Capítulo 09

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Deitei na cama e puxei minhas pernas até próximo ao peito. Se arrependimento matasse não estaria viva. O casamento com o Jamie foi um erro enorme. Um erro que não tem como voltar atrás. Meu celular começou a tocar e me arrastei para pega-lo. Tinha literalmente cem ligações da Leandra e tantas mensagens no WhatsApp que fiquei com preguiça de ler tudo. Escrevi que estava tudo bem e que depois falaria com ela. O celular tocou de novo e era um número estranho. Atendi.
— Porra! Porra! Porra! — Era o Daniel. Tinha bloqueado seus contatos. Não queria falar com ele. Não agora. — O que você fez, sua idiota? Que merda de fotos são essas no Instagram do Felipe? Você estava dormindo com ele, não é? Estava me colocando um par de chifres com aquele arrogante de merda.
— Estava sim. Duas vezes transei bem gostoso com o Jaime. A primeira vez foi no banheiro do bar com você a alguns metros de distância. Ele meteu tanto e foi tão gostoso... a segunda vez foi na casa do Felipe. Fui com ele para trás da casa e ficamos nus e ele me comeu como um bicho. Ele tapava minha boca enquanto o pau entrava e saía. — Ele ouviu tudo calado. Só escutava sua respiração. — Depois dele me comer você me pediu em casamento, lembra? Tive que correr no banheiro para limpar o gozo das minhas pernas.
— Você é uma puta! Eu te pedi em casamento sua vagabunda.
— E me largou sozinha aqui. Sabia que o prédio e a casa da mamãe foi tomado pelo banco? E que estava sem dinheiro até para comer? Minha mãe seria expulsa da clínica e você nunca se mostrou interessado. Nunca. O Jamie pagou minhas dívidas e a clínica da mamãe sem que eu pedisse nada. Ele se casou comigo na primeira chance que teve. Jamie me ama muito e me trata como uma rainha. — Comecei a chorar. — Cuida de mim e diz o quanto sou importante todas as vezes que me vê. — Menti enquanto minhas lágrimas escorriam por meu rosto. — Ele me ama muito e eu também o amo.
— Não pimentinha. Você é minha! Minha para vida inteira. Pode casar com o babaca que for mas continuará sendo minha. Pode brincar de casinha com o idiota à vontade. Porque quando eu quiser você de volta, vai voltar rastejando. Como uma puta.
— Eu odeio você. Odeio mas que tudo em minha vida. E nunca mais quero ver você na minha frente seu covarde. Covarde. Covarde de merda. — Joguei o celular contra a parede e o aparelho espatifou. Jamie estava parado na porta como um maldito fantasma e imaginei que tivesse escutado tudo. Ele pegou o resto do celular e foi jogar no lixo.
— Vou providenciar outro celular para você. Com outro número. — Não olhei ou falei nada. Queria distância desse homem tanto quanto do Daniel.
— Tem algum remédio para dor de cabeça? — perguntei depois que a cabeça começou a latejar. Jamie saiu e depois retornou com um comprimido e um copo de suco. Ele me entregou e ficou parado ao lado da cama enquanto engolia o remédio.
— Você é muito importante pra mim. Mais importantes do pode imaginar. — beijou minha cabeça antes de sair. É para pirar o cabeção mesmo. Uma hora um monstro. Uma hora carinhoso. Vai se foder. Filhos da puta de merda. Escrotos do caralho. Bostas. Covardes. Mentirosos. — Xinguei tanto em minha cabeça. Queria pegar o Daniel e amarrar ao lado do Jamie e deixar os dois bem juntinhos enquanto tortura os dois. Fechei os olhos antes de ouvir as batidas na porta. Era a mãe do Jamie que entrou de fininho.
— Não quero incomodar mas o Jamie me disse que está com dor de cabeça.
— Jamie me trouxe um remédio e já vai fazer efeito.
— Você gosta de bolo? Sei que está perto do jantar mas acabei de assar um bolo na minha casa. Queria te chamar para tomar com café. — Falou com a voz vacilante. Lúcia parecia nervosa e envergonhada.
