Capítulo 54

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Os céus pareciam ter ciência do estado emocional que Denki se encontrava, e com as palavras ácidas onde guardou em sua alma por anos, a chuva voltou a derramar sobre o internato.

Tudo aquilo poderia estar conectado como uma história curiosa onde o protagonista era especial, mas Shinsou descartou quaisquer começo e final feliz perante aquele inferno.

Precisou acalmar Denki por quase dez minutos. A dor causada pelos socos do loiro sequer chegava perto da amargura sentida por vê-lo de forma indefesa. Sequer parecia verdade a palavra indefesa estar lado a lado com ele, o jovem que comandava o internato, era temido e aterrorizava qualquer um apenas com um olhar.

Agora seu corpo tremia, os olhos nunca transbordando lágrimas e pavor como se o terror de anos atrás acabasse repetindo novamente.

Shinsou conseguira trocá-lo após uma imensa dificuldade, visto que ao mínimo toque Kaminari recuava num reflexo involuntário, fazendo com que o arroxeado voltasse a estaca zero de precisar acalmá-lo. Não estava cansado por gastar tamanho esforço, pelo contrário, ajudar o loiro até a ficar completamente coberto lhe fazia se distrair dos pensamentos ruins. Ele sabia que não conhecia Kaminari na época, viviam em mundos diferentes e em países diferentes.

Mas ainda era impossível não se sentir culpado por não ter conseguido ajudar.

— Toshi... — A voz de Denki emana enfraquecida por baixo dos lençóis onde se encontrava. O arroxeado apressou-se para colocar o restante das roupas secas, e lentamente sentou na cama ao lado do namorado.

— Sim, Darling? — Sussurra gentilmente, a destra sendo usada para acariciar com extremo cuidado as costas cobertas do rapaz.

— Por favor... — Encolheu ainda mais, um suspiro baixo deixando a garganta embargada ao tomar coragem de pedir aquilo. — As lâminas que estão numa gaveta falsa no guarda roupa, pode... Pode se livrar delas nesse exato momento?

O corpo de Shinsou estremece, até os dedos hesitam continuam as carícias, parando lentamente por entender de primeira o por que das lâminas precisarem ser retiradas dali imediatamente.

— Tudo bem, Darling. — Responde se levantando devagar. A todo tempo, tinha a sensação do coração quase deixando o peito e fosse sair pela boca. E, quando retirou a gaveta falsa do guarda-roupa, pegou numa caixa tão pesada que fizera seus dedos tremerem mais uma vez. Haviam tantas assim? — Escute... Vou trancar a porta por fora, okay? Isso te faria sentir mais seguro enquanto não estou aqui?

— Sim... — Murmura, se encontrava tão dopado por sensações ruins, que sequer conseguia sentir apreensão do arroxeado estar longe. Quando Shinsou se levantou com a caixa pressionando fortemente contra o peito, Kaminari soltou as últimas palavras. — Não conte para o Bakugou e o Kirishima.

Vacilou. Hitoshi vacilou no lugar. Novamente o peso de esconder os segredos do loiro da própria família saiu sobre seus ombros. Quantas vezes desejou contar para Bakugou sobre os cortes de Kaminari, implorar que Kirishima soubesse o por que do loiro precisar de tanta maquiagem senão para encobrir alguma coisa.

Não conseguia, Shinsou era tão leal a Kaminari, que caso o mesmo o mandasse amputar suas pernas para depois pular de um penhasco coberto por vidro, ele o faria sem pensar duas vezes.

Deixou o quarto após a porta ser trancada de cabeça baixa, aquele incessante som da chuva ressoando em seus ouvidos lhe incomodava, o frio que sempre buscava fugir nos braços de Kaminari estava presente, mas agora ele não poderia fazer isso. Pois era seu namorado que precisava se abrigar nos braços dele.

Teve um desprazer de ouvir passos, semelhante a pequenos saltos indicando a presença de uma mulher. Não havia lugar para esconder-se, então num desajeitado ato de desespero colocou a caixa atrás das costas, e quando se deu conta, Vânia apareceu. Parou no lugar, o corpo ficando rígido em ver a figura, sempre tão aparentemente gentil e disposta a ajudar todos.

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