vejo ninguém lá.
Será que o pessoal que vai nos levar para essa tal de Seleção apareceu e como eu não estava eles me deixaram? Seria bom demais para ser verdade...
– America? – ouço a voz preocupada de Quíron e me viro para encará-lo, uma pergunta não dita pairando no ar. – O que você está fazendo aqui?
– O Sr. D. disse que era para estarmos aqui de três horas da tarde.
– Ele disse? – ele se pergunta. – Oh, querida, era para ser só de 15:30.
Encaro-o, chateada, toda essa corrida para nada. Balanço a cabeça e pergunto:
– Posso usar o banheiro para terminar minha maquiagem? Eu vim correndo.
– Sim, claro. – ele responde.
Entro no banheiro e termino de passar a sombra azul claro em minhas pálpebras. Quando saio, um garoto, de cabelos cor das folhas que caem no outono e olhos cor de chocolate me encara, ele me olha atentamente, nunca o vi lá, mas sua beleza era digna de um filho de Afrodite. Desvio meus olhos de seus olhos, peço licença e vou atrás de Quíron.
– Quer tomar chá? – ele me pergunta por educação.
– Seria bom, tem quais opções?
– Só diga. – ele sorri misteriosamente.
– Morango, então. Ou cravo e canela.
– Um chá de morango saindo. – ele anda em sua cadeira de rodas até detrás da bancada e começa a preparar meu chá.
Sento-me num sofá e quando ele me entrega o chá, fico bebericando-a até que as outras selecionadas cheguem.
– Quem era o garoto do terninho? – pergunto sobre o garoto da porta do banheiro. Apesar de absurdamente lindo, ele parecia meio almofadinha.
– Não sei de quem você está falando – diz Quíron, dando um longo gole em seu chá verde fumegante.
Franzo as sobrancelhas. Okay... eu vivo num mundo de deuses gregos, romanos e semideuses, já deveria estar acostumada a coisas sem sentido.
Na limusine – sim, uma limusine –, fico em meu canto, calada. Não conheço muito bem ninguém dali, só de vista. Uma garota se aproxima de mim e tenta puxar assunto.
– Olá, sou Reeli Tanner. Filha de Atena. Você é America Singer, não é? Filha de Apolo?
Olho-a surpresa, será que todas aquelas garotas decoraram os nomes de todas as outras, seus pais divinos, acampamento, gostos, rosto e etc? Bem, eu não estou preparada para isso.
– Isso. – digo, meio desinteressada.
– O que você está achando de tudo isso?
Será que essa filha de Atena está fazendo uma pesquisa e criando uma estratégia de batalha para ganhar essa Seleção agora mesmo, em sua mente?
– Desnecessário. – levanto-me. – Agora, se me dá licença, tenho que pegar uma água.
Ando até o pequeno frigobar enquanto a limusine chacoalha. Outra limusine idêntica a essa está rasgando através do tráfego ao lado da nossa, levando as outras nove selecionadas. Não vejo, mas imagino que Reeli fez uma enorme careta e agora ela está caminhando atrás de mim até o banco onde ela estava antes de vir falar comigo.
Depois de um gole, percebo que minha água tem gosto de terra. Será que alguma filha de Poseidon envenenou essa água ou algo do tipo? Será que eles podem envenenar água? Acho que não. Balanço a cabeça e me sento novamente em meu lugar.
Demora somente três horas para chegarmos ao aeroporto. O trânsito dessa cidade estava tão caótico... De lá pegamos um avião para não sei aonde em algum lugar no centro-oeste ou noroeste dos Estados Unidos.
Quando saímos do avião, somos encaminhadas a outra limusine. Isso já está ficando cansativo: senta, levanta, caminha um pouco, senta, levanta, caminha um pouco, senta, levanta, caminha um pouco, senta. Repito este mantra sem perceber pelo caminho todo até que paramos em frente a uma grande mansão que mais parece um castelo de cor creme. Grandes portões de grade de ferro igual aos de filmes de abrem para que as limusines passem.
Quando saímos das limusines, sem as nossas bagagens, já que eu não as via desde Long Island, várias outras garotas com blusas roxas estão a alguns metros de nós. Algumas garotas quando nos veem, gritam e algumas garotas daqui também gritam e então os grupos estão se misturando e eu estou sozinha novamente, em um canto.
– Oi. – Ouço uma voz familiar e me viro, deparando-me com Annabeth Chase.
– Annabeth! – exclamo feliz, envolvendo seu pescoço com meus braço. Quando vejo o quanto o gesto é estranho já que não somos nem tão próximas assim, me afasto sem jeito.
– Estou feliz em ver você também, America – ela diz, sorrindo amplamente.
– O que faz aqui? – pergunto, provavelmente soando como uma débil mental. Ver alguém conhecida é um grande alívio.
– Nosso querido rei do Olimpo me obrigou a dar uma de professora de etiqueta para vocês, ou algo do tipo. – Ela olha para longe – Porque eu sou do Acampamento Meio-Sangue, mas passei alguns anos no Acampamento Júpiter, então eu supostamente deveria saber os costumes, gostos, etc e ajudar vocês todas. – Seu olhar se volta para mim novamente. – E o Percy também veio, pois foi minha exigência, já eu não quero ficar muito tempo longe do meu marido. – Ela sorri e naquele momento sei, mais do que nunca, que eles devem ser o orgulho de Afrodite.
– Ah! – exclama como se lembrasse de algo. – O Percy disse que vocês iam continuar as aulas de esgrima aqui, se o Maxon deixar, é claro, e que você nem pensasse em fugir dele dessa vez. – Ela sorri e depois toca no meu ombro, pedindo licença.
Ela se volta para o resto das selecionadas e bate algumas palmas para que a atenção seja voltada para ela. Algumas garotas dão gritinhos felizes quando a veem, pelo menos eu não sou a única que vê conforto em Annabeth e isso é um alívio. Annabeth sorri para o grupo e diz em um megafone:
– Venham, meninas, a Seleção está prestes a começar. – e entra pelas grandes portas de madeira da mansão, enquanto várias meninas a seguem.
"Pode ser que essa Seleção não seja tão ruim quanto parece...", penso, tentando me animar, enquanto entro no enorme hall de entrada da mansão.
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A Seleção Semideusa
FanfictionSe Maxon Schreave não fosse um príncipe querendo encontrar sua esposa, mas um deus grego imortal? E se America Singer não fosse um reles violinista da casta Cinco, mas uma semideusa? E se tudo fosse diferente e aquela Seleção mudasse a vida deles pa...