— Achei que morasse aqui.
— Jamie é muito apegado a mim, sabe? Quando disse que ele precisava se virar sozinho e que queria um lugar pequeno com varanda e flores ele construiu um chalé ao lado da casa do jeitinho que eu queria. Em Nova York como vivíamos em apartamento ele comprou os dois últimos andares e transformou em dois apartamentos com uma porta de ligação. Jamie diz que estou velha demais para viver sozinha e que precisa cuidar de mim. — Lúcia falava com muito orgulho do filho. — Ele é muito protetor. Ele é tão protetor que as vezes não consegue distinguir os limites.
— Obrigada por ter me ajudado hoje. Não sei o que teria acontecido se você...
— Jamie não teria continuado. Ele não é assim eu posso garantir a você. — Caminhou em minha direção desesperada e segurou minha mão. — Ele nunca machucou uma mulher na vida. Eu garanto a você. Foi apenas um ato de muita loucura e sei o quanto se arrepende. Ele é louco por você, menina. Louco demais. Ele não mede esforços para estar com você. Juro pela minha alma que o meu Jamie é bom. Ele é muito bom comigo.
— Ele pode ser o seu filho mas não vale nada. Jamie é um monstro maldito e pervertido. — Ela abaixou a cabeça mas não disse mais nada para defendê-lo. Lúcia se afastou ainda de cabeça baixa. — Desculpe. Não deveria falar assim do seu filho.
— Acho tão bonito você dizer que o Jamie é meu filho e me tratar como uma verdadeira mãe. Ele não é meu filho biológico, eu o criei desde bem pequeno. A mãe dele era como uma irmã pra mim. Eu a amava muito sabia? Até hoje penso nela todos os dias. — suspirou e fechou os olhos por alguns segundos. — Estou muito feliz em ser a sua sogra. Prometo ser uma boa sogra e nunca te perturbar. Nossa acho que já estou perturbando, não é mesmo?
— Não me perturba. — Bateu no colchão de leve e arrumou um pouco o lençol. — O bolo vai esfriar.
— Eu amo bolo e qualquer doce que existir. A não ser que tenha amendoim. Odeio amendoim. — Sorri para ela e pareceu ficar animada. Levantei da cama e a segui pelas escadas.
— Vou mostrar  primeiro a casa. Assim conhece tudo de uma vez. — Segurou meu braço. Jamie estava na sala e começou a gritar em russo eu acho. Ele deveria estar trabalhando pela quantidade de papel ao lado do computador. Finalizou a ligação quando nos viu. — Passou a dor na cabeça? — Aproximou e segurou meu rosto. Encostou a boca na minha e virei o rosto.
— Passou um pouco. — Ele me soltou e deu um passo para trás.
— Se não melhorar vou chamar um médico.
— Vai melhorar. — Lúcia me levou por entre a sala e mostrou onde era o escritório do Jamie, a sala de cinema, um quarto de hóspedes. Voltamos para sala e depois fomos a sala de jantar e cozinha. Tudo muito grande e bem mobiliado.
— Ali fica a academia. — Apontou para um anexo afastado da casa principal. — Jamie adora malhar mas nunca tem tempo durante o dia então faz isso na madrugada. E como gosta de ouvir o som no último volume montou a academia fora da casa.
— Certo! — Apontou para uma casa com vidros transparentes por todos os lados. Aquela é a casa do Silveira.
— Quem?
— Silveira é o motorista e segurança do Jamie.
— O fortão da cabeça raspada?
— Ele mesmo. Silveira trabalha a muitos anos com o Jamie. É quase que um amigo, sabe? — Uma amizade muito estranha diga-se de passagem. Ninguém pode ser amigo de quem recebe ordens. Caminhamos para o outro lado e vi o chalé de madeira com muitas flores em volta. Tinha um tapete na porta escrito SEJA BEM VINDO. Uma placa de madeira pendurada ao lado da porta com a palavra LAR. Muitas rosas ao redor da varanda. Simples e linda. A sala era pequena mas acolhedora com um sofá cinza e uma manta de crochê em cima. Algumas almofadas bordadas. Na mesa uma toalha branca de renda e uma boleira com tampa de renda. Parecia a casa de uma avó bem velha.
