Capítulo 10

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Capítulo Dez

Acordei com a cama vazia e mais confusa que tudo na vida. Porque senti prazer com ele depois de tudo que aconteceu? Era pra ser ruim mas de repente apareceu vulnerável e machucado depois de resgatar o colar de nossa senhora que meu pai me deu. Baixei um pouco a guarda, devo admitir. Depois acordei com ele fazendo aquelas coisas incríveis com a língua. Ahhhhh sou uma doente. Não pode ser possível isso. Sentei na cama e percebi um celular novo com um bilhete escrito "É seu novo celular. Número novo também". O modelo não tinha sido lançado no Brasil e ele conseguiu um pra mim. Fui no Instagram do Felipe e olhei as fotos do meu casamento. Eram apenas duas na hora do beijo. Mandei mensagem pedindo que agendasse meu novo número. Recebi uma notificação no Facebook da tia Vera. Abrir o bate papo e ela fez uma chamada de vídeo. Aceitei no susto.
— Quero falar com você. Estou indo para aquele café perto do apartamento que dividiu com meu filho.
— Du'café. — Falei o nome do local quase gaguejando.
— Isso mesmo. — Desligou. Puta merda. Ela vai arrancar meu coro. Com tantos problemas esqueci de conversar com a Tia. Ela é como uma mãe pra mim. Sempre esteve ao meu lado nos momentos mais difíceis. Não deveria ter casado sem falar com ela antes e explicar os motivos e a situação em que estava. Fiquei pronta em minutos e desci quase correndo.
— Lúcia, você sabe do Jamie?
— Foi trabalhar. — Pensei em falar do assalto mas não teria tempo e não quero perturbar a Lúcia. Ela é muito sensível. — Quer tomar café?
— Não, obrigada. Como faço para pegar um carro?
— Silveira está a sua disposição. Pode levar para onde desejar.
— Tá certo. — Beijei as bochechas da Lúcia e ela pareceu surpresa com o gesto e devolveu com um abraço apertado. Ela é muito doce. Encontrei o Silveira e pedi que me levasse no café. Sentei com o cu na mão e pedi um cappuccino. Sabia que teríamos uma conversa difícil e estava preparada para quase tudo. Ela chegou logo em seguida e sentou também.
— Quase não a reconheci. — Ela olhou a aliança em meu dedo. — Então é verdade mesmo. Casou com um velho rico.
— Jamie não é velho. E é um cara legal.
— Daniel me contou tudo. Eu sei que estava tendo um caso com esse homem por dinheiro.
— Não foi bem assim, tia. Eu conheci o Jamie antes do Daniel voltar. Ficamos algumas vezes mas foi apenas isso. Depois que eu e o Daniel reatamos... É muito complicado explicar. — Não consegui dizer que não estive com o Jamie porque é mentira.
— Não mente pra mim. Esteve com esse americano enquanto estava com meu filho? — Confirmei com a cabeça.
— Foram duas vezes e aconteceu porque me senti insegura mas foi apenas uns beijos e amassos. Não transamos até depois do casamento. Eu juro. Daniel estava conversando com outra... — Ela levantou a mão pedindo que parasse de falar.
— É verdade que vendeu a casa da sua mãe?
— Não vendi. Dei o prédio e a casa como garantia para o banco e como não consegui quitar a dívida eles tomaram tudo.
— Então sua mãe não tem mais a casa que construiu com tanto sacrifício? A casa onde você nasceu e foi criada? Tita... quando vai começar a agir como uma mulher adulta? — Baixei minha cabeça. — As pessoas normais costumam aprender com os erros mas você, parece gostar de viver de forma irresponsável e sem limites. Como foi capaz de fazer um empréstimo e entregar a única segurança da sua mãe. O que fez com o dinheiro? Provavelmente gastou tudo com na farra com aqueles seus amigos tão irresponsáveis quanto você. — Não era verdade. Minha mãe fez várias empréstimos para pagar o tratamento do papai e depois para manter ele em casa. Nada foi barato. Nem mesmo o enterro.
Depois veio a primeira internação da mamãe que levou tudo embora. Ficamos na lama.
— Jamie comprou tudo de volta pra mim. Ele vai passar tudo para meu nome. — Sussurrei vendo o desgosto em seu rosto.
— É ele quem está bancando as novas instalações cinco estrelas da sua mãe, suponho.
— Esteve com minha mãe? Falou alguma coisa sobre mim? — Meus olhos encheram de lágrimas. Não queria que ela soubesse do meu casamento com o Jamie. Não tinha certeza de como reagiria.
— Fui ver ela ontem. Mas não tive coragem de dar esse desgosto. — Limpei a lágrima solitária que desceu em meu rosto. — Olhe pra você. Tendo que fazer sexo com um homem sem amor, em troca de dinheiro. — Segurou meu queixo e olhou as marcas de chupadas que o Jamie deixou em meu pescoço.
— Se o seu pai estivesse vivo, teria vergonha da mulher que se tornou. Você está se prostituindo... prostituindo... — Foi como um soco no meu estômago. Ela levantou e foi embora. Sai daquele café desnorteada e se o Silveira não tivesse ali para me colocar no carro, tinha andado sem rumo pelas ruas.

Louca ObsessãoOnde histórias criam vida. Descubra agora