— Você que borda? — ela pegou uns pratos de cerâmica bem antiquados com duas canecas de alumínio.
— Não. Eu não sou boa com essas coisas.
— A sua casa é bem retrô. — Falei quando me dei conta de uma cristaleira de madeira encostada na parede. Lúcia sorriu e alisou a toalha de mesa.
— Eu sentia falta da minha casa na infância. Quando o Jamie falou que construiria uma casa, pedi que fosse parecida com a da minha infância. Na verdade eu quis dizer que gostaria da fachada da casa como a da minha infância. — Colocou um café na xícara para nós duas e cortou o bolo me servindo. — Ele não falou nada e voltamos para Nova York. Eu já tinha esquecido desse conversa e não imaginava que fosse levar tão a sério. Quando ele voltou para cá fui surpreendida. Ele mandou fazer uma réplica exata da casa dos meus pais. Até o cheiro é igual. — fiquei surpresa. Ele parece bom para a Lúcia. Felipe estava certo quando disse que ela é a única pessoa que consegue parar o Jamie.
— O bolo está uma delícia. E o café também. — Comi mais um pedaço por insistência da Lúcia. Na volta para casa principal bateu um medo fora do comum. Lúcia não dorme na casa do Jamie. Ela não vai escutar se eu gritar. Subi rápido para o quarto e comecei a ter uma crise de ansiedade. Fiquei andando de um lado para o outro nervosa. Na hora do jantar desci quase que em desespero. Estava chegando a hora dele dormir comigo. Pensei e rezei muito enquanto sentava a mesa. Quando o Jamie quiser transar vou ficar bem quietinha e deixar ele fazer o que tem que fazer. Não vou chorar ou pedir para para parar e também não vou sentir prazer. Não quero sentir nada de bom. Não quero ter mais nenhum orgasmo com ele. Vou ser uma pedra de gelo. Fiquei em volta com meus pensamentos quando a Lúcia chegou.
— Jamie saiu então vamos jantar apenas nós duas. Ele não vai demorar.
— Tomara que demore. — Sussurrei mais calma.
— Lúcia, eu posso fazer um pedido a você?
— Mas é claro.
— Posso dormir na sua casa hoje. — Ela ficou sem jeito.
— Jamie não vai gostar. — baixei a cabeça e acenei a cabeça concordando.
— Posso dormir aqui, se isso deixar você mais calma. — Obrigada! Vai me tranquilizar um pouco.
Jantamos em silêncio e voltei para o quarto. Tomei banho e vesti uma das suas camisas. Ele tinha mandado comprar umas camisolas transparentes ridículas. Não usaria isso pra dormir. Deitei e cochilei. Estava exausta. Acordei com o barulho de algo caindo no banheiro. Estava sem celular e não sabia as horas mas imaginei que fosse muito tarde. Levantei de fininho e fui olhar o que estava acontecendo. Jamie tentava abrir uma caixa de primeiros socorros. As duas mãos estavam ensangüentadas.
— Você matou alguém? — Ele ficou surpreso quando me viu.
— Vá dormir. É tarde. — Tentou abrir novamente a maleta mas os dedos não tinham movimento de tão inchados.
— O que aconteceu? — Entrei no banheiro e abrir a maleta. Quase vomitei quando vi a pele retorcida em meio ao sangue e uma parte branca que achei melhor não saber o que é. — Vai me dizer ou não?
— Estava na academia treinando boxe. — Mentiu.
— Isso é porque diz que não mente bla bla bla bla. Desde quando vai para academia de calça jeans e camisa social? Deve ser uma modalidade nova de academia. — Abri a torneira e coloquei a mão dele embaixo d'água. Jamie travou a mandíbula de dor mas deixou a água lavar o sangue e a terra. Passei uma pomada e enfaixei com a gase. — Tem que ir no médico fazer um curativo melhor. — Jamie cambaleou e quase não consegui sustenta-lo em pé. — Sente aqui. — Coloquei ele no vaso e notei um pouco de sangue na cabeça. — Puta que pariu. Racharam seu cuco. Vou chamar a Lúcia. Tem que ir ver esse negócio da cabeça.
— Não! Estou bem. Pode ir dormir. Vou tomar um banho e descansar um pouco. — Virei as costas e pensei mesmo em deixar ele sozinho mas não tive coragem.
— Você pode cair e se machucar mais. Lúcia não aguentaria. Ela ama muito você.
— Ela está gostando mais de você. — Gemeu quando tentou tirar a camisa.
— Fica sentado que te ajudo. — Tirei a camisa e percebi uma mancha escura na lateral do peito. Estava ficando roxa. — Foi na academia que fez isso?
— Não é nada. — Bati no braço do Jamie bem forte e ele gemeu.
— Você saiu para brigar Jamie Carter e vou contar tudo para a Lúcia.
— Foi um assalto. — Falou antes que eu saísse. Olhei para bancada da pia e a carteira com o celular estavam lá.
— Levaram alguma coisa?
— Não. É por isso que estou fodido.
— Nunca deve reagir a um assalto. Se estivessem armados...
— Você receberia o dinheiro de qualquer maneira. Não tem motivos para preocupação. — Levantou e tirou a calça jeans e cueca.
— Sente na banheira porque se você ficar tonto não tenho como sustentar seu peso. — Liguei a banheira e ele entrou e sentou. — Foi a polícia?
— Não. Não tem porque. — Peguei o chuveirinho e comecei a molhar seu cabelo. Escorreu sangue da cabeça e fiquei com medo dele morrer ali. — Não molhe o curativo das mãos.
— Porra! Isso dói. Reclamou do machucado nas costelas.
— Onde estava que foi assaltado? — Peguei um pouco de sabão e passei um pouco na cabeça dele. Lavei devagar para não machucar mais.
— Por aí. — Estava sonolento e não poderia deixar ele dormir agora.
— Espero que tenha dado uns bons tapas no assaltante.
— Coloquei os três para correrem.
— Três?! Jamie... — enxagüei o sabão e antes de afastar minha mão ele segurou e beijou. Puxei minha mão e fui pegar a roupa espalhada no chão. Uma corrente com pingente caiu do bolso da calça. Era o colar que meu pai me deu de presente. Achei que tinha entregado ao motorista de táxi. Pensei nunca mais ver. — Como conseguiu meu colar? Por favor chega de mentiras. — Falei firme.
— Descobrir quem era o motorista depois de ver as câmeras do prédio. Identifiquei a placa e fui atrás. O cara tinha vendido para outro, que vendeu para outro e achei que não encontraria mais. Ontem um vagabundou entrou em contato com o número que dei e mandou a foto do colar. Fui atrás mas era uma armadilha. E o resto pode imaginar.
— Foi sozinho? — Não respondeu mas sabia que tinha saído sem os seguranças. Coloquei o colar no meu pescoço e sentei na borda da banheira. Jamie fechou os olhos e sacudi seu ombro. — Não durma.
— Fale comigo porque estou quase cochilando. — Sussurrou.
— Fala muito bem o português.
— Sou brasileiro. — Abriu os olhos.
— Nos documentos que assinei no nosso casamento tinha americano. E não nasceu aqui.
— Tenho dupla cidadania. E a Lúcia nunca falou inglês comigo.
— Quer levantar e deitar na cama? — Antes que eu ajudasse ele levantou e saiu sozinho. Se enrolou na toalha e foi para o quarto. Fui atrás dele com medo que caísse. Jamie vestiu a cueca e começou a pegar o terno. — Onde vai?
— Trabalhar. É quase cinco horas da manhã.
— Precisa descansar. Tá maluco? Pode deitar um pouco. — Puxei a roupa da sua mão. — Não vai trabalhar hoje. Se não vai para o hospital também não vai para o escritório. — Jamie passou por mim e foi deitar. Fui para o seu lado da cama e o vi fechar os olhos e dormir. Roncou alto e revirei meus olhos. Tentei ficar acordada mas não consegui e cochilei.